O partido político à esquerda com mais influência número de filiados e votos, o PT, iniciou o processo de eleições internas para definição dos comandos dos diretórios. É o primeiro passo para o avanço das articulações por alianças para a disputa das eleições presidenciais em 2026. O chamado processo de eleições diretas alimenta disputas internas das diferentes correntes da legenda e que culminará nos rumos do partido para as próximas eleições.
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Nesse contexto, a deputada federal Adriana Accorsi (PT) disse ao Jornal Opção que a construção de candidatura tanto em Goiás quanto a nível federal não necessariamente é obrigatória de ser do Partido dos Trabalhadores, mas defendeu que essa capilarização será construída orbitando a reeleição do presidente Lula da Silva (PT).

“Vencemos as eleições para presidente ampliamos nossas bancadas, tanto de deputados estaduais e federais, e objetivo é trabalhar muito para fortalecer o partido e também dialogar com outras forças políticas no sentido de garantir um palanque para o presidente Lula em Goiás e mais uma vez ampliar nossa representatividade”, disse durante o lançamento da candidatura à presidente estadual do partido.
Diálogo e corpo a corpo
A tarefa de construção das alianças junto às demais “forças políticas, democráticas e progressistas que queiram apiar o presidente Lula” vai existir, segundo Adriana, no diálogo e no corpo a corpo. “É tarefa do novo diretório a renovação das instâncias partidárias e é um momento de grande reflexão, de debate democrático interno e a partir dessas eleições é que se iniciam essas conversas”.
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A deputada também fala sobre ampliar a participação no debate das redes sociais e o trabalho de comunicação com a base que deve ser fortalecida. “Sou uma liderança de partido que gosto de estar pessoalmente nos bairros e nas cidades e acredito que o partido tem que estar presente junto a população, mostrando o trabalho do governo federal e o trabalho dos nossos parlamentares”.

Transmitido o comando da legenda, Accorsi estabelece um resultado mínimo. “Na última eleições nós ampliamos para três deputados estaduais e dois federais. Temos toda a possibilidade de ampliar ainda mais e chegar a três deputados federais e cinco estaduais”.
A terceira cadeira na Câmara dos Deputados deve ser disputada voto a voto entre Edward Madureira, vereador por Goiânia e ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e o ex-deputado Delúbio Soares.
No parlamento goiano, Fabrício Rosa, que ficou como primeiro suplente de deputado e foi eleito vereador por Goiânia pode passar a ter como endereço oficial o Park Losandes. Fará parte do diretório municipal e estadual.
Entregas
A ampliação do palanque para o presidente Lula em Goiás pode capitalizar inclusive entre a descapitalização natural da base de Ronaldo Caiado (UB), como pleiteiam membros da legenda. Com duas cadeiras em disputa no Senado Federal e a sinalização de que a base contará com apenas dois candidatos, sendo a primeira vaga já definida e a segunda com preferência, o PT sonda partidos de centro e da centro-direita.
“Peguei o comando do partido em 2017, o momento mais difícil da nossa história porque houve o golpe na presidente Dilma [Housseff], uma ofensiva muito grande da extrema direita e conseguimos chegar a 191 diretórios, mais comissões provisórias e uma presença em 90% do Estado”, diz. Ela reforça que apesar de um estado “que todo mundo canta em verso e prosa que é conservador” o partido passou a ter representação em Aparecida de Goiânia, eleger dois deputados federais e chegar a três deputados estaduais.

