Poema Hotel Sibéria, de Anna Trushkina, ganha tradução do russo para o português

Astier Basílio

Traduzi, nos últimos três anos, 94 poetas que escrevem em russo, dos quais 64 deles inéditos em Língua Portuguesa.

A primeira tradução que fiz foi de uma poeta contemporânea — Anna Trushkina.

Anna Trushkina é da cidade de Irkutsk, localizada na região da Sibéria Oriental.

No final de fevereiro, assisti a mais um recital com a poeta — que apresentou uma de suas mais recentes produções, o poema “Hotel Sibéria”.

Embora Anna Trushkina parta de um episódio real, há uma clara referência à canção “Hotel Califórnia”, escrita por Don Felder, Don Henley e Glenn Frey, sucesso dos Eagles.

Anna Trushkina leu uma espécie de nota antes de recitá-lo: “O famoso hotel ‘Sibéria’ (e o restaurante anexo) funcionou de 1934 a 1995. Um dos poucos exemplos do estilo construtivista de Irkutsk. Na noite de 13 de março de 1995, o hotel pegou fogo. Cinco pessoas morreram, sete desapareceram. Após o incêndio, foi quase completamente demolido”.

Anna Trushkina: poeta da Sibéria | Foto: Reprodução

Hotel Sibéria

Anna Trushkina

Seja muito bem-vindo ao hotel “Sibéria”

A luz aqui é suave, não é alto o sussurro.

Há flores no foyer, a neve cobre o muro.

Se queres há café ou, então, fazes misérias.

A recepção dorme, mas nos quartos não.

Um dança ao ostracismo, outro em lua de mel

Talvez o bom seria marcar inferno e céu,

Mas dizem experts: melhor deixar de mão.

A parede do teto é de espelho, fluída.

Há cheiro de fumaça em camas e sofás.

Pra fuga não há forças, não há dinheiro mais.

De longe está piscando a placa “Sem saída”

Vampilov¹ bebia, Kobenkov² sempre lendo

Aqui os seus poemas num céu de nicotina

E a ser jovem pra sempre a dupla se destina

Enquanto no “Sibéria” não vier o incêndio.

Chega o porteiro e pede três rublos pro chá.

Com raiva a garçonete arqueia a sobrancelha,

Mas, na retina, súbito, um clarão centelha —

Devolva a chave agora e deixe a mesa já.

Logo ao redor do fogo um círculo se trunca,

Está tudo acabado, it’s over, c’est fini,

Tu, nunca, do “Sibéria” poderás sair.

Sim, do “Sibéria” tu não vás embora nunca.

Notas

¹ Vampilov. Aleksandr Vampilov (1937-1972). Natural de Irkutsk, é um dos mais festejados dramaturgos russos da segunda metade do século XX.

² Kobenkov. Anatóli Kobenkov (1948-2006), poeta, ensaísta e crítico de teatro. Nascido em Khabarovsk, no extremo-oriente russo, radicou-se em Irkutsk.

Astier Basílio é jornalista, escritor e tradutor.

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