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Desde os primeiros dias de internação do papa Francisco, em meados de fevereiro, o cardeal Pietro Parolin, 70, secretário de Estado da Santa Sé, passou a atrair os olhares dos vaticanistas. Não só porque ele ocupa o cargo mais importante da Cúria Romana, o braço administrativo do Vaticano —na prática, é o número 2 da estrutura, só abaixo do pontífice. Mas porque Parolin, além de estar na lista de favoritos para suceder Francisco, vai de fato comandar o próximo conclave.Pela regra, é o decano do Colégio Cardinalício quem prepara a eleição depois que um papa morre ou renuncia. Cabe a ele convocar os cardeais a Roma e presidir as reuniões preparatórias para o voto. Desde 2020, o cargo é ocupado por Giovanni Battista Re, 91.Mas, por causa da idade, o decano não poderá entrar na Capela Sistina, onde só são permitidos os cardeais com direito a voto –ou seja, com menos de 80 anos. O caso é o mesmo do vice-decano, Leonardo Sandri, 81.Dentro da Sistina, a tarefa deverá caber a Parolin, o cardeal-bispo de nomeação mais antiga entre os eleitores, em 2018 —como cardeal, ele foi proclamado por Francisco em 2014, ainda no início de seu papado.”A atenção é muito alta em cima de Parolin porque ele é que vai dirigir toda a operação de votos. O decano vai comandar até o ‘extra omnes’ [em latim, ‘todos fora’, pronunciado quando as portas da Sistina são fechadas], depois ele e o vice saem, por terem mais de 80 anos, e Parolin se torna decano”, afirma o vaticanista Andrea Gagliarducci, da rede americana Catholic News Agency e da agência italiana ACI Stampa.Embora, dentro da Sistina, o decano não tenha poder sobre os demais cardeais eleitores, ele é um coordenador da dinâmica de votos. Pode influenciar o rumo das conversas em uma ou outra direção, uma função importante diante da necessidade de reunir dois terços dos votos para eleger o papa, um consenso difícil de ser alcançado entre cardeais que se conhecem pouco. Os eleitores somam 135 atualmente, de várias partes do mundo. Destes, 108 (80%) foram nomeados por Francisco.Italiano da província de Vicenza, no norte do país, Parolin está ao lado de Francisco, como secretário de Estado, desde o início do pontificado, em 2013. É um diplomata de carreira da Santa Sé, tendo começado nos anos 1980 e sido promovido por João Paulo 2o e Bento 16, de quem foi representante na Venezuela, em 2009, sob Hugo Chávez.Parolin é considerado um especialista em questões do Oriente Médio e da Ásia. Dois de seus feitos são os acordos sobre nomeações e representação na China e no Vietnã, países com os quais o Vaticano não mantém relações diplomáticas. “É um diplomata clássico, um mediador por natureza. Não é uma pessoa contrapositiva e que faz grandes batalhas em campo aberto”, diz Gagliarducci.No ano passado, ele esteve no Brasil duas vezes. Em visita oficial, em abril, quando foi recebido pelo presidente Lula, e, em novembro, para participar da reunião de cúpula do G20.Com Francisco, além de comandar a diplomacia, também é responsável pela máquina do Vaticano. “É um homem amado pelas pessoas que trabalham com ele, justamente porque não entra em conflitos. Talvez seja considerado exageradamente moderado, sem tomar posições mais fortes. É um que jamais vai contra a instituição”, afirma o vaticanista.Não é tido como um progressista em temas da Igreja, mas não faz críticas públicas a decisões das quais possa discordar de Francisco. Sobre um dos assuntos mais divisivos dos últimos anos, a bênção a casais homossexuais, liberada em 2023 pelo papa, limitou-se a dizer que o documento merecia mais estudos, diante de tantas reações negativas do clero.Especialmente na imprensa italiana, é considerado um nome forte para vencer o próximo conclave, que ele mesmo irá comandar, como aconteceu com Joseph Ratzinger em 2005. Seria a volta de um italiano ao papado, que há quase 50 anos é ocupado por estrangeiros –o último foi João Paulo 1o, morto em 1978. “Quando se fala de um pós-Francisco, fala-se sempre de uma pessoa equilibrada, e Parolin é um dos primeiros que vêm em mente”, diz Gagliarducci.