TV Globo completa 60 anos se reinventando e se mostrando competitiva com o mercado global

O Grupo Globo, criado a partir do jornal “O Globo”, em 1925, e a TV Globo, fundada em 1965, são idosos — 100 e 60 anos —, mas com caras jovens, sem botox, dada sua capacidade de reinvenção permanente (diria o ucraniano Liev Trótski).

Para comemorar os 60 anos da Globo, a apresentadora Renata Vasconcellos, do “Jornal Nacional”, está visitando famílias, nos Estados, e contando suas histórias. Busca-se, pelo visto, empatia. A jornalista, de fato, é simpática. Fica-se com a impressão, porém, de que há um certo “deslumbramento” com a vida dos pobres, como se eles estivessem sendo descobertos agora. Ao mesmo tempo, as famílias contam suas vidas, de maneira mais ampla, o que sinaliza que, paralelamente à comemoração, há um esforço de reportagem e busca de conexão.

Pode-se cobrar de Renata Vasconcellos que seja menos empolgada? Talvez. Mas a repórter — a única profissão verdadeira em jornalismo — parece mesmo ter interesse real pelas pessoas e, por isso, busca saber como vivem, de maneira mais espontânea e menos didática.

Estúdios Globo: uma estrutura gigantesca | Foto: Divulgação

Dada a proximidade da COP 30, a Globo poderia elencar os Estados com mais problemas ambientais e enviar repórteres, do nível de André Trigueiro — que, ótimo (paro ouvi-lo, sempre), só precisa perder o ar de pastor evangélico do meio ambiente —, para discuti-los e sugerir soluções (e verificar o que já está sendo feito, ou seja, resultados positivos). Mas sem folclorizar as regiões e os povos, tornando-os exóticos.

A família Marinho opera um jornal, “O Globo”, e uma rede de televisão, a Globo, de alta qualidade. A esquerda cedeu seu “lugar” à direita na demonização sobretudo da rede televisão. A esquerda pôs o ovo da serpente e a serpente se tornou crítica corrosiva da direita à inimiga escolhida como saco de pancada.

Entretanto, a Globo é, em termos de televisão, o que o país tem de melhor. Modelo tipo exportação. Talvez por isso a horda da fracassomania a ataque tanto.

TV 3.0: de massa, aberta e personalizável

Na sexta-feira, 25, o jornal “Valor Econômico” — do Grupo Globo —, outra excelência jornalística, publicou reportagem, “Aos 60 anos, TV Globo homenageia passado e mira futuro”, assinada por João Luiz Rosa, que mostra o velho e, sobretudo, o novo pulo do gato.

Cenário novo e moderno do Jornal Nacional | Foto: Divulgação

Metamorfose ambulante, a Globo está num processo acelerado de mudança. Para sobreviver num mercado altamente competitivo, no qual sua hegemonia é contestada não apenas internamente, mas também, e sobretudo, externamente.

Nunca mais, exceto de maneira episódica, se terá audiências gigantescas, como nos melhores momentos da Globo, com suas novelas e o “Jornal Nacional”. Agora, com a nova comunicação, que, com a internet, se tornou globalizada e todos podem ter acesso a tudo ou quase tudo, as audiências são e serão atomizadas. As séries e filmes do streaming, por exemplo, tomam, em larga escala, parte da audiência não apenas das novelas, e sim de toda a programação da TV aberta. Por isso, os Marinho criaram a Globoplay, uma concorrente, ainda sem tanta força mundial (mas de qualidade), da Netflix.

Entrevistado pelo “Valor”, o diretor-executivo dos Estúdios Globo, da TV Globo e Afiliadas, Amauri Soares, falou sobre o que já está em ação e o que vem por aí. Há boas novidades.

Amauri Soares fala da TV 3.0, “que é de massa e aberta, mas personalizável”.

Tela interativa da TV Globo | Foto: Divulgação

De acordo com o diretor, na síntese do “Valor”, “a TV 3.0 combina o conceito de radiofusão — da TV tradicional e gratuita, transmitida por ondas de rádio ou por cabo, satélite ou fibra ótica — com recursos característicos das redes sociais”. Assim, frisa Amauri Soares, “vai estimular não só a personalização do conteúdo pelo telespectador, mas também a entrega de publicidade pelas marcas”.

