Na Prússia, atual Alemanha, no reinado de Guilherme l, 1883 , Otto Von Bismarck, o chanceler de ferro, conduziu o país com uma política de “sangue e ferro”. Ele notabilizou-se por unificar a atual Alemanha e pelo Welfare State, um programa assistencialista de proteção aos desamparados.
Esse sistema de seguro social tinha um caráter eminentemente político. A iniciativa pioneira de Bismarck tinha como objetivo enfrentar os movimentos socialistas, que estavam fortalecidos com a crise industrial. Os resultados positivos lhe deram a consagração social e inspirou governos mundo afora a reproduzir o modelo.
A ideia ganhou impulso com as teorias de Keynes de estímulo aos governos a intervir na economia para corrigir as “falhas de mercado”. Segundo ele, o desemprego deveria ser corrigido com obras governamentais — mesmo que fosse cavar buracos e depois tapar. O que importava era “o curto prazo, pois a longo prazo todos nós estaremos mortos”, dizia Keynes.
O New Deal de Roosevelt foi um exemplo prático da teoria keynesiana, ao enfrentar a grande crise de 1929, que havia provocado desemprego em massa nos Estados Unidos, criando empregos.
Como sempre acontece, do uso se segue o abuso. No início, o Welfare State tinha um escopo limitado e até certo ponto elogiável ao assegurar um mínimo de segurança para os trabalhadores. Na sequência veio o abuso: políticos populistas incrementaram as medidas de ajuda ao trabalhador desmedidamente. O objetivo passou a ser “comprar os votos” indistintamente.
No Brasil esta prática começou com o Presidente Getúlio Vargas, que copiou e ampliou a Carta Del Lavoro do ditador Mussolini. A Argentina levou à frente a ideia com Perón, a partir de 1945, até quebrar a que tinha sido uma das mais ricas e prósperas economias do mundo.
Entretanto, o uso e abuso dos governos não se limitaram às leis sociais e benefícios aos trabalhadores. A compra de votos também foi feita com empreguismo diretamente no governo ou nas empresas estatais; nas concessões de “bolsas” de todas as espécies; e dinheiro subsidiado para empresários ligados ao governo. Sem deixar de enfatizar o desmesurado aumento da burocracia governamental.
Os Estados Unidos, referência de economia capitalista, também sucumbiu aos “abusos”, tornando-se um estado pesado, caro, burocrático, com visível perda de eficiência e um sistema de saúde oneroso — Medicare e Medicaid, que subsidiam a assistência médica a um custo anual de $1,9 trilhões de dólares.
Tudo estava bem enquanto havia reservas a gastar. Não tão bem quando o endividamento tornou-se insuportável: o governo americano custou, em 2025, 7 trilhões de dólares; há forte desequilíbrio no balanço de pagamentos; e um concorrente competitivo como a China.
A hora da verdade estava à espera de um estopim para fazer valer a realidade. Este detonador foi o presidente Trump, que diante do desafio, declara guerra simultaneamente contra tudo e contra todos. Provocou um choque que abriu as cortinas — o rei estava nu!
Os desdobramentos foram a desorganização da economia americana e mundial, a quebra dos acordos internacionais, o ressentimento dos países ameaçados e tratados com desprezo e, last but not least, a perda da confiança entre os pares. Com isto, os Estados Unidos perdem a imagem impoluta de ser o porto seguro para investimentos financeiros e parceiro confiável. A inocência foi perdida.
Por si só , a situação econômica dos Estados Unidos já é preocupante, mas torna-se mais grave ao verificar que o resto do mundo também está comprometido. Todos os países, com raras exceções, embarcaram nos excessos do Welfare State, no governo inchado e burocratizado, no desequilíbrio orçamentário e no endividamento, que come com juros a renda nacional.
Com o governo inchado não sobra dinheiro para investimentos produtivos, a consequência é o atual baixo crescimento da renda per capita mundial. As pessoas aspiram melhorar as suas condições de vida. Em não conseguindo, ficam revoltadas. Progredir na vida é como a velocidade da bicicleta. É a condição de equilíbrio social que a esmola não resolve.
Enfim, tudo começou com Bismarck, alimentado por Keynes e explorado pelos populistas. Eles deram aos políticos uma teoria para justificar um populismo socializante.
A solução não será a guerra contra tudo e contra todos de Trump. O caos em que o mundo está submerso não será salvo com mais intervencionismo, com protecionismo, mas com menos governo. Um governo que custe menos em impostos e burocracia para dar condições competitivas às empresas. Um custo país que não seja superior ao dos países concorrentes*.
A hora do governo mínimo está chegando, pois a realidade vai colocar freios nas políticas de governos que, a título de fazer justiça social, compram votos.
* O governo chinês aplica boa parte da arrecadação como facilitador da produção barata e competitiva, enquanto o governo dos Estados Unidos gasta mais com serviços sociais e defesa — o que não necessariamente reduz o custo dos produtos.
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