Segmento de distribuição de energia elétrica irá investir R$ 52 bilhões em modernização até 2027

Muita gente acredita que, quando falta energia, só uma equipe presencial da concessionária pode resolver. Mas nem sempre é assim. No ano passado, a Neoenergia conseguiu resolver 550 interrupções no Distrito Federal, ajudando mais de 1 milhão de pessoas e 300 mil residências e estabelecimentos comerciais, sem precisar enviar nenhum funcionário ao local.

Isso se deve aos investimentos de automação de rede que ampliaram a implantação do sistema self-healing (ou de “autorrecomposição”, numa tradução livre) e, assim, reduziram o número de interrupções no fornecimento da eletricidade, que pode ser restabelecida em até 60 segundos.

O self-healing é atualmente o que existe de mais moderno em automação e inteligência de redes. A tecnologia é projetada para que os religadores identifiquem o defeito e façam o restabelecimento da energia ou a transferência do cliente para outra rede, sem a intervenção humana e em segundos.

Assim, os religadores automáticos são capazes de reverter as suspensões provocadas por defeitos temporários — motivadas, por exemplo, por raios ou galhos de árvores que caíram sobre a fiação, sem ocasionar maiores danos. Caso seja preciso redirecionar os endereços afetados para outras redes, o sistema faz isso automaticamente.

“Essa tecnologia permite que as concessionárias, em situações de crise, desloquem suas equipes só para onde a reconstrução da rede elétrica for necessária — em razão, por exemplo, da queda de árvores”, explica Ricardo Brandão, Diretor-Executivo de Regulação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

Com a implantação dessa tecnologia no Distrito Federal, a Neoenergia reduziu o tempo médio que a população local ficou sem energia em 1 hora. A concessionária investiu mais de R$ 25 milhões nesta inovação. De 2021 a 2023 foram instalados 517 religadores em Brasília, sendo que 61% com a tecnologia de self-healing. A meta, para 2024, é instalar mais 110 novos equipamentos do tipo.

A aposta da Neoenergia nessa tecnologia é só uma das iniciativas do segmento de distribuição de energia elétrica para modernizar as redes do país, garantindo a prestação de um serviço cada vez melhor. “As concessionárias foram muito bem-sucedidas em ampliar o acesso à eletricidade no país e em melhorar a qualidade da energia distribuída”, diz Brandão. “O desafio agora é modernizar as redes do país, para torná-las mais resilientes, e ampliar a digitalização.”

Atualmente, o segmento atende a 99,98% da população em todas as regiões do Brasil — estamos falando de quase 90 milhões de unidades consumidoras. Registre-se que, há duas décadas, a abrangência era de 93%. E que havia uma enorme discrepância entre as regiões do país: em cidades no Norte e no Nordeste, a cobertura de energia elétrica não passava de 16%.

A mudança se deve aos R$ 18 bilhões que o segmento investiu por ano, em média, ao longo da última década. E esse valor vem subindo. Só no ano passado, as distribuidoras investiram R$ 31 bilhões na modernização da rede, o que envolve expansão, melhoria e renovação. Trata-se do dobro do que foi investido em 2021.

A meta atual do segmento é direcionar R$ 130 bilhões entre 2024 e 2027 para expandir, renovar e melhorar o fornecimento de energia elétrica no Brasil. Desse total, R$ 52 bilhões, que correspondem a 40%, serão gastos com a modernização da rede — o objetivo final é torná-la mais resistente, reduzindo as interrupções de energia.

Outra empresa que está determinada a tornar suas redes mais inteligentes é a Energisa. Em janeiro de 2022, ela inaugurou uma nova fábrica em Atibaia, em São Paulo, em parceria com a HartBR, para produzir religadores monofásicos.

Conhecidos como Rocket 1, equipamentos do tipo protegem o sistema elétrico ao isolar áreas com falta de energia, permitindo o fornecimento em outras partes da rede. Essa inovação melhora significativamente a qualidade do serviço, aumentando os índices de continuidade (entre 60% e 70%) nos pontos de instalação.

Além de operarem remotamente sem componentes adicionais nos postes, os religadores armazenam energia em supercapacitores, eliminando a necessidade de substituições periódicas e reduzindo os custos de manutenção. Após operações de religamento, eles permanecem conectados à rede, facilitando a restauração remota do fornecimento de energia.

