Janeiro Branco: profissionais da saúde reforçam importância da busca por atendimento psicológico

Há mais de dez anos, janeiro é o mês do ano dedicado à conscientização sobre saúde mental. A campanha nacional do Janeiro Branco foi idealizada pelo psicólogo Leonardo Abraão, hoje presidente do Instituto Janeiro Branco, e transformada na lei federal nº 14.556, em 2023. A mobilização visa, de acordo com o próprio governo, reforçar a importância dos cuidados com a saúde mental para a população abordando “a promoção de hábitos e ambientes saudáveis e a prevenção de doenças psiquiátricas, com enfoque especial à prevenção da dependência química e do suicídio”.    

Para tanto, a campanha busca estimular o aumento na procura por atendimento psicológico, quebrando parte do estigma sobre questões ligadas à saúde mental. O foco está na prevenção e tratamento de doenças decorrentes do estresse, ansiedade, depressão e pânico. Além de considerar os aspectos sociais no adoecimento mental, também existe uma preocupação com o fator genético, que pode representar transtornos de humor, esquizofrenia e o transtorno bipolar. 

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o Brasil como o país com maior prevalência de depressão na América Latina, além de ser o segundo entre todas as Américas, atrás apenas dos Estados Unidos. Estimativa da  Organização Pan-Americana da Saúde afirma que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem com a depressão em todo o mundo. 

Quando consideramos outras questões, como ansiedade e pânico, por exemplo, os dados são ainda mais alarmantes. Relatório sobre Saúde Mental no Mundo, publicado pela OMS em 2023, uma em cada oito pessoas vive com alguma doença ou transtorno mental no mundo. Dessa forma, o cuidado com a saúde mental se torna imperativo a fim de garantir uma boa qualidade de vida. 

Em entrevista ao Jornal Opção, a psicóloga Marina Magalhães David explica: “O que podemos fazer para cuidar da saúde mental agora e sempre”, a campanha deste ano busca trazer ações de curto, médio e longo prazo que contribuam para o cuidado com a saúde mental. A profissional explica que a adesão crescente aos cuidados com a saúde mental, intensificados durante a pandemia da Covid-19, parte do pressuposto de que as pessoas têm maior “compreensão de que a saúde mental é uma dimensão da saúde”. 

Marina Magalhães David l Foto: Arquivo pessoal.

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“Psicoterapia não é para apagar incêndio”: especialistas falam sobre adoecimento e saúde mental

“Psicólogo é coisa para doido, psiquiatra é coisa para doido… não!”, a profissional rebate muitas das falas do senso comum que acabam por reforçar o tabu do tratamento da esfera psíquica. “A própria mídia, as redes sociais, a imprensa, começaram a falar mais da importância dos cuidados com a saúde mental, e isso amplificou muito essa discussão”, compartilha otimista. Marina traz como exemplo positivo alguns casos de personalidades que começaram a discutir mais abertamente sobre sua saúde mental, como o humorista Whindersson Nunes e o cantor sertanejo Zé Neto, dupla de Cristiano. 

Toda essa movimentação acaba estimulando palestras, debates e iniciativas que trazem o tema para espaços como escolas, empresas, hospitais e até para o meio institucional, mobilizando também o poder público na conscientização. Para Marina, a visão geral sobre os cuidados com o psíquico era que se destinava apenas para quem precisa, mas “hoje, as pessoas procuram psicoterapia como prevenção, como autocuidado, como um espaço para você cuidar mais de você”.

Tabu

Um dos tabus que cercam o tratamento da saúde mental é a intervenção medicamentosa. O médico residente em psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Edegar Waccholz Junior explica que “a medicação é capaz de promover um significativo alívio do quadro que o indivíduo possui”, o que possibilita um retorno a uma vida saudável. 

Entretanto, o profissional é categórico ao afirmar que a linha de tratamento envolve outros pilares, como hábitos de vida mais saudáveis e a psicoterapia, que devem ser conjugados, quando necessário, com a medicação. Além disso, Edegar adverte que “as medicações possuem efeitos colaterais, por isso, o tratamento deve ser acompanhado de um médico especializado”. 

Edegar Waccholz Júnior l Foto: Arquivo pessoal

Por fim, o médico cobra o poder público: “como profissional que atua no serviço público, vejo a grande dificuldade de acesso dos pacientes a psiquiatras e a psicoterapias”. Para ele, a atuação das forças oficiais é essencial não apenas para quebrar os tabus que cercam os cuidados psíquicos, mas também para garantir e efetivar de forma plena o direito constitucional de acesso à saúde. 

Possibilidades

A psicóloga afirma que o cuidado com a saúde mental pode se dar de várias formas. O movimento de autocuidado já pode ter impactos diretos na qualidade de vida, mas existem outros recursos. Exercícios físicos regulares, alimentação balanceada, psicoterapia e tratamento medicamentoso para quem precisa são algumas das opções elencadas pela profissional. 

Marina reforça que existe uma rede de atenção psicossocial disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Primeiramente, uma consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da sua casa é a porta de entrada para a Rede de Atenção Psicossocial do SUS (RAPS). Após a consulta com clínico geral o paciente pode ser encaminhado ao psicólogo da unidade ou pode ser direcionado para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) mais próximo.

Em página oficial do Governo Federal, é garantido que “os CAPS possuem equipes multidisciplinares voltadas para o cuidado integral de seus usuários e são divididos em atendimentos para todas as faixas etárias, para crianças e adolescentes (CAPSi) e para usuários de álcool e drogas (CAPSad)”.

Em caso de crise, é necessário ir até a emergência de algum hospital geral ou especializado em atendimento psiquiátrico. 

Vale ressaltar que existe atendimento psicológico disponível em universidades que ofertam o curso de Psicologia, por meio de clínicas escolas. O Centro de Valorização da Vida (CVV) também se coloca como uma opção para quem necessite de ajuda. São voluntários que se dedicam a das apoio emocional e prevenir o suicídio. Para entrar em contato, ligue 188. A ligação é gratuita e o serviço está disponível 24 horas por dia.

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