Saem as memórias imperdíveis de Lúcio Flávio Pinto, o repórter que mais conhece a Amazônia

Sabe-se: mesmo na democracia, sem ditadura de esquerda e de direita, há muros de Berlim que impedem as cidadãs e os cidadãos do Sudeste de conheceram o que se passa nos demais Estados, como Pará, Amazonas, Goiás, Tocantins. Só tragédias, como secas e enchentes, ganham as manchetes dos jornais, revistas e emissoras de televisão. Fora São Paulo e Rio de Janeiro, espécies de metrópoles, os demais Estados são tratados como colônias, redutos de acontecimentos folclóricos ou exóticos.

Lá no Pará, de onde saiu um poeta e crítico literário formidável, Mário Faustino (nascido no Piauí e renascido no Pará e, depois, no Rio de Janeiro), e um filósofo e crítico literário excepcional, Benedito Nunes, há um jornalista brilhante, premiado internacionalmente, mas não conhecido o suficiente no Brasil — dada, repetindo, a força dos muros de Berlim que, mesmo caindo a Monarquia, prevalece na República dita democrática.

Fala-se, é claro, do repórter Lúcio Flávio Pinto, de 75 anos. É preciso adjetivar, porque o adjetivo (tal qual o advérbio) é que confere calor à vida — verbos e substantivos, tão idolatrados, são ossos e músculos, mas, como não têm o caráter viçoso da carne e da pele, não têm alma —, e enfatizar: o admirável Lúcio Flávio Pinto. Seguido de um advérbio: o grande Lúcio Flávio Pinto.

O repórter — acima de tudo, repórter (editor é mero cargo, não é profissão) — ganhou quatro prêmios Esso, dois Fenaj, o prêmio Colombe d’Oro per la Pace, em Roma, e o prêmio do Comittee for Jornalists Protection, de Nova York.

Lúcio Flávio Pinto: um dos mais premiados repórteres brasileiros | Foto: Reprodução

Lúcio Flávio Pinto trabalhou para o “Estadão” durante 18 anos. Saiu e se dedicou a escrever, solamente só, o “Jornal Pessoal”. Parece um milagre. É a mais pura verdade. O repórter escreveu o jornal de 1987 a 2019. Sozinho. Inspirado em Izzy Stone, que, escrevendo um jornal sem nenhum apoio, abalou a República dos Estados Unidos.

Você olha a Amazônia e, como todos, vê a floresta, a beleza das árvores e dos animais. Mas, como repórter altamente perceptivo que é, Lúcio Flávio Pinto percebe mais: a necessidade de protegê-la, como fazer para salvá-la, e os homens, mulheres e animais que habitam a região, que, na prática, é um país, um grande país, e, no geral, tão desconhecido dos brasileiros.

Poucos repórteres conhecem a Amazônia e seu povo tão bem quanto Lúcio Flávio Pinto. Paraense de Santarém, ele descortina a região para os brasileiros que conhecem seu trabalho. As elites, as nefastas, foram expostas, com todas as suas fraturas, pelo repórter rigoroso e corajoso. Respondeu a vários processos, mas jamais se curvou ante os poderosos.

Agora, Lúcio Flávio Pinto lança um livro (ebook) que, furando a minha penelopiana lista de leituras, entra na primeira fila, na pole position: “Como Me Tornei um Amazônida — Memórias de um Jornalista Investigativo”. O leitor pode comprá-lo, no site da Livraria Amazon, e ler um trecho (uma delícia, por sinal).

O livro contém 35 capítulos (fala inclusive de sua família, por exemplo do pai, sem nenhum romantismo). É um retrato da Amazônia e de si próprio (comento a partir do trecho que li no portal da Amazon e do comentário divulgado no Portal dos Jornalistas).

Lúcio Flávio Pinto cobre a Amazônia há quase seis décadas. Talvez tenha contribuído para melhorar ou, quem sabe, despiorar a região.

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