Em julho de 2024, o Pangram Labs realizou um estudo para o NewsCatcher (portal americano de análise de dados aplicada à imprensa) e concluiu que 6,96% de 857.434 matérias jornalísticas analisadas tinham sido geradas com Inteligência Artificial (IA). O estudo diz que 60 mil artigos noticiosos gerados com auxílio de IA eram publicados diariamente até a data de publicação do estudo, em agosto de 2024.
Um a cada cinquenta dos jornais analisados foram considerados “grandes publicadores de IA”, com 50% a 80% de seu conteúdo sendo escrito por robôs. Boa parte (18%) dos jornais publicaram ao menos algum material (entre 10% e 50%) produzido por robôs. Esses dados, coletados há quase um ano, são os mais completos e confiáveis sobre o assunto até hoje, mas com o lançamento do ChatGPT 4 em fevereiro de 2025, é de se supor que a proporção de artigos escritos por robôs na imprensa hoje seja muito maior.
Mais recentemente, outro estudo revelou que a ideia de consumir notícias criadas por robôs é “revoltante” para metade dos leitores. Publicado em março de 2025 pela Poynter e pela Universidade de Minnesota, o levantamento mostrou que 49% das 1.128 pessoas entrevistados não quer que a IA reporte as notícias para eles — e 20% afirmam que os veículos de notícias não deveriam usar essa tecnologia.
Os leitores acreditam que esse tipo de material tem menor credibilidade: 30% dos entrevistados disseram que não tinham “nenhuma confiança” em organizações de notícias que usavam IA para escrever artigos e 32% disseram o mesmo sobre editores que usavam IA para “criar imagens onde fotos reais não estavam disponíveis”.
Cruzando os dados
Algumas conclusões podem ser extraídas do cruzamento dos dois estudos. A primeira é que, ao não discutir claramente como faz notícia, o jornalismo dá mais um tiro no pé e aprofunda a crise de confiança e de financiamento que atravessa desde o final do século 20.
A IA é uma ferramenta que abrevia muito o esforço para tarefas repetitivas como extrair informações de grandes bancos de dados, revisar ortografia, decupar entrevistas, organizar e visualizar tabelas. Sendo barata e disponível, não deixará de ser usada. É como solicitar a um contador que faça o balanço da empresa com papel e caneta. Negar sua utilização é apenas escondê-la.
O caminho ético é explicitar seu uso, dizendo honestamente ao leitor como a ferramenta foi utilizada. Ao ler claramente que a Inteligência Artificial não foi usada para gerar a opinião do articulista ou a fotografia que ilustra a matéria, a sensação de engodo pode ser em parte mitigada.
Essa sensação parece ser associada à novidade. Quando o Adobe Photoshop foi lançado em 1990, artistas visuais inflexíveis em seu propósito de continuar a produzir arte “na mão”, também podem ter sentido que o software era uma trapaça. Há ainda o medo de ser ultrapassado pela máquina; e, de fato, muitas funções menos especializadas já não existem mais no jornalismo.
A boa notícia é que a IA não consegue cumprir a maior parte das funções de um jornalista — o relacionamento com as fontes é necessariamente humano. O que a pesquisa da Poynter parece mostrar é que o relacionamento com o leitor também é função social importante para a construção da credibilidade. Além disso, por enquanto, esses sites de notícias automatizadas se limitam a repetir informações de sua formação ou a roubar e reformular artigos de outros veículos.
O post Ao menos 7% das notícias é escrita por Inteligência Artificial; 49% dos leitores acha a ideia de ler IA “revoltante” apareceu primeiro em Jornal Opção.