O deputado federal Glaustin da Fokus preside o Podemos em Goiás desde dezembro de 2024, quando substituiu Eurípedes do Carmo (prefeito de Bela Vista). O grupo foi responsável por fazer partido crescer em número de filiados com cargos e restaurá-lo juridicamente. Nesta entrevista ao Jornal Opção, o parlamentar relembra sua trajetória como empresário do ramo de distribuição alimentícia, passando pela aceitação nas igrejas evangélicas até chegar ao Congresso Nacional. Por último, Glaustin da Fokus descreve como vê o cenário político para 2026.
Guilherme de Andrade — O senhor está na presidência do Podemos em Goiás desde dezembro de 2024. Poderia fazer um balanço do seu trabalho à frente do partido nesse período?
Glaustin da Fokus — O Podemos vive hoje um processo de reconstrução. O partido passou por momentos de grande desorganização e perda de credibilidade. Não quero fazer julgamento de quem o conduziu até aquele ponto, mas assumimos a legenda com esse desafio. Contamos com o apoio do grupo ligado à igreja, representado por Eurípides do Carmo, que esteve à frente do partido em uma fase de transição. Ele fez uma boa condução até aquele momento, mas decidiu focar na gestão de Bela Vista, cidade onde venceu a eleição para prefeito. A partir daí, assumi essa responsabilidade.
Desde então, temos visitado os municípios e entregado o comando do partido a pessoas com capacidade de construir bons projetos locais. Além disso, enfrentamos diversos processos jurídicos de gestões anteriores, especialmente de 2011 e 2012, que ainda impedem o partido de receber recursos. Nosso trabalho também tem sido de reestruturação jurídica.
Entramos em 2024 com esse cenário e conseguimos reverter. O partido praticamente saiu do zero. Tínhamos apenas 12 vereadores e nenhum prefeito de fato. Um dos prefeitos eleitos anteriormente havia usado o partido apenas como barriga de aluguel. Hoje, já temos 15 prefeitos eleitos, número que deve chegar a 18 ou até 20 até o meio deste ano. Isso nos colocou como o quinto partido que mais elegeu prefeitos em Goiás, atrás apenas de siglas consolidadas como União Brasil, MDB, PL e PP.
Também saltamos de 12 para 124 vereadores no Estado. Lançamos 27 candidaturas a prefeito nas últimas eleições e elegemos 15. Esses candidatos receberam apoio jurídico, suporte financeiro — sempre dentro da legalidade — e estrutura. Além disso, outras lideranças de diferentes partidos aderiram ao nosso projeto, reconhecendo a seriedade da nossa condução.
Guilherme de Andrade — E como está sendo o trabalho pensando já nas eleições de 2026? O Podemos está buscando novos nomes?
Sim. Estamos atuando fortemente por regiões: Nordeste, Sul, Sudoeste e Entorno de Goiânia. Temos buscado nomes com potencial de liderança regional. Dou um exemplo: na região Sul do Estado, já há bons representantes, mas identificamos espaço para novos nomes, com ideias renovadas. Fazemos o convite, iniciamos uma conversa e mostramos como o Podemos pode apoiar aquele projeto. Queremos construir uma boa chapa, com representatividade real.
Fizemos isso em 2022 e tivemos resultados expressivos, mesmo com pouca experiência política. Entrei na política em 2018, sem ter disputado eleições antes. Venho da iniciativa privada, com uma trajetória de mais de 35 anos como empresário — construí minhas empresas com responsabilidade e seriedade.
Em 2018, fui convidado a entrar para a política. Mesmo com essa pouca experiência, conseguimos eleger um deputado federal, no caso, eu mesmo, e também um deputado estadual, o Henrique César. Foi um bom resultado. Mas agora, com mais organização, estrutura e foco, podemos fazer ainda melhor.

Ítalo Wolff — O senhor entrou na política por meio de Eurípides do Carmo?
Exatamente. Quando se aproxima o período de formação de chapas e projetos de governo, é comum os partidos buscarem nomes para candidaturas e realocá-los. Para mim, foi um verdadeiro presente de Deus. Fui inserido em um grupo muito politizado, sério e respeitado no Estado, liderado por Eurípides do Carmo, que na época era presidente do PSC. Tive uma arrancada muito significativa dentro desse contexto.