Kátia pontua que o presidente Lula terá um palanque forte em Goiás, tendo em vista a estrutura que o partido formou no estado, mas que outras alianças podem fortalecer essa estrutura. “Não sei se vai ser com o PT ou se vai se ter com a aliança, porque esse é o debate que vamos fazer depois desse processo de eleições internas”.
“Então existe campo pra gente poder construir, recuperar essa questão da imagem, porque, por exemplo, INSS, o Bolsonaro montou todo o esquema de corrupção, de dar o cano, golpe nos aposentados e nós precisamos mostrar isso pras pessoas”.
Em balanço sobre o mandato que finda na segunda metade do ano, a vereadora Kátia Maria (PT) cita a reestruturação da legenda como a ampliação dos diretórios municipais, a conquista das prefeituras da Cidade de Goiás, com o prefeito Anderson, Itapuranga, com Paulinho Imila e em Professor Jamil, de Ney Fábio de Novaes.
Nomes
Nomes? Muito cedo, a um ano das convenções partidárias, onde as definições são sacramentadas, tudo o que se tem são diálogos. Cogita-se, por exemplo, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), na disputa pelo governo estadual. Enfrentaria Daniel Vilela (MDB) e possivelmente Wilder Morais (PL). Para a deputada estadual Bia de Lima (PT), a divisão da direita e centro-direita em Goiás e na disputa pela presidência da República é positiva.
“Pimeiramente assim, a gente tá torcendo pra direita esfacelar e ter muito candidato. Para nós é excelente. Tomara que tem uns três, quatro candidatos. Quem são? Muita água vai passar debaixo dessa ponte. Acho que até mesmo o governador Caiado não será. Ele tá correndo atrás, fazendo críticas ao Lula e nessa serara eu aceito debate com zelo”, aposta.

Ela argumenta que o Governo Federal tem muitas entregas como a melhora na qualidade de vida e na economia do país, com perspectivas melhores de educação e salários melhores, mas aponta que a comunicação ainda é um desafio. “Houve uma diminuição no valor do diesel e da gasolina, com a Petrobras batendo recordes de arrecadação. O agronegócio está abrindo novos espaços e mercados para produtos como carne, soja e milho. Não se observa nenhum setor em efervescência de contrariedade nem mesmo entre grupos historicamente oposicionistas, como os caminhoneiros, devido à redução do preço do diese”, diz.
A parlamentar cita ainda a ampliação da faixa de insenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, ainda em disputa no Congresso Nacional, mas pautado pelo presidente Lula, e a criação da Tarifa Social de Energia Elétrica. “O programa AlfaMais, que é o governo federal e entregou prêmio em Goiás sem citar hora alguma o nome do presidente Lula, mesmo mais de R$ 75 milhões destinados para o programa. São as obras do PAC, o Programa Pé de Meia, o hospital de Catalão que foi assumido pelo Ministério da Educação e será um hospital escola importante para o Estado”, pontua.
Cesar Donizete, ex-presidente do PT, diz que tanto a Federação quanto as alianças com os partidos de esquerda e centro-esquerda podem entrar na disputa majoritária. “Esse é o momento da preparação e nosso desafio é fazer o dever de casa. Temos bons nomes e capacidade montar boas chapas e a tendência, por exemplo, da Kátia e do Fabrício é de terem mais votos, Mauro Rubens também deve aumentar os votos para deputado federal e fortalecer a chapa. Não é um sonho fazer três federais e cinco estaduais, é um planejamento junto com outras candidaturas de todas as regiões de Goiás”, argumenta.

