Crise climática pode cortar até 34% da economia global até 2100

A conta da inação climática chegou — e ela é brutal. Um novo relatório conjunto do Boston Consulting Group (BCG), da Universidade de Cambridge e do climaTRACES Lab traz uma advertência dura aos líderes globais: se o mundo continuar na trajetória atual de aumento de temperatura, o prejuízo econômico pode atingir até 34% do PIB acumulado até o fim do século.

A pesquisa, divulgada em março deste ano, revela que manter o aquecimento global abaixo de 2 °C exigirá investimentos adicionais equivalentes a 1% a 2% do PIB global até o fim do século. Parece muito, mas o custo da inação, de 11% a 27% do PIB — o equivalente a três vezes os gastos globais com saúde no período — torna qualquer hesitação uma aposta perigosa.

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Entre os principais motores desse colapso econômico estão a queda na produtividade e a perda de capital — não apenas físico, mas também natural e humano. O estudo estima que os investimentos necessários para mitigar e adaptar as economias às mudanças climáticas precisarão crescer nove vezes em mitigação e 13 vezes em adaptação até 2050.

“O custo da inação é invisível hoje, mas será brutal no longo prazo”, alerta Annika Zawadzki, sócia do BCG e coautora do estudo. Segundo ela, a justificativa econômica é “clara e urgente”, mas ainda pouco compreendida pelos formuladores de políticas. As perdas futuras não são apenas previsíveis, mas evitáveis.

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Outro ponto crítico revelado é a desigualdade na distribuição dos custos e benefícios da ação climática. Países em desenvolvimento, frequentemente os mais vulneráveis, arcam com impactos maiores e contam com menos recursos para reagir. Isso exige, segundo os autores, uma cooperação internacional mais robusta, políticas climáticas nacionais fortalecidas e maior transparência sobre os custos reais da inação — algo ainda distante, apesar dos compromissos do Acordo de Paris.

Brasil: epicentro climático e peça-chave na agenda global

O Brasil está em uma encruzilhada crítica. Embora historicamente tenha emitido menos que os grandes países industrializados, os efeitos das mudanças climáticas sobre o país podem ser dramáticos — e custosos. A floresta amazônica, por exemplo, corre risco real de colapso parcial até 2050, o que poderia transformá-la em savana e liberar até 110 gigatons de CO₂, agravando ainda mais o aquecimento global.

Como se não bastasse, se o país continuar na trajetória atual, ele pode, no mesmo período, perder até 18% do seu PIB e isso equivale a cerca de R$ 1 trilhão por ano — valor comparável à metade de todo o gasto anual com saúde no país. As principais causas dessas perdas incluem a maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas no Nordeste, inundações no Sul e aumento do nível do mar em áreas costeiras. Segundo o estudo, “o Brasil, com sua vulnerabilidade climática e dependência de recursos naturais, está entre os países mais expostos aos impactos econômicos do aquecimento global”.

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Por outro lado, o relatório destaca que o Brasil, como país com vastos recursos naturais e papel central no equilíbrio climático, também tem uma oportunidade estratégica: liderar a transição verde. Com vasto potencial em energias renováveis, agricultura de baixo carbono e bioeconomia, o país tem ativos estratégicos para atrair investimentos e construir uma economia mais resiliente e sustentável.

A realização da COP30 em Belém, em novembro, será palco para que o país reforce sua posição como protagonista ambiental global — ou desperdice a chance de moldar um novo paradigma econômico sustentável. “O Brasil pode ser ao mesmo tempo uma das maiores vítimas e um dos maiores líderes na ação climática global”, resume Kamiar Mohaddes, coautor do estudo.

O relatório é um chamado urgente para que governos e empresas tratem o clima como um ativo econômico estratégico. Porque, como conclui o professor Mohaddes: “Estamos quentes demais para pensar direito, mas frios demais para entrar em pânico. É hora de agir com razão e ambição.”

A íntegra do estudo pode ser lida aqui.

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