Ítalo Wolff — Em 2024, o senhor foi cogitado como possível candidato à Prefeitura de Aparecida de Goiânia. Chegou a considerar essa possibilidade?
Sim, tivemos conversas naquele período. O grupo do governador Ronaldo Caiado insistiu para que eu fosse candidato, mas, na minha avaliação, me faltava envergadura política e maturidade. Eu tinha acabado de assumir meu primeiro mandato como deputado federal e ainda não me sentia preparado. Além disso, minha família não foi favorável à ideia. Diante disso, decidi seguir com meu projeto no Congresso Nacional e não disputar a prefeitura naquele momento.
Ítalo Wolff — O senhor tem duas bases eleitorais: uma no setor comercial e outra na Assembleia de Deus com o bispo Oídes do Carmo. Como é representar esses setores? Quais são as demandas desses grupos no Congresso?
Na verdade, atuo em algumas frentes. Quando entrei na política, já tinha uma capilaridade consolidada em todo o Estado. Atuo no segmento comercial há mais de 30 anos. Comecei como office boy, depois fui ajudante de caminhoneiro, vendedor de bolacha na época da Mabel, supervisor, gerente e, por fim, comprei a empresa. Meu convívio sempre foi com o canal alimentar: atacadões, mercearias, pequenos mercados e até a dona de casa, em todas as cidades de Goiás.
Com o tempo, também fui acolhido espiritualmente. Tive a benção da Assembleia de Deus, liderada pelo bispo Oídes do Carmo, que me apoiou como projeto da igreja. A Igreja Videira e a Igreja de Deus também nos abraçaram. Esses segmentos evangélicos foram fundamentais, assim como o apoio do setor empresarial.
Na minha primeira eleição, essas frentes foram decisivas. E na segunda, além desse capital político consolidado, incluí uma atuação ainda mais forte na frente política.
Em relação às demandas, trabalhamos questões como vigilância sanitária, regulação e atuação do Procon. Por exemplo, realizamos uma audiência pública para discutir a dosimetria de multas — ou seja, o cálculo proporcional das penalidades aplicadas. Quando o Procon autua um supermercado por um produto vencido, isso muitas vezes afeta o faturamento total do estabelecimento, quando deveria recair apenas sobre o segmento recheado, ou o segmento de biscoitos.
Outro exemplo envolveu um projeto de lei que exigia a inserção de informações em Libras nas gôndolas dos supermercados. Defendi que, apesar da importância, seria muito caro e atenderia uma porção muito pequena da população. Como representante do setor alimentar, defendi que isso não se fazia necessário pois isso aumentaria os preços para os consumidores.
Em geral, vejo as demandas com tranquilidade. Estamos no Congresso para trabalhar mesmo.
Guilherme de Andrade — Temos visto um movimento de vários governadores de direita, como Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), em busca de protagonismo para 2026. Como o senhor enxerga esse cenário?
Vou falar do governador que conheço: Ronaldo Caiado. Embora Goiás represente uma porção pequena da população brasileira, ele já ultrapassou as fronteiras do Estado em termos de reconhecimento nacional. Se conseguir unir os demais governadores que você citou — o que considero difícil — e também consolidar apoio dentro do próprio partido, acredito que ele terá condições de disputar com força a Presidência da República.
Caiado assumiu Goiás em um momento muito difícil, com a educação em crise e os cofres públicos praticamente quebrados. Eu vivi esse período e vi como ele conduziu a recuperação do Estado com competência. Por isso, tenho convicção de que ele seria um bom nome para representar o Brasil.
Vejo também uma vantagem política importante em Caiado: ele consegue manter o equilíbrio dentro da direita. Não pertence à ala extremista, mas se posiciona com firmeza. Ele transita bem entre a direita tradicional e o centro, mantendo uma coerência com aquilo em que acredita e defende como melhor caminho para o país.
O post Glaustin da Fokus: “Recuperamos o Podemos do zero; hoje somos o quinto maior partido de Goiás” apareceu primeiro em Jornal Opção.