“A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas.” Não tive como não abrir esta crônica com esta frase do excelso alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832). Imagino que, ao criar esta bela frase metafórica, ele certamente estava lendo o nosso maravilhoso poeta Manoel de Barros, cujos versos colhia nas folhas da natureza. Brincadeira poética à parte, faz-se necessário citar que, além de sua produção literária (enquanto fenômeno estético), Goethe também se enveredou no campo da ciência natural.
Em seu livro “História dos meus estudos botânicos”, cita, com certo descontentamento, que é conhecido como poeta há mais de meio século em seu país e no estrangeiro, mas que seu trabalho voltado “à natureza em seus fenômenos físicos e orgânicos de modo geral (…) não é tão levado em conta e muito menos ainda com a devida atenção”. Goethe provavelmente ficaria muito mais triste nos dias de hoje com situação de desatenção por que passa o mundo em relação à natureza. Tem gente que até hoje chama folha seca de planta de lixo, mas isso é um grão de areia. Há coisas bem mais graves acontecendo (algumas até letais).
Nossa selvageria gananciosa cada vez mais avança na destruição do meio ambiente. Em nossa trama diabólica de poluir água, solo e ar, de depredar recursos naturais, de extinguir milhares de espécies de plantas e bichos, entre outros males, estamos forjando um processo lento de suicídio. Nossa cegueira suicida nos faz acreditar que a nossa casa é o amontoado de tijolos e telhas sob o qual vivemos com um automóvel da hora na garagem (muitas vezes com um adesivo no vidro traseiro dizendo “Presente de Deus”. Nossa verdadeira casa é a Terra. Afinal, o oxigênio que entra em nossa janela vem das florestas, a água que escorre em nossa torneira vem do rio, a chuva que molha nossa horta e nosso pomar vem da água que as árvores absorvem do solo e levam para as nuvens.

No bojo dessa extinção de milhares de espécies, estão as abelhas. E elas entram no assunto pelo fato de o dia 20 de maio ser o Dia Mundial das Abelhas. Eu, inclusive, já falei delas aqui, numa crônica publicada em janeiro de 2023 – “As flores não vão até as abelhas, mas os agrotóxicos sim e as dizimam”. Outro fato também entra em consideração neste texto miúdo: a construção do primeiro meliponário em Goiânia, cuja inauguração aconteceu justamente no dia delas. E ele foi construído no Parque Bernardo Élis numa parceria entre a Prefeitura de Goiânia e o Governo do Estado de Goiás.
FELIZMENTE, a construção do meliponário pôs um ponto-final num ato ambientalmente insano que vinha ocorrendo. Antes, as colmeias de abelhas silvestres (as que não têm ferrão e assim não oferecem perigo às pessoas) encontradas nas árvores que eram extirpadas nos parques, praças e ruas não tinham uma destinação ambientalmente correta. Melhor dizendo: não havia nenhuma destinação. Eu mesmo já vi (com esses olhos que a terra há de comer) uma sibipiruna já bem idosa (e na iminência de queda) ser extirpada no Bosque dos Buritis, e a colmeia de jataí no tronco dela ficar jogada no chão.
A Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), em sua parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, presta um grande serviço na criação desse meliponário. Afinal esses seres pequeninos têm um papel vital para a vida do planeta. Dentro dos agentes bióticos de polinização, elas são os principais animais. Ao papel que lhes cabe dentro da natureza, em suas visitas às flores em busca de pólen e néctar como alimento, elas misturam os órgãos sexuais das flores. Isso, portanto, resulta em fecundação, que resulta na produção de frutos e sementes e assim promove segurança alimentar e a biodiversidade.
Vida longa às abelhas: os seres mais importantes do planeta!
Sinésio Dioliveira é jornalista, poeta e fotógrafo da natureza
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