Fuzileiros invadem Los Angeles no 4º dia da guerra de Trump contra imigrantes

No quarto dia dos protestos contra as operações de imigração de Trump, Los Angeles amanheceu ocupada. 700 fuzileiros navais chegaram à cidade, somando-se aos 4 mil soldados da Guarda Nacional já mobilizados. O objetivo oficial seria “proteger propriedades federais” (Comando Norte dos EUA). Segundo o Pentágono, o custo previsto para para 60 dias de operação é de US$ 134 milhões.

A escalada militar desencadeou uma guerra política de alcance nacional: No Capitólio, a deputada Betty McCollum (Democrata/MN) atacou o secretário de Defesa Pete Hegseth em audiência: “Fuzileiros navais em solo americano é escalada perigosa e ilegal!”

A chegada dos Marines a Los Angeles ocorreu após um domingo de confrontos violentos em Compton e Paramount, onde a polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar multidões. Autoridades locais denunciaram ações descontroladas.

Quarto dia: militares chegam e protestos se espalham

Na madrugada de segunda-feira (9), o presidente Donald Trump ordenou o envio dos fuzileiros navais para Los Angeles, alegando necessidade de “restabelecer a ordem” após quatro dias de confrontos entre manifestantes anti-imigração e forças federais. A medida marca a primeira vez que tropas regulares do Exército são mobilizadas para operações internas desde, mesmo com a oposição de governos locais.

As ações de imigração da ICE (polícia de imigração) nos últimos dias resultaram em mais de 150 prisões e a detenção de trabalhadores em fábricas de vestuário e lojas como a Home Depot em Paramount. Com isso, manifestações em solidariedade aos presos se espalharam para São Francisco, Dallas, Austin e Nova York, com centenas de pessoas exigindo o fim das deportações em massa.

Em São Francisco, um protesto pacífico degenerou em confrontos, resultando em 150 prisões no domingo, após a polícia usar munições consideradas menos letais; a segunda-feira teve protesto “maior e mais calmo”, segundo o prefeito Daniel Lurie.

Em Nova York, milhares marcharam diante da sede da ONU, exigindo que organizações internacionais condenem as deportações. Manifestantes se sentaram pacíficamente na Trump Tower, sede das empresas do presidente, o que terminou com 24 detidos.

Em Austin, a cidade menos conservadora do Texas, estudantes universitários bloquearam rodovias em apoio a famílias separadas pelas batidas da ICE. O governador texano Greg Abbott anunciou prisões após confrontos: “Protestar é legal, mas há limites”.

Em Santa Ana (CA), agentes federais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.

Enquanto tanques patrulham LA, o conflito migratório tornou-se o novo front da guerra cultural americana – com tropas federais como atores políticos e estados democratas travando batalhas jurídicas. O destino de milhares de imigrantes agora depende desta disputa de poder.

A oportunidade política

Líderes democratas intensificaram críticas ao presidente, classificando suas ações como “ataques à autonomia estadual e aos direitos humanos”.

O governador democrata Gavin Newsom (CA) reagiu às decisões unilaterais do republicano Donald Trump: “Abuso flagrante de poder!” Newsom processou o governo federal pela tomada ilegal da Guarda Nacional californiana, preparando outros governadores democratas para se rebelarem. “Trump fabrica crises para justificar autoritarismo. Ele não quer combater o crime. Quer usar a Califórnia como laboratório para sua agenda autoritária”.

Trump respondeu em sua rede Truth Social: “Sem as tropas, LA teria sido obliterada”, e sugeriu prender Newsom: “Deve ser tarado e emplumado!”

Nancy Pelosi, deputada da Califórnia, afirmou que “Trump está transformando cidades em zonas de guerra para mobilizar sua base eleitoral.”

O mesmo acontece com prefeituras que entraram em alerta: Eric Adams (prefeito de NY) avisou: “Violência como em LA não será tolerada aqui”, após as prisões em frente à Trump Tower.

A cidade de Glendale rompeu acordos com a ICE para abrigar detentos imigratórios, enquanto sindicatos locais organizaram paralisações em apoio aos presos.

