Guerra da IA: americana OpenAI tenta manter hegemonia, enquanto chinesa DeepSeek surge como competidora feroz

A inteligência artificial (IA) tornou-se um dos campos mais estratégicos e disputados globalmente, com empresas como a chinesa DeepSeek e a norte-americana OpenAI liderando avanços significativos. Ambas compartilham o objetivo de desenvolver tecnologias inovadoras, mas suas abordagens, prioridades e impactos refletem diferenças culturais, econômicas e políticas.

Para entender melhor sobre esse contexto tecnológico competitivo, o Jornal Opção falou com três especialistas: o professor Anderson da Silva Soares, diretor do Centro de Excelência em IA da UFG – CEIA/UFG; o professor Celso Camilo, cofundador do CEIA e professor de IA da UFG; e Pedro Schindler Freire, estudante de Inteligência Artificial também da UFG. 

A DeepSeek surge em um momento em que a China busca consolidar sua liderança em IA até 2030, como parte de uma estratégia nacional bem definida. Para o professor Anderson Soares, “a China tem uma estratégia de IA há exatos cinco anos, e tem como meta se tornar líder em inteligência artificial até 2030”. Segundo ele, esse movimento reflete a importância que o país atribui à soberania tecnológica e à redução da dependência de soluções estrangeiras. 

Já a OpenAI, inicialmente criada como um instituto de ciência aberta, transformou-se em uma empresa fechada após o sucesso do ChatGPT, refletindo a dinâmica de inovação liderada pelo setor privado nos EUA. Pedro Schindler destaca que a OpenAI busca manter a hegemonia norte-americana no campo da IA, enquanto a DeepSeek visa garantir a competitividade chinesa. “A DeepSeek tem como principal objetivo garantir que a China permaneça competitiva na corrida tecnológica”, afirma. 

As diferenças nas abordagens tecnológicas são marcantes. A OpenAI é conhecida por seus modelos fechados e proprietários, enquanto a DeepSeek adota uma estratégia de código aberto. “A DeepSeek disponibilizou todos os códigos, não todos os dados, mas a rede neural treinada, inclusive para você reutilizar em âmbito comercial”, ressalta o professor Anderson. Essa transparência permite que pesquisadores e desenvolvedores ao redor do mundo possam analisar e aprimorar os modelos. 

Anderson da Silva Soares, doutor em Engenharia Eletrônica e Computação e diretor do CEIA/UFG | Foto: Arquivo pessoal

O professor Celso Camilo complementa: “A DeepSeek optou pela estratégia open-source e deu uma boa contribuição ao mostrar como obteve os avanços, especialmente em eficiência”. Ele também menciona que a OpenAI continua na vanguarda da IA generativa, mas a DeepSeek alcançou resultados semelhantes a um custo muito menor. “A OpenAI foi pioneira no sentido da IA generativa para texto, e a DeepSeek agora conseguiu resultados praticamente iguais, idênticos, a um custo muito menor”, explica o professor Anderson. 

A obtenção e o uso de dados são fundamentais para o treinamento de modelos de IA. Ambas as empresas utilizam dados abertos, fechados e sintéticos, mas a DeepSeek tem acesso exclusivo à internet chinesa, o que pode oferecer vantagens. “Os dados em chinês podem oferecer uma vantagem significativa, pois os caracteres chineses carregam mais significado por unidade de informação”, explica Pedro Schindler Freire. 

O professor Anderson observa que a quantidade e a qualidade dos dados são pontos de discussão. “Tanto a OpenAI como a DeepSeek utilizam dados raspados na internet, mas não há uma forma contundente de dizer se há diferença significativa na quantidade, qualidade e diversidade dos dados”, afirma. Ele também menciona que a DeepSeek divulgou informações sobre a quantidade e qualidade dos dados, enquanto a OpenAI manteve esses detalhes em sigilo. 

A transparência e a privacidade são temas centrais no debate sobre IA. A DeepSeek, por ser open-source, permite maior escrutínio público. “A DeepSeek se destaca por sua transparência e segurança, uma vez que seus modelos são disponibilizados publicamente”, diz Pedro Schindler. Já a OpenAI enfrenta críticas por seu modelo fechado. “No caso da OpenAI, é difícil garantir e fiscalizar já que se trata de modelo fechado”, observa o professor Celso. 