Outra iniciativa da Energisa que não poderia passar sem registro ganhou o nome de VERA. Trata-se de um sistema que faz uso de inteligência artificial (IA) para otimizar o planejamento e a execução de poda preventiva de vegetação próxima da rede de energia da distribuidora.

O sistema combina imagens diversas, inclusive de satélites, com algoritmos de predição que ajudam a identificar as espécies das árvores e a distância que elas estão das fiações. Tudo para diminuir as falhas no fornecimento de energia em razão do contato da vegetação com a rede elétrica e reduzir os gastos com podas desnecessárias.

Outra novidade da Energisa é o Sistema Avançado para Gerenciamento da Distribuição. Em resumo, ele vai conectar os sistemas de atendimento ao cliente da concessionária com as equipes de campo e com a operação remota das redes e das subestações. Visa permitir a recomposição automática da rede de distribuição de energia elétrica, reduzindo a quantidade de consumidores afetados e o tempo de restabelecimento de energia.

A implantação desse novo sistema irá acontecer de forma faseada. A conclusão do projeto, orçado em R$ 125 milhões, está prevista para 2026. Só o novo data center, construído em Cataguases, para viabilizá-lo custou R$ 9,7 milhões.

Também focadas em oferecer uma rede de distribuição segura, confiável, monitorada e flexível aos quase 4 milhões de clientes, as distribuidoras da EDP nos estados do Espírito Santo e de São Paulo projetam um investimento de cerca de R$ 4,5 bilhões em seu plano estratégico, entre 2024 e 2026.

Desde 2021, foram energizadas 23 novas subestações, sendo oito na área de concessão em São Paulo e outras 15 no Espírito Santo, e a previsão é que até o final de 2026 mais 14 novas subestações entrem em operação. O aumento da capacidade da rede vem permitindo maior flexibilidade com a implantação de novas lógicas de self-healing (transferência automática de cargas), que já beneficia mais de 82 % dos clientes em São Paulo e 69% no Espírito Santo.

A construção, ampliação e modernização de subestações e linhas de distribuição, bem como a redução de perdas, combate ao furto de energia, investimento em digitalização e atendimento, criam as condições para o desenvolvimento econômico e social das áreas onde a EDP atua, por meio de uma rede elétrica robusta para o enfrentamento de eventos climáticos adversos e mantendo a qualidade do serviço oferecido.

Na Enel, os investimentos nas redes de distribuição vão alcançar mais de R$ 14 bilhões entre este ano e 2026, com foco na modernização e digitalização da infraestrutura. A empresa tem ampliado o uso de tecnologias de automação da rede em suas áreas de atuação, que reúnem 274 municípios nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, para tornar o serviço prestado à população cada vez mais eficiente.

Para enfrentar as consequências de eventos climáticos cada vez mais extremos no país, os investimentos que estão sendo realizados pela Enel também buscam tornar o sistema de distribuição mais robusto e resiliente. A estratégia da empresa prevê ainda o reforço do plano operacional da companhia para casos de contingências; a ampliação da contratação de eletricistas próprios para atuar em campo e o aumento das ações de manutenção preventiva, como o incremento expressivo de podas de árvores; e a ampliação da capacidade dos canais de atendimento.

A Light, além de estar investindo na automatização de suas redes, permitindo o restabelecimento de energia de forma remota, direciona boa parte de seus esforços para modernizar sua rede de atendimento. Daí o aperfeiçoamento dos canais digitais da companhia. “No passado, as distribuidoras eram demandadas a abrir cada vez mais agências físicas”, lembra Ricardo Brandão, Diretor-Executivo de Regulação da Abradee. “Hoje, a maioria dos consumidores prefere recorrer aos canais digitais, que são bem mais ágeis.”

Uma das metas da CPFL, por sinal, é fazer com que esses canais digitais respondam por pelo menos 90% dos atendimentos realizados anualmente. O percentual alcançado em 2023 já superou essa meta, registrando 90,32%. Para estimular a digitalização, a companhia instalou totens digitais em suas centrais físicas de atendimento. Eles dispõem dos mesmos recursos encontrados no site e no aplicativo da distribuidora.

Para tornar sua rede mais inteligente, a CPFL anunciou investimentos até 2027 que totalizam R$ 580 milhões. A modernização já começou. No ano passado, sua rede inteligente foi responsável por 59,5% da energia distribuída pela concessionária. Em 2022, o percentual havia sido de 56,3%. Até o final de 2023, a empresa dispunha de quase 18 mil religadores automáticos. E o plano é chegar a 23,8 mil até o final de 2027.

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