O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vendeu, ainda no primeiro mandato (2017-2021), a ideia de tornar a América grandiosa novamente. O plano perdura para a segunda passagem do empresário pela Casa Branca, iniciada em fevereiro deste ano, agora acrescido do plano de “tornar a América saudável novamente”.A personificação desse projeto é o secretário de saúde Robert Kennedy Jr., que foi candidato na corrida presidencial de 2024. Sua campanha era ancorada no slogan “make America healthy again”, que pegou carona no “make America great again” de Trump.Mas a ideia de saúde de Kennedy é controversa, para dizer o mínimo. Em 2023, ele disse que a obrigatoriedade da vacina de Covid-19 em escolas, igrejas e empresas deixava os americanos com menos liberdade que judeus sob o regime nazista.Segundo o jornal New York Post, ele afirmou que o coronavírus Sars-CoV-2 mirava caucasianos e negros e que chineses e judeus ashkenazi seriam mais resistentes às infecções.Sob seu comando, a saúde americana já sentiu o impacto do posicionamento antivacina. Ao menos 732 casos de sarampo foram confirmados no país —677 ligados a surtos e 55 casos isolados.A fronteira entre o Texas e o Novo México concentra a maior quantidade de casos do país, com ao menos 541 infectados, entre eles 530 adultos e crianças que não foram vacinados. Cerca de 56 pessoas foram internadas para tratamento e duas crianças morreram. São as primeiras mortes por sarampo nos EUA em uma década.A doença havia sido erradicada no país em 2000, com algumas altas pontuais —caso de um surto em 2019, ligado às comunidades judias ortodoxas em Nova York, que são contrárias à vacinação.O discurso de Kennedy é dúbio: em março ele disse à Fox News que as melhores defesas contra doenças crônicas e infecciosas são a boa nutrição e o consumo de vitaminas. Sob comando do secretário, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) endossou o uso de vitamina A como tratamento para o sarampo.O mesmo CDC anunciou, em março, que faria um estudo sobre os possíveis vínculos entre vacinação e autismo. A existência de uma relação causal entre as duas coisas é defendida pela comunidade antivax, que vê um aliado em Kennedy. Não se sabe se ele está envolvido na pesquisa.A relação entre vacinas e autismo tem suas origens em um estudo britânico do fim dos anos 1990, levado a cabo pelo pesquisador Andrew Wakefield, em que ele conecta o aumento dos casos de autismo com o uso da vacina tríplice para sarampo, caxumba e rubéola.Dados do CDC mostram que os casos de autismo aumentaram nos EUA, saindo de 1 em cada 150 crianças em 2000 para 1 em cada 31, mas especialistas afirmam que o aumento se deve à melhora nos diagnósticos.Com o aumento de casos de sarampo e as mortes, Kennedy passou a recomendar publicamente a vacinação a partir de 7 de abril e foi duramente criticado por seus apoiadores.A causa antivacina não é a única defesa apaixonada do secretário de saúde. Ele é um grande crítico dos ultraprocessados —produtos formados com fragmentos de alimentos por meio de processos industriais que não podem ser replicados em casa.Em janeiro, o secretário de saúde foi ao Senado dos EUA defender que o crescimento no consumo de tais produtos poderia ser ligado ao aumento de doenças crônicas, como obesidade e condições autoimunes.Depois disso, ele chegou a dizer que todos os governadores deveriam passar legislações para banir ultraprocessados e corantes alimentícios das escolas.As diretrizes alimentares dos EUA passam por uma revisão desde 2023 para formular um guia alimentar em 2025. O documento terá validade de cinco anos e vai passar pela pasta chefiada por Kennedy.A questão dos ultraprocessados, porém, talvez fique de fora do debate. O comitê deve incluir pesquisas que tenham durado ao menos 12 semanas e que contém com mais de 30 indivíduos estudados. Produções baseadas nos EUA serão priorizadas.Um dos estudos mais citados sobre ultraprocessados, conduzido no país pelo pesquisador Kevin Hall, foi conduzido com 20 pessoas ao longo de quatro semanas. Na pesquisa, os pacientes tiveram duas semanas de dieta com ultraprocessados e duas semanas sem eles. Durante a dieta ultraprocessada, foi constatado ganho de peso e, na dieta sem ultraprocessados, houve perda.Kennedy defende também o consumo de leite cru, ou não pasteurizado. Ele diz que a FDA (Food and Drug Administration, órgão regulatório dos EUA) suprime agressivamente a produção do leite cru no país. Os EUA proíbem vendas interestaduais do produto, que é regulado por normas internas de cada um dos estados.Os defensores do produto afirmam, sem base científica, que o consumo reduz inflamações, alergias e problemas de digestão.
EUA: conheça movimento antivacina, contra ultraprocessados e a favor do leite cru
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