O professor Anderson lembra que a OpenAI só disponibilizou a opção de não compartilhar dados após meses de lançamento. “No início, o ChatGPT também não tinha essa opção. Depois de uns quatro, cinco, seis meses, disponibilizaram a opção de não compartilhar dados”, comenta. Essa falta de controle inicial sobre os dados inseridos pelos usuários gerou preocupações sobre privacidade e segurança. 

Ambas as empresas estão transformando setores econômicos e influenciando a competitividade global. “A OpenAI contribui tanto para o aumento do PIB dos EUA como para a imagem e narrativa de supremacia”, afirma o professor Celso. Ele destaca que a OpenAI influencia fortemente a indústria de tecnologia, entretenimento e serviços financeiros, onde suas inovações são usadas para criar assistentes virtuais e otimizar processos empresariais. 

Celso Camilo, doutor em Engenharia Elétrica – Inteligência Artificial, Co-fundador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da UFG | Foto: Arquivo pessoal

Já a DeepSeek impulsiona setores como manufatura e fintechs na China, reduzindo a dependência de tecnologias estrangeiras. “Na China, a DeepSeek ajuda empresas e instituições governamentais a adotarem IA sem depender de tecnologia estrangeira”, explica Pedro. Essa autonomia tecnológica é vista como um passo crucial para a soberania nacional chinesa. 

A DeepSeek enfrenta desafios de credibilidade e desconfianças sobre interferências estatais. “A DeepSeek enfrenta uma crise de credibilidade, não só por ser uma empresa nova, mas por desconfianças de interferências estatais do governo chinês”, diz o professor Anderson. Essas desconfianças podem dificultar a adoção global de suas tecnologias. 

Já a OpenAI lida com disputas jurídicas e questões regulatórias nos EUA. “Há, inclusive, disputas jurídicas. O Elon Musk é um dos que estão tentando enfrentar a OpenAI sobre essa mudança de instituto aberto para empresa fechada”, comenta o professor Anderson. Esses desafios podem impactar a trajetória futura da empresa. 

Olhando para o futuro, o professor Anderson acredita que a IA generativa ainda tem muito a evoluir. “A IA generativa ainda tem uma margem para evolução nos próximos anos, não só na questão de conversação por texto, mas também por áudio, geração de imagem, geração de vídeo”, afirma. Ele prevê anos emocionantes pela frente, com muitas descobertas e inovações. 

Pedro Schindler destaca que a OpenAI está focada no desenvolvimento da inteligência artificial geral (AGI), um sistema com capacidades cognitivas comparáveis às de um ser humano. “Especialistas da OpenAI acreditam que a AGI será desenvolvida em menos de 10 anos”, afirma. Já a DeepSeek deve continuar a crescer com o apoio do governo chinês, fortalecendo a competitividade do país na corrida tecnológica. 

Pedro Schindler Freire Brasil, estudante da Inteligência Artificial da UFG | Foto: Arquivo pessoal

DeepSeek e OpenAI representam duas visões distintas do futuro da IA: uma focada em acessibilidade e colaboração, e outra em inovação proprietária e liderança global. Enquanto a DeepSeek busca fortalecer a soberania tecnológica da China, a OpenAI consolida a hegemonia norte-americana no campo da IA. Ambas, no entanto, estão moldando um futuro em que a inteligência artificial será cada vez mais central na economia e na sociedade. 

As diferenças entre essas empresas refletem não apenas suas estratégias, mas também os contextos geopolíticos e culturais em que estão inseridas. Enquanto a DeepSeek aposta na transparência e no código aberto, a OpenAI mantém seu foco em modelos fechados e parcerias estratégicas. O impacto dessas escolhas será sentido globalmente, à medida que a IA continua a transformar setores e redefinir o que é possível no mundo da tecnologia. 

O que está em jogo não é apenas a competição entre duas empresas, mas a forma como a inteligência artificial será desenvolvida, regulada e utilizada nas próximas décadas. A coexistência de abordagens tão distintas pode, paradoxalmente, ser a chave para um futuro mais diverso e inovador no campo da IA.

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