Governadores de Nova York e Illinois ofereceram asilo a imigrantes detidos caso a ICE tente deportá-los.

O líder sindical David Huerta, preso em LA, tornou-se símbolo da luta imigrante após pagar fiança de US$ 50 mil.

Reviravolta na Prefeitura de Los Angeles

A prefeita de Los Angeles Karen Bass acusou: “Trump criou o caos com as rusgas migratórias”. Com a militarização dos confrontos se espalham por bairros como Little Tokyo graffitis antigovernamentais, escombros de carros queimados e lojas saqueadas.

Karen Bass transformou o caos em capital político. Sua estratégia parte de visitas a locais de rusgas, além de críticas diárias a Trump e a defesa dos imigrantes “aterrorizados“. Com isso, conseguiu a reviravolta após o enorme desgaste com incêndios florestais (49% de rejeição). Sua postura antifederal elevou sua popularidade entre democratas. “Trump não veio aqui para proteger ninguém. Ele trouxe soldados para fabricar caos e punir um estado democrata”, argumentou ela.

“Bass virou a defensora de uma cidade sitiada. É seu momento”, afirmou o analista político Fernando Guerra.

Guerra de narrativas: fake news e “insurreição”

Trump rotulou os manifestantes de “insurrecionistas” – termo que permite invocar o Ato de Insurreição de 1807 (uso de tropas contra civis). Enquanto isso, a desinformação viralizou: Fotos falsas com imagens de filmes (“Trovão Azul”) e protestos antigos (2020) foram compartilhadas como “cenas atuais em LA”. Teorias conspiratórias se espalham de que George Soros seria o responsável por financiar protestos. Até a Rússia entrou na jogada com influenciadores pró-Kremlin amplificando narrativas de “conspiração liberal”.

O ator James Woods e a deputada Lauren Boebert (CO) lideraram campanhas online contra Newsom e os imigrantes.

A resposta diferenciada a protestos revela o manual político trumpista. Quando os protestos são de esquerda, em defesa da imigração e dos direitos raciais, ele qualifica como “invasão de criminosos” invocando a “necessidade de força militar”. Mas se refere a um “dia de amor” com “patriotas injustiçados”, em relação a protestos de direita como a violenta invasão do Capitólio em 2021.

O ex-assessor e ideólogo da extrema-direita Stephen Bannon celebra a postura de Trump como a consolidação de um tema com o qual venceu em 2024.

A crítica internacional

Claudia Sheinbaum, a presidente do México criticou o alvo preferencial em famílias de origem mexicana (e latinos, em geral). “Pedimos respeito ao devido processo legal”, apelou, após a detenção de cidadãos mexicanos em operações arbitrárias.”

Na televisão, proliferam depoimentos como o de Elizabeth Torres, 36 anos, moradora de Los Angeles: “Minha família veio do México há 30 anos. Hoje, sinto que estamos sendo tratados como criminosos por existir.”

O legado de uma crise fabricada

A escalada de Trump na Califórnia revela uma estratégia de confronto político que prioriza retórica de segurança nacional sobre soluções reais:

  • Abuso de poder : A federalização da Guarda Nacional e o uso de tropas regulares violam precedentes constitucionais e geram questionamentos sobre a separação de poderes.
  • Impacto eleitoral : Embora possa reforçar sua base conservadora, a política anti-imigração arrisca alienar eleitores independentes preocupados com violência institucional.
  • Riscos jurídicos : A ACLU (American Civil Liberties Union) e outros grupos iniciaram ações legais contra a ICE, alegando violações de direitos à livre expressão e ao devido processo.

Os quatro dias de conflito em Los Angeles não são um episódio isolado, mas parte de uma agenda mais ampla de polarização e repressão. Ao enviar Marines para conter protestos e expandir deportações, Trump redefine os limites do poder federal — e testa a resiliência das instituições democráticas. Enquanto governadores e prefeitos resistem, a batalha por direitos imigratórios se torna um campo de guerra simbólico, onde o futuro da política americana será decidido.

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