por Por Andreia Juliana Rodrigues Caldeira, Thais Rodrigues Oliveira, Ana Clara Diniz, Josana de Castro Peixoto, Charles Lima, Ludgero Cardoso G. Vieira e Mariana Pires de Campos Telles*
Especial para o Jornal Opção
No Cerrado, pesquisadores e comunidades ribeirinhas se juntaram para transformar conhecimento em histórias reais e materiais educativos. Os filmes que serão exibidos no tradicional “Festival Internacional de Cinema Ambiental” (FICA) 2025, realizado na Cidade de Goiás desde 1999, são resultado desse trabalho coletivo, realizado por meio dos programas “Araguaia Vivo 2030” (TWRA/FAPEG) e “PPBio Araguaia” (PUC Goiás/CNPq). Guias de pesca, professores, moradores da região e cientistas de diferentes áreas participaram da produção, contribuindo com suas vivências e saberes sobre o território. As gravações acompanharam de perto pesquisas científicas, visitas a comunidades e o dia a dia de quem vive na região, mostrando de forma autêntica os desafios e a riqueza do Cerrado.
No dia 14 de junho de 2025, às 14h, no Cine Teatro São Joaquim, na cidade de Goiás, acontecerá a estreia de três filmes que contam essas histórias. Essas exibições compõem a Sessão “Araguaia Vivo” no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) 2025, com a primeira exibição do documentário Expedição Araguaia, seguida das animações Florinha do Cerrado e A Lenda da Serra das Areias. Uma ótima chance de ver na telona tudo que foi construído com tanta dedicação por quem estuda e vive no Araguaia. Esperamos você por lá!
A realização dessas produções só foi possível graças ao investimento do Governo do Estado de Goiás, por meio da FAPEG, e do Governo Federal, por meio do CNPq. Esses recursos foram fundamentais não apenas para viabilizar as pesquisas científicas, mas também para transformar os resultados em materiais acessíveis, educativos e audiovisuais. Apoiar a divulgação científica em diferentes mídias e linguagens é essencial para aproximar a ciência da sociedade. Iniciativas como essa não só reforçam a importância da Política Nacional de Popularização da Ciência, mas também reconhecem o direito de todos ao conhecimento científico, além de estimular a participação da população nos debates sobre meio ambiente, conservação da biodiversidade, território e o futuro do planeta. Nesse sentido, agradecemos de forma especial às equipes da “Bold Studio Produtora Audiovisual e Podcast”, da “LMT Projetos e Produções” e da “Bem-te-vi Produções” pelo profissionalismo, sensibilidade e parceria em todas as etapas destes trabalhos. Desde as filmagens em campo até a finalização dos materiais, cada produtora contribuiu de maneira essencial para transformar conhecimento em linguagem acessível e inspiradora. Graças a esse envolvimento coletivo, foi possível dar voz e imagem às histórias do Cerrado e do Araguaia, refletindo com autenticidade e beleza a diversidade e a riqueza desse território.
O FICA é um dos maiores festivais com temática ambiental do Brasil e do mundo, que neste ano traz como tema “Cerrado: a savana brasileira e o equilíbrio do clima”. É um dos mais importantes eventos para a discussão e promoção de temas ambientais, cultura e arte, especialmente na região do Cerrado brasileiro. Criar narrativas audiovisuais sobre o Cerrado é quase um ato político, diante do silêncio imposto a esse bioma, que é o segundo maior do Brasil, mas que raramente protagoniza nossas telas ou nossas conversas. O Cerrado está em ameaça e poucos percebem. Desse modo, filmes que retratam o Cerrado não só exibem um trabalho, mas abrem espaço para que o cinema transforme imagem em consciência, som em memória, luz em mobilização. Estar no FICA é reafirmar o papel do cinema como ferramenta viva de transformação. Além disso, a participação na programação do festival possibilita um maior alcance dos trabalhos científicos junto ao público geral, estudantes, críticos e profissionais do audiovisual. É uma oportunidade de mostrar as pesquisas científicas e inovadoras realizadas no Programa “Araguaia Vivo 2030” e no “PPBio Araguaia” por meio das ferramentas que o audiovisual pode proporcionar. Com histórias que unem conhecimento, sensibilidade e engajamento, os lançamentos reafirmam o papel do cinema como mediador entre ciência, meio ambiente e sociedade.