Com as mudanças tecnológicas, “os membros de uma família poderão assistir juntos ao capítulo da novela, de lugares diferentes, trocando comentários entre si por meio de um chat. Já o fã esportivo poderá escolher ouvir só a torcida de seu time durante uma partida, da mesma forma como o espectador de telejornal será capaz de explorar os detalhes de uma notícia enquanto ela é apresentada, tudo na tela da TV, por meio do controle remoto e sem instalar qualquer dispositivo adicional”.

A TV Globo era distanciada, meio asséptica. Agora, ficará mais próxima, colada, no telespectador. Por sinal, os telespectadores são cada vez mais disputados. Por isso precisam ser atraídos e, até, fidelizados, o que é muito difícil. Porque há muito a experimentar tanto em termos de (canais de) televisão quanto na internet, notadamente nas redes sociais.

Amauri Soares diz que, “no caso da publicidade, a vantagem é programar o intervalo comercial de acordo com o perfil do indivíduo, como idade, sexo, local onde mora. Vizinhos de apartamento poderão ver anúncios completamente diferentes, dependendo dos seus hábitos e interesses de compra”. Coisa que o Google, com seus algoritmos, já faz muito bem, superando os meios de comunicação tradicionais.

O diretor global diz que a rede vai continuar contando histórias brasileiras — que igualmente poderão ser exportadas (a Globoplay se tornará lucrativa, ou mais lucrativa, quando ampliar seu público no exterior, a exemplo da Netflix) — e fortalecendo sua relação com as afiliadas, como a TV Anhanguera (por sinal, de boa qualidade).

As afiliadas, frisa Amauri Soares, são “outro grande ativo”, porque, de alguma maneira, levam o país, que, sendo continental, é diversificado, como se fossem composto de vários países — e não meros Estados —, para a Globo. Porque, como diz o cantor, o Brasil não é só é litoral.

O que chamam de Rede Globo é composta de 123 emissoras: cinco próprias e 118 afiliadas.

Lucro de quase 2 bilhões de reais e modernização

Os Estúdios Globo são praticamente uma “cidade” — com “uma área de 1,73 milhão de metros quadrados. São 13 estúdios, cidades cenográficas, fábrica de cenografia e centro de pós-produção”.

Amauri Soares informa que, “todo dia, cinco mil pessoas passam pelas portarias dos Estúdios Globo, seis vezes por semana”.

Em 2019, a Globo criou o MG4, “um conjunto de três estúdios de alta tecnologia, como câmeras sem fio e equipamentos desenvolvidos e patenteados pela própria Globo”.

Em março de 2025, “nos estúdios de Jornalismo em São Paulo, a Globo inaugurou um cenário com tela interativa de cristal líquido de 15 metros de largura e 2,70 metros de altura, que funciona em sintonia com recursos de inteligência artificial e realidade aumentada, de projeção de imagens virtuais em cenários reais”, conta o “Valor”.

Inaugurado em dezembro de 2024, o estúdio de produção virtual dos Estúdios Globo está em funcionamento. “Com mais de 1,5 mil metros quadrados, é o maior do seu tipo na América Latina e conta com tecnologia de ponta. Os recursos combinam o uso de câmeras de alta precisão, que acompanham automaticamente o movimento de pessoas, a mais de 300 metros quadrados de telas de LED e sistema de IA e realidade aumentada”. Assim, “é possível criar qualquer ambientação dentro do estúdio”.

Jair Bolsonaro tinha um sonho (o mesmo sonho da esquerda, em tempos idos): destruir a Globo. Era o seu demônio (quiçá interior). O ex-presidente parecia acreditar, ou fingia que parecia para arregimentar fanáticos e bailundos, a Globo poderia ser destroçada por governantes provisórios (frise-se: o Globo tem 100 anos e Bolsonaro “só” 70 anos).

O bolsonarismo decidiu espalhar, sem fundamento na realidade, que a Globo estava quebrando. Na verdade, não estava. Estava e está tão-somente se reinventando ante uma mudança radical no sistema de jornalismo e entretenimento.

O “Valor” indica que “a receita de vendas da Globo Comunicação e Participações em 2024, de 16,4 bilhões de reais, aumentou 8% em relação ao ano anterior, enquanto o lucro líquido avançou 138%, para 1,99 bilhão”. São “indicadores de crescimento”.

A televisão aberta e as demais estão vivas, lucrativas. Programas e telejornais bem-feitos ainda contam com um público igualmente de qualidade.

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