O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, iniciou nesta terça-feira o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro na ação penal que trata de uma tentativa de golpe no país. Esta é a primeira vez que Bolsonaro e Moraes ficam frente a frente em uma audiência na Primeira Turma da Corte para responder a questionamentos sobre a trama golpista. O ex-presidente e o ministro do Supremo já estiveram na mesma sala durante o julgamento da denúncia, em março deste ano, mas não interagiram.
O interrogatório ocorre no âmbito da ação penal que avalia se Bolsonaro e outros sete réus, o chamado “núcleo crucial”, planejaram um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula no fim de 2022. Eles são acusados dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As informações são do Jornal O Globo.
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Desde a semana passada, Bolsonaro tem demonstrado grande expectativa com o encontro. Ele disse “estar muito feliz” com o depoimento e que seria “uma oportunidade de esclarecer o que aconteceu”. Ao chegar ao Supremo nesta manhã, ele afirmou que pretende mostrar vídeos e, se depender dele, “serão horas” de oitiva.
Quando foi intimado a falar sobre a trama golpista na Polícia Federal, em fevereiro de 2024, Bolsonaro optou pelo direito de ficar em silêncio.
A Procuradoria-Geral da República acusa Bolsonaro de ter liderado uma conspiração golpista, que começou em 2021 com repetidos questionamentos à confiabilidade das urnas eletrônicas.
A partir de então, escreveu a PGR, o presidente “adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional”. Após perder as eleições de 2022, o ex-presidente teria começado a articular uma trama para evitar a posse de Lula. Para isso, ele teria participado da formulação e edição de minutas golpistas que previam prisão de autoridades, a realização de novas eleições e uma intervenção militar.
A PGR ainda afirma que Bolsonaro estava a par do plano Punhal Verde e Amarelo, que, segundo as investigações, previa “neutralizar” o ministro Moraes, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin.
Nesta segunda-feira, Bolsonaro viu o seu ex-ajudante de ordens – o tenente coronel Mauro Cid – dizer que ele editou o decreto golpista.
De acordo com Cid, que depôs na condição de “réu delator”, Bolsonaro “enxugou” o documento, mantendo a determinação de prisão de Moraes, mas excluindo o nome de outras autoridades, como o do então presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e demais integrantes da Corte, listados em versão anterior. Ainda de acordo com Cid, Bolsonaro não aceitava a derrota nas urnas e tentava “encontrar” indícios de fraudes para anular o pleito.
— De certa forma, ele (Bolsonaro) enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Moraes) ficaria como preso — disse Cid no interrogatório desta segunda-feira.
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