O Documentário “Expedição Araguaia”
Sob direção da professora de Cinema Thais Oliveira (UEG) e da Bióloga e Professora Mariana Telles (UFG e PUC Goiás), o documentário “Expedição Araguaia” apresenta um recorte informativo e sensível sobre uma das maiores iniciativas científicas já realizadas na bacia do Araguaia. Em fevereiro de 2025, a bordo de um barco-hotel, pesquisadores de diversas instituições navegaram cerca de 3.500 quilômetros e visitaram mais de 150 lagos, promovendo um levantamento aprofundado sobre a biodiversidade local. A expedição buscou também compreender os impactos socioambientais que afetam o território, ao mesmo tempo que estimulava o intercâmbio entre ciência, políticas públicas e os saberes das comunidades ribeirinhas.
Ao acompanhar de perto as atividades de pesquisadores de diferentes universidades, o filme documenta uma rica diversidade de olhares científicos abordando temas que vão desde a biodiversidade e a saúde das águas até aspectos sociais e históricos da região. Para a professora Thais Oliveira, o filme representa mais do que um registro, ele se transforma em uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a sociedade, tornando acessíveis os desafios e potencialidades enfrentadas em um território tão vasto como a bacia do rio Araguaia: “Gravar em um barco-hotel navegando pelo rio oferece uma perspectiva única e poética da paisagem do Araguaia. A mobilidade do barco-hotel permite que a equipe acesse áreas remotas, vivencie o cotidiano das comunidades ribeirinhas e registre a dinâmica viva da natureza em sua diversidade. Esse formato de produção também simboliza a fluidez das trocas de saberes entre cientistas, moradores locais, ambientalistas e comunicadores. Todos os dias, nossa equipe acordava de madrugada para acompanhar a rotina dos pesquisadores, que partiam às 5h da manhã do barco-hotel em lanchas menores. Cada grupo seguia com uma missão específica, realizando pesquisas individualizadas por temas. Ao todo, cinco lanchas saíam diariamente para realizar coletas no rio, garantindo a abrangência e a profundidade dos dados coletados.”
Exibir o documentário em um dos maiores festivais ambientais do planeta é uma oportunidade de aproximar o público do conhecimento gerado no Programa “Araguaia Vivo” e do “PPBio Araguaia”, contribuindo para a ciência brasileira e sensibilizando sobre a urgência da preservação ambiental.
A animação “Florinha do Cerrado”
A animação “Florinha do Cerrado” (7 minutos), com direção de Charles Lima Ribeiro, Andreia Juliana Rodrigues Caldeira e Josana de Castro Peixoto, é baseada na coletânea infanto juvenil de mesmo nome. A pesquisa que originou o projeto, integra as atividades do Programa Araguaia Vivo e resulta de um trabalho que tem o Cerrado como foco principal, servindo de plataforma de discussão sobre a flora, ecologia, preservação e conservação do bioma.
A coletânea que deu origem a animação foi publicada pela Editora da UEG, organizada em forma de box, contendo um livro texto (literatura infantil) e três cadernos de atividades (educação ambiental, botânica e matemática). O livro narra a história de uma flor de ipê-amarelo (Sara) e duas abelhas (Déia e Jô), que embarcam em uma expedição pelo Cerrado com o objetivo de conhecer a flora e unir forças em defesa do bioma. As personagens buscam compreender os impactos ambientais sofridos pelo território e apontam caminhos possíveis para sua preservação. O material didático tem sido utilizado na capacitação de professores para trabalhar temas socioambientais com estudantes da rede básica de ensino na região do Araguaia.
Segundo, Andreia Juliana Rodrigues Caldeira, coordenadora da atividade 4 do projeto Araguaia Vivo e uma das autoras da coletânea e animação “Florinha do Cerrado”, “A invisibilidade botânica e do Cerrado faz com que a riqueza e a abundância de espécies biológicas presentes bioma, assim como sua importância para a manutenção do equilíbrio ecológico, ainda sejam negligenciadas. E, na perspectiva de uma educação emancipatória e para a vida, nosso projeto busca construir espaços de discussão das realidades, utilizando a alfabetização e o letramento científicos, voltado ao público infanto-juvenil, com auxílio de recursos didáticos diversos como a coletânea, jogos de tabuleiro e agora a animação “Florinha do Cerrado”.
Para a animação, o roteiro da coletânea foi adaptado, ganhou nova vida, transformando palavras em movimentos e ampliando o alcance da história. Elementos antes descritos em texto — como paisagens, personagens e emoções — passaram a ser recriados visualmente, ganhando cor, ritmo, expressão e voz. A adaptação exigiu um trabalho cuidadoso de tradução narrativa, em que cada cena foi repensada para o tempo audiovisual, respeitando a essência poética e lúdica da obra original. Com a animação, a história ultrapassa as páginas e se abre para novas leituras, tocando crianças de diferentes idades e contextos, agora através da linguagem sensível e cativante do cinema.
