Em 2026, ganha quem conseguir despertar o eleitor anestesiado por escândalos

Desde o dia 23 de abril, a imprensa nacional publicou três operações da Polícia Federal (PF) para apurar esquemas de corrupção em órgãos do governo federal. As notícias seriam bombas para qualquer presidente, mas estão sendo recebidas com apatia pelo público, que parece se esforçar para ignorá-las na tentativa de evitar o desgaste emocional da indignação. Dois fatores explicam o fenômeno: o mau trabalho da oposição de Lula da Silva (PT) e o cansaço dos eleitores, frustrados com a pouca diferença na moralidade que fizeram seus votos em qualquer lado do espectro político ao longo dos anos. 

Os escândalos

Primeiro, os fatos. Em 23 de abril, a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram a Operação Sem Desconto, que levou à queda do presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, e colocou sob suspeita 11 entidades. Segundo a apuração da PF, um esquema que descontava mensalidades sem o conhecimento de aposentados e pensionistas desde 2016 provocou o desvio de até R$ 7,99 bilhões dos benefícios dos idosos e pensionistas, um dos segmentos mais vulneráveis da população.

Em 28 de abril, o portal Metrópoles publicou que o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) firmou contrato de R$ 328 milhões com empresa de terceirização investigada por fraudes em licitações do governo federal. Dois dias depois, o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu apuração da empresa suspeita de integrar grupo de terceirizadas que se relacionavam entre si e fraudavam contratos e licitações com a Administração Pública Federal.

Por fim, também em 28 de abril, a PF deflagrou operação para investigar organização criminosa acusada de desviar R$ 2 bilhões entre 2020 e 2025, por meio do Golpe do Caixa Tem. Os criminosos agiriam oferecendo propinas a funcionários da Caixa Econômica Federal para obter dados de beneficiários do governo e sacar indevidamente o dinheiro de outra pessoa.

O que fez a oposição

A maior força política contrária a Lula da Silva no país ainda é capitaneada por Jair Bolsonaro (PL), mesmo hospitalizado e investigado pela PF por réu sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Qualquer oposição nesta semana de péssimas notícias para o governo soltaria fogos de artifício, mas Bolsonaro não emitiu uma palavra sequer sobre o escândalo do INSS, o maior dos três citados. 

Pelo contrário: é a militância de sustentação de Lula quem faz o esquema colar em Bolsonaro. É fácil atacar quando não é necessário se defender. Os fatos usados para o argumento são: o empresário Antonio Carlos Camilo Antunes, apontado pela PF como principal lobista na fraude do INSS, doou R$ 1 para a campanha do candidato do PL em 2022. A maioria das entidades suspeitas iniciou descontos no governo Bolsonaro.

Mas também são fatos que os valores descontados dispararam no governo Lula, e que o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, foi alertado do esquema e não tomou medidas efetivas. A oposição bolsonarista se recusa a usar a faca para cortar o queijo que tem nas mãos. Em vez disso, ainda se ocupa com anistia aos envolvidos no 8 de janeiro (movimento que tem intenção de limpar mais a barra de Bolsonaro do que a dos ‘patriotas’ envolvidos no ato). 

Em tempo: toda a discussão a respeito de quem é o responsável pelo esquema do INSS é teatral e desimportante, o típico apontar de dedos que nunca revela ao público as reais causas do problema. Esse é o tipo de farsa que causa o sentimento de descrença em relação à política nos eleitores. A verdade é que todos são culpados e ninguém se moveu para impedir o esquema que fora anunciado diversas vezes. 

Na reforma trabalhista, Michel Temer tornou facultativa a contribuição sindical; as entidades buscaram formas ilegais para compensar a perda do imposto. Carlos Lupi foi alertado pela primeira vez em 2023 e só tomou medidas de fachada em março de 2024. Desde essa data, a corrupção mais que duplicou. O Congresso colaborou com a fraude ao extinguir em 2022 a regra que obrigava a autorização do desconto pelos beneficiários. 

A descrença

Em parte, a inação da oposição tem a ver com a validade do argumento da situação. Durante o governo Bolsonaro, de fato se fez pouco para impedir os esquemas; e a possibilidade de digitais de seu staff também serem encontradas nos rolos transforma o cumprimento do papel da oposição em um jogo de perde-perde. “Se criticar quem ocupa essa cadeira agora, levanto o que aconteceu quando você se sentava aqui”, parece ameaçar a situação. 

Esse é o contexto ideal para o surgimento de outsiders políticos; personagens supostamente “sem rabo preso”, dispostos a dinamitar o sistema. A fadiga com o status quo justifica o surgimento de . Porém, um Brasil que já se frustrou com Collor e inúmeros outros outsiders está mais desconfiado com candidatos que brandem a inexperiência como bandeira.

Com 56% dos brasileiros acreditando que o país vai na direção errada, segundo a Quaest, a disputa de 2026 será um plebiscito em torno de Lula da Silva, como a anterior foi um plebiscito pela continuação do governo Bolsonaro. Esta, inclusive, é uma informação vital que Lula jamais pareceu compreender: foi eleito por um público irritado com a alternativa, e não por um público empolgado com seu projeto.

Em 2022, o descontentamento com Bolsonaro era tamanho (principalmente devido a condução da pandemia) que o então presidente foi o primeiro a fracassar na reeleição. Em 2026, pode ocorrer a mesma escolha por uma opção tampão, que apenas não seja Lula. Se Bolsonaro estiver ausente do pleito, como o STF indica que estará, o eleitor terá a oportunidade de buscar um nome com quem ainda não se decepcionou — o desafio é apresentar um projeto que empolgue o público anestesiado.

O caminho mais direto, seguido por toda a oposição, é abordar os temas que afligem o brasileiro: segurança pública e economia. A questão é o tom. Cansado pelo revezamento dos dois pólos em esquemas de corrupção e por promessas não cumpridas (o brasileiro não está conseguindo comer nem ovo quanto mais picanha), o eleitorado não estará bem humorado e esperançoso. Ou continuará apático, ou estará indignado.

São vários os pré-candidatos de direita que já se opõem à esquerda de Lula: Romeu Zema, (Novo), Ratinho Júnior (PSD), Ronaldo Caiado (UB), Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em uma breve análise do discurso dos governadores, cabe questionar: qual tem manifestado desde já a necessidade de se alinhar à oposição sem ser instrumentalizado por Bolsonaro, que empurrou eleitores descontentes para Lula em 2022? 

Romeu Zema se mostrou incisivo nas críticas, dizendo “Lula tá com medo de quê?” sobre demissão de Lupi por fraude no INSS, mas segue defendendo a candidatura de Bolsonaro. Tarcísio de Freitas é bastante brando nas críticas ao governo federal. Quanto a Ronaldo Caiado, principalmente por meio da segurança pública e do desenvolvimento econômico, a contraposição ao governo federal é a tônica desde 2023. 

Em anúncio da federação entre União Brasil e Progressistas na tarde de terça-feira, 29, Ronaldo Caiado afirmou: “A nossa decisão mudou o cenário Político Nacional. Já demos um passo importante. Em curto espaço de tempo, o UP vai se desligar definitivamente do governo Lula”, disse. Em entrevista à BBC News Brasil, ele já havia dito sobre a relação com Bolsonaro: “Não sou preposto de ninguém. O próximo presidente tem que ter independência moral.”

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