Sobre a articulação majoritária, ele aponta que essa é uma articulação nacional, mas que o diretório defende que as alianças sejam amplas. “O que a gente precisa é de alguém que apoia o Lula, não temos preconceito com isso. Queremos ampliar o máximo possível do ponto de vista da Federação e do PT”, diz.
Uma das icógnitas para o Senador é o nome de Jorge Kajuru (PSB). Tem reclamado, com razão, da preferência de distribuição de recursos a quem considera seu principal adversário em 2026: Vanderlan Cardoso (PSD).
Disputa nacional
Se em 2022 a máxima era derrotar a extrema direita e o bolsonarismo, com a derrocada do ex-presidente mesmo no poder, o foco agora é a reeleição do presidente Lula (PT) e a ampliação das bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, ainda que este último mais tímido que o segundo. Para isso, membros do partido defedem uma acertividade na comunicação para fazer chegar os resultados do governo Lula III à base, além da superação dos índices de reprovação revelada por pesquisas recentes, como a Genial/Quaest.
A nova direção nacional do PT deverá definir, por exemplo, se permanecerá ligado ao PCdoB e PV por meio da Federação Brasil da Esperança. A expectativa é que sim, a federação deve prosseguir por mais quatro anos, já que os resultados, segundo integrantes da federação foram positivos e fortaleceu as três legendas. O diretório tem outra missão: ampliar os pactos para as eleições que vem, com vistas acrescentar mais uma ou duas legendas na federação.
O PSB, por exemplo, que chegou a negociar em 2022 a composição na federação, já tem conversas abertas no âmbito federal. Cidadania, que apesar de em Goiás estar sob a tutela do presidente da Alego, deputado Bruno Peixoto, que é do União Brasil, mas mantem influência na legenda, tende a buscar um caminho mais progressista para 2026. Qualquer aliança nesse sentido muda completamente o cenário em Goiás, haja vista esse domínio de centro-direita sob o partido.
Candidatos na disputa pelo diretório nacional do PT se colocam em diferentes batalhas. Valter Pomar aponta que os obstáculos externos são a “extrema direita, o fascista”, a “direita tradicional gourmet” e o poder econômico do agronegócio e do capital financeiro, e internos, inerentes ao próprio partido. Pomar argumenta que o partido, adaptando-se ao sistema político e com o foco nas disputas eleitorais fez com que o partido se descaracterizasse ideologicamente,
Romênio Pereira, advoga que o partido deve reafirmar seu compromisso com o socialismo e garantir mais atenção aos pequenos e médios municípios. Pereira também defendeu uma distribuição mais justa de recursos entre parlamentares federais e estaduais, propondo um “orçamento participativo no fundo eleitoral”. O dirigente cobrou do governo uma postura “mais dura no ataque à política de juros” e expressou a sensação de que o PT, tendo ganhado “pela esquerda”, está jogando pelo centro e pela direita.
Para Rui Falcão, o partido deve se voltar aos seus princípios fundadores como a luta anticapitalista e garantir mais atenção à base. Falcão defende a tese de orçamento participativo e lamenta a falta de engajamento do PT em bandeiras como a redução da jornada e a taxação dos super-ricos, apesar do apoio presidencial. Alertou que, sem mobilização popular e a retomada da tradição de luta, a reeleição de Lula corre risco. Para o petista, a atual correlação da forças no Congresso pode empurrar o PT a “encampar o projeto deles” ou ser abandonado por aliados em 2026.
Já Edinho Silva, candidato do presidente Lula ao comando do PT e mais provável sucessor de Gleisi Hoffman, aponta que a conjectura atual da política externa e interna, tanto do partido quanto do país, é o momento mais difícil para a esquerda desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, a ascensão global de estados inspirados no facismo e a organização da extrema-direita no país é o principal foco de atenção do partido e das esquerdas nacionais.

Silva argumenta que a reeleição do presidente Lula é o centro da estratégia para 2026, juntamente com a defesa de um orçamento com participação popular, em contraponto às chamadas emendas parlamentares impositivas. “Nós, que queremos construir o socialismo todos os dias, temos de dizer que há urgência climática, e que nós queremos produzir riqueza em uma nova forma de produção”.
Ex-presidente do Cidadania, hoje superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Gilvan Felipe defende a tese de uma legenda mais à esquerda, embora a realidade do partido em Goiás seja outro. Primeiro, a federação com o PSDB ainda vigora oficialmente, embora ambas as legendas busquem novos ares. O PSDB, por sinal, falhou nas negociações com o Podemos. Por outro lado, o Cidadania busca a federação com o PSB.
Questionado sobre o destino do partido em Goiás, Felipe diz que depende da intervenção nacional para levar o partido rumo a uma linha mais progressista e chamou a influência de Peixoto de “sequestro” da legenda. “Se vingar a federação com o PSB o partido terá um novo rumo em Goiás, mas se não houver tem sempre a alternativa de seguir para outra legenda, como o PT, por exemplo”, disse.
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