“Desse modo, a animação é uma oportunidade de contribuir para o conhecimento botânico, trabalhado de forma lúdica e interativa, proporcionando a sensibilização socioambiental e científica, assim como movimentos de defesa, proteção e conservação do Cerrado. É uma grande honra levar a animação para ser exibida dentro de uma sala, onde grandes nomes da ciência e do cinema estiveram fazendo cultura. Além disso, é uma oportunidade para refletirmos sobre as riquezas naturais, sociais e culturais do Cerrado, bioma- território este, muitas vezes negligenciado em produções de grande alcance. Possibilita ouvir as narrativas locais, fortalecendo a identidade regional do Cerrado no debate global sobre meio ambiente e cultura”, reforçam Andreia Juliana e Josana.
A animação “A lenda da Serra das Areias”
A animação “A lenda da Serra das Areias”, tem 8 minutos e também foi dirigida pela professora Thais Oliveira, em parceria com Larissa Melo. É derivada de um projeto que foi financiado pela Lei Paulo Gustavo, por meio da Prefeitura de Aparecida de Goiânia, e recebeu apoio do Programa “Araguaia Vivo 2030” e do “PPBio Araguaia”, para sua divulgação.
O filme tem como público-alvo crianças, jovens e adultos e busca resgatar mitos da cultura popular com o folclore brasileiro com a mensagem de destacar a importância da preservação ambiental. A protagonista da história é Vétera, uma menina curiosa que parte para um passeio com seu pai na Serra das Areias. Ao longo do trajeto, Vétera se vê guiada por forças mágicas do folclore brasileiro, que surgem no filme para revelar os perigos enfrentados pela natureza e o despertar da consciência ambiental da menina. “Nosso objetivo é unir encantamento e reflexão onde Vétera representa essa nova geração que pode aprender com a sabedoria ancestral e se tornar guardiã do meio ambiente” revela Thais Oliveira. A estética do filme celebra as belezas do Cerrado com ipês amarelos e roxos, a flor do pequi, trilhas e fauna típica. O uso do folclore como ferramenta narrativa não é apenas simbólico, mas também educativo e o filme traz figuras como Cuca e Curupira de forma atualizada, permitindo que as crianças conheçam estes personagens como protetores da natureza e não como vilões.
O lançamento no FICA 2025 marca a pré-estreia dos filmes com a missão de encantar, educar e convocar a todos a se tornarem defensores do Cerrado. Após a exibição no festival, as produções também estarão disponíveis nas redes sociais do Programa “Araguaia Vivo” (@araguaiavivo) e do “PPBio Araguaia” (@ppbio.araguaia), para que mais pessoas possam assistir, compartilhar e se inspirar com essas histórias. A proposta é ampliar o acesso ao conteúdo e fortalecer a conexão entre ciência, educação e sociedade, valorizando o Cerrado e quem vive nele!
Andreia Juliana Rodrigues Caldeira – Professora da UEG e coordenador da atividade 4 do Programa “Araguaia Vivo 2030” da TWRA e pesquisadora responsável pela educação ambiental no “PPBio Araguaia”.
Thais Rodrigues Oliveira – Professora da UEG e pesquisadora no Programa “Araguaia Vivo 2030” da TWRA.
Ana Clara Diniz – Publicitária e bolsista na atividade 4 do Programa “Araguaia Vivo 2030” da TWRA.
Josana de Castro Peixoto – Professora da UEG e da Unievangélica e pesquisadora no Programa “Araguaia Vivo 2030” da TWRA e pesquisadora no “PPBio Araguaia”.
Charles Lima – Professor da rede municipal de ensino de Anápolis-GO e da rede estadual de ensino do Estado de Goiás.
Ludgero Cardoso G. Vieira – Professor da UNB, vice-coordenador do Programa “Araguaia Vivo 2030” da TWRA e pesquisador no “PPBio Araguaia”.
Mariana Pires de Campos Telles – Professora da PUC Goiás e da Universidade Federal de Goiás (UFG), coordenadora geral do Programa “Araguaia Vivo 2030” da TWRA e do “PPBio Araguaia”.
O post Do Araguaia para as Telas: bastidores das produções que estreiam no FICA 2025 apareceu primeiro em Jornal Opção.