Los Angeles viveu no domingo, 8, seu terceiro dia consecutivo de intensos protestos contra as operações do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), marcados por confrontos com a polícia. Apesar dos apelos do governador Gavin Newsom por calma e do reconhecimento de que os atos começaram pacificamente, a Guarda Nacional foi convocada para conter o que Trump classificou como “protestos da esquerda radical”.
Desde a sexta-feira, 6, a cidade está tomada por manifestantes que reagem às batidas migratórias, responsáveis pela prisão de ao menos 118 pessoas, entre elas uma líder sindical. As ações do ICE, concentradas em bairros com forte presença latina, deflagraram uma onda de indignação.
A tensão atingiu o ápice no fim de semana, quando as forças de segurança usaram bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os protestos em locais como o centro de Los Angeles, Paramount e Compton.
Imagens do tumulto mostram soldados da Guarda Nacional posicionados com escudos e armamento pesado, enquanto agentes federais e policiais locais reprimiam civis que, em muitos casos, apenas pediam “liberdade para todos” e o fim das deportações. “Todos aqui querem paz”, afirmou a manifestante Anna Benedict ao LAist. “Estamos aqui há um bom tempo e ninguém está ameaçando a Guarda Nacional. Todos estão apenas defendendo sua própria liberdade.”
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Contudo, a resposta das autoridades foi implacável. No bairro de Paramount, o ar ficou tomado pela fumaça e pelo gás lacrimogêneo lançado do lado de fora de uma loja da Home Depot, onde se concentraram centenas de pessoas. Oficiais do Condado de Los Angeles atiravam granadas de efeito moral a cada poucos minutos. Moradores relataram que migrantes se barricaram dentro de comércios, temendo serem levados durante os confrontos.
Confira vídeo:
No domingo à noite, novas mobilizações se espalharam pela cidade, especialmente nas imediações do Centro de Detenção Metropolitano, onde parte dos imigrantes detidos estavam presos. Segundo postagens nas redes sociais da Divisão Central do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD), foram registrados ataques com “concreto, garrafas e outros objetos” contra os policiais, o que motivou a repressão. Vídeos registraram a polícia lançando bombas de fumaça, enquanto soldados empunhavam cassetetes e avançavam sobre a multidão.
Apesar da repressão, os protestos não diminuíram. Pelo contrário, uma “mobilização massiva” foi convocada para às 18h (horário de Brasília) do domingo em frente à prefeitura de Los Angeles. Muitos manifestantes portavam cartazes com frases como “direitos plenos para todos os imigrantes” e “parem as deportações”. A rodovia 101, uma das mais importantes da cidade, chegou a ser totalmente bloqueada, com relatos de que até carros autônomos da Waymo, empresa da Alphabet (dona do Google), foram incendiados.
O presidente Donald Trump, por sua vez, reforçou o tom autoritário. Em publicação nas redes sociais, acusou os protestos de serem organizados por “instigadores e, muitas vezes, arruaceiros pagos”. Disse ainda que os Estados Unidos não seriam “dilacerados como foram sob Biden” e prometeu espalhar tropas “por toda parte”.
De acordo com Diana Crofts-Pelayo, vice-diretora de comunicações do governador Newsom, cerca de 300 soldados da Guarda Nacional já estavam posicionados em três pontos estratégicos de Los Angeles na manhã de domingo.
A presença militar causou forte indignação entre as lideranças locais. “Não tínhamos problemas até Trump se envolver”, escreveu o governador Newsom no X (antigo Twitter). “Isso é uma violação séria da soberania estadual, inflama tensões enquanto retira recursos de onde eles realmente são necessários.” Ele também classificou as ações como “cruéis” e pediu que a mobilização fosse revogada pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth, que, por sua vez, indicou que até mesmo fuzileiros navais de Camp Pendleton estão em alerta máximo.
A repressão não ficou restrita a Los Angeles. Em São Francisco, no domingo à noite, a polícia prendeu 60 pessoas e registrou ao menos três policiais feridos durante confrontos relacionados aos protestos contra as operações do ICE. A insatisfação com as prisões e deportações se espalhou ainda por cidades como Minneapolis e Chicago, ampliando o cenário de tensão nacional.
Durante o fim de semana, dezenas de vídeos circularam nas redes sociais mostrando a repressão em tempo real. Muitos manifestantes filmaram os rostos e os crachás dos policiais. Um deles, Eli Lockwood, afirmou ao LAist: “Temos que nos manter unidos contra os ataques à comunidade imigrante porque um ataque a um de nós é um ataque a todos nós.”
De acordo com o Los Angeles Times, ao menos 27 pessoas foram presas apenas no domingo, em um dia de protestos que começou pacífico, mas rapidamente escalou após a chegada das tropas federais. Além das prisões na capital californiana, outras 17 foram registradas pela Patrulha Rodoviária da Califórnia na rodovia 101, totalizando 44 detenções na sexta-feira e 118 ao longo da semana.
A gravidade da mobilização federal sem o consentimento do estado chamou atenção de especialistas. Kenneth Roth, ex-diretor da Human Rights Watch, lembrou que essa é a primeira vez desde 1965 que um presidente envia tropas da Guarda Nacional sem pedido de um governador.
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