ADE: conheça facção aliada ao PCC responsável por homicídios e movimentação bilionária com o tráfico de drogas

Responsável por movimentar uma quantia bilionária com o tráfico de drogas desde a fundação, em Trindade, a facção Amigos do Estado (ADE) tem como “aliado” o Primeiro Comando da Capital (PCC). Responsável por 40% dos homicídios praticados em Goiás apenas em 2021, a organização foi fundada por Engri Júnior de Almeida Maia, o Junior Trindade – atualmente um dos criminosos mais procurados do Brasil, segundo lista do Ministério da Justiça e Segurança Pública. 

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Em atuação há cerca de 10 anos, não há uma data específica de quando a facção foi criada. Porém, o Ministério Público de Goiás (MPGO) trabalha com a hipótese de que a ADE surgiu a partir da migração de batizados do PCC, que fundaram a organização em solo goiano. 

Atualmente, com base em investigações desenvolvidas por órgãos de segurança pública estaduais e federais, há indícios de que há “irmãos” – como são chamados os faccionados na linguagem carcerária – espalhados em, pelo menos, outros quatro estados, além do Distrito Federal. Os tentáculos foram descobertos em Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

“Até onde temos conhecimento, ela [ADE] não nasceu a partir de movimentos carcerários, mas a partir de negócios de tráfico de drogas, que tinham por origem também membros do próprio PCC. Não se sabe quanto tempo isso levou, mas a partir daí ela foi se estruturando aos poucos. Isso exige poder, mortes, conspirações internas entre esses criminosos”, afirmou o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Marcelo Borges, em entrevista ao Jornal Opção

O surgimento da ADE é contrário ao do “amigo” PCC e do “inimigo”, Comando Vermelho (CV) – que disputam pelo controle do tráfico de drogas em Goiás. A máfia paulista surgiu a partir de uma aliança na Casa de Custódia de Taubaté na década de 90, mas ganhou notoriedade em 2006, com os atentados terroristas, em São Paulo – seu berço. 

O CV, conhecido por ser mais sangrento, surgiu ainda na década de 70, no presídio da Ilha Grande. O Gaeco não possui dados concretos de quando as organizações “invasoras” chegaram em Goiás e qual o quantitativo de membros em solo goiano, assim como o valor movimentado por elas. 

“Não é possível precisar. Mas é, com certeza, nacionalmente e internacionalmente, na casa de bilhões de reais. O PCC tolera a atuação da ADE dentro de determinado limite. Atualmente, não se sabe exatamente qual é a situação dessa parceria”, explicou o promotor. 

Empresas e batismos 

Marcelo diz que Goiás possui atuação das três organizações, além do Comboio do Cão – de origem brasiliense – com menos poder e organização. O promotor explica que tanto o PCC, a ADE e o CV, trabalham de forma hierarquizada, sendo a máfia paulista a que mais se destaca pela organização estrutural, tendo até mesmo o próprio estatuto. 

Porém, em razão da guerra travada pelo controle do tráfico no estado goiano – tido como um território estratégico pela localização geográfica – o PCC abriu brechas na “lei” e passou a recrutar menores de idade, prática antes estritamente proibida. 

Para ingressar na organização, descrita pelo Gaeco como uma empresa, é preciso passar por uma espécie de seleção, onde até mesmo entrevistas são realizadas. A prática também é observada na ADE e no CV. 

“Missões” podem ser impostas e a não conclusão ou a falha pode significar a perna de morte no chamado “tribunal do crime”. A ação fez com que o PCC fosse a principal organização criminosa atuante no estado.

“Goiás já foi o entreposto em inúmeras oportunidades de drogas vindo da Bolívia e Colômbia para outros países, especialmente por parte do PCC. O PCC já se faz presente em vários países, na Europa, principalmente em Portugal”, disse. 

Parcerias 

O promotor diz que a atuação conjunta entre as forças de segurança estaduais e federais tem sido fundamental para inibir a expansão de faccionados em Goiás, principalmente dentro dos presídios goianos. A parceria entre o MP e a Polícia Penal (PP), Polícia Militar (PM) e Polícia Civil (PC) tem gerado frutos, conforme Marcelo.

Na última semana, por exemplo, o Gaeco do Entorno do Distrito Federal realizou uma operação com objetivo de cessar crimes cometidos pelo PCC. A ação foi batizada de Sintonia do Entorno e cumpriu 17 mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão em oito municípios de Goiás (Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso, Novo Gama, Luziânia, Formosa, Aparecida de Goiânia e Goiânia), no Distrito Federal e em São Paulo.

Segundo o Ministério Público de Goiás, a apuração começou após investigadores de São Paulo compartilharem provas sobre o crescimento do PCC em Goiás. Além de integrantes do MP-GO, a ação teve apoio dos Gaecos de São Paulo, do Distrito Federal e Territórios, da Delegacia de Combate ao Crime Organizado do Distrito Federal, da Polícia Penal e da Polícia Militar de Goiás.

Combate ao crime em Goiás

Para combater o crime organizado, Goiás determinou três eixos, conforme dados da SSP-GO: integração, inteligência e integridade. O objetivo é impedir a atuação das organizações criminosas desde a perspectiva da própria atividade criminosa até o plano da recuperação dos desvios praticados pelo grupo infrator.

Além disso, foi criada a Superintendência de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado, no âmbito da SSP-GO, em parceria com as delegacias especializadas, como a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap) e a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Ordem Tributária (DOT).

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