A política é assim: parece que nada está acontecendo e, de repente, surpresas “aparecem”, de maneira desconcertante. Porque, no fundo, nada está parado e a sociedade se move o tempo inteiro, observando, às vezes sem opinar, o que está ocorrendo.
Então, de repente, aparecem os agentes dos institutos de pesquisas e os levantamentos expõem aquilo que existe, mas ainda não havia sido transformado em informação. É o caso da disputa eleitoral do Distrito Federal, ou seja, de Brasília.
As eleições vão ser disputadas daqui a um ano e três meses. “Um pulinho”, como se diz na favela Sol Nascente. Mesmo sendo um pulinho, Brasília é, quase sempre, uma caixa de surpresas. Aquele — ou aquela — que aparece como quase eleito pode, numa reviravolta rápida, perder para um postulante antes não bem ranqueado.
Fica-se com a impressão de que os eleitores de Brasília apreciam “experimentar” políticos “diferentes”. Joaquim Roriz (1936-2018) foi nomeado por José Sarney, quando presidente da República, para governar Brasília. Então, o impensável aconteceu: o, digamos, “interventor” foi eleito, pelo voto popular, três vezes.
Nascido em Luziânia, Roriz chegou a vencer Cristovam Buarque, que havia sido governador e era (e é) um intelectual refinado da esquerda e da Universidade de Brasília (UnB).
Espécie de “invenção” de Roriz, o engenheiro José Roberto Arruda, nascido em Minas Gerais há 71 anos, foi eleito governador e começou a fazer uma gestão de qualidade e ousada. Porém, ao se envolver em corrupção, acabou sendo afastado e nunca mais pôde disputar eleição.
O Rio de Janeiro deu dois governadores ao Distrito Federal, ambos de esquerda: Agnelo Queiroz, de 66 anos, e Rodrigo Rollemberg, de 65 anos. Nenhum deles, uma vez no poder, surpreendeu positivamente aos habitantes da capital.
Dos governadores, Ibaneis Rocha é o único nascido em Brasília. Sua vice, Celina Leão Hizim Ferreira, de 48 anos, nasceu em Goiânia.
Ibaneis Rocha foi o agente-surpresa de 2018
Em 2018, poucas pessoas conheciam Ibaneis Rocha (MDB), filho de piauienses e advogado bem-sucedido. Ainda assim, e com pouco tempo para avaliá-lo, os candangos o elegeram governador com 69,79% dos votos válidos.
Na verdade, ao optar pelo “novo”, Ibaneis Rocha, os eleitores estavam “depreciando” Rodrigo Rollemberg, que, como governador, não fez uma gestão aprovada. Tanto que, apesar de contar com a força da máquina pública, obteve apenas 30,21% dos votos válidos.
Ibaneis Rocha não fez um governo extraordinário, entre 2019 e 2022, mas, como se diz em Taguatinga, “não deixou a peteca cair”. Quer dizer, fez um governo razoável. Por isso, ao avaliar os demais candidatos, os eleitores optaram por reelegê-lo, com 50,30% dos votos válidos, no primeiro turno.
O segundo colocado, Leandro Grass (PV), conquistou 26,25%. Para um marinheiro de primeira viagem, não é uma votação ruim. Mas relevante mesmo é que perdeu.
Os eleitores deram recado para dois senadores eleitos em 2018: Leila do Vôlei, do PDT, e Izalci Lucas, do PSDB (agora do PL). Suas votações foram pífias. A primeira ficou com 4,18%, em quarto lugar, e o segundo, quinto colocado, recebeu apenas 4,26% dos votos válidos.
Fred Linhares pode ser o Ibaneis de 2026
Para a disputa de 2026, Ibaneis Rocha, tendo sido reeleito, não poderá ser candidato a governador. Vai para a disputa de senador.
A vice-governadora Celina Leão, do pP, é a favorita, de acordo com levantamento do instituto Paraná Pesquisas. Porém, do nada — se existe nada em política —, surgiu um pré-candidato “ameaçador”, Davys Frederico Teixeira Linhares. Quem? Ah, sim: trata-se do deputado federal Fred Linhares (Republicanos).
Aos 45 anos, Fred Linhares, nascido em Brasília, foi o segundo deputado federal mais votado no pleito de 2022 — com 165.358 votos. Ficou em segundo lugar, atrás apenas de Bia Kicis (PL) — de Resende, Rio de Janeiro — que, campeã, obteve 214.733 votos.
O resultado da eleição mostra que os eleitores do Distrito Federal estão de olho no jornalista e radialista — ex-TV Record — desde 2022. Estão observando sua conduta — algo assim.
Fred Linhares aparece bem avaliado tanto para governador quanto para senador. O que disputará? O que, certamente, for melhor para ele e para o Republicanos, partido que, via seu presidente, Marcos Pereira, é ligado à Igreja Universal e, portanto, ao bispo Edir Macedo. Os evangélicos querem o poder? É o que parece.
Políticos gostam de correr risco e de não perder oportunidade, quando está bem avaliado, de disputar mandato eletivo. Fred Linhares, portanto, tem uma chance de ouro. Resta saber se quer correr risco.
A pesquisa do Instituto Paraná indica, ao menos no momento, que o próximo governador do Distrito Federal tende a ser da direita. Os nomes mais fortes são ligados ao bolsonarismo — que é decisivo no DF. O político “mais” bolsonarista — aquele que contar com o apoio direto do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro — tende a ser eleito.
A vice-governadora Celina Leão — que assumirá o governo daqui a nove meses e alguns dias, em 4 de abril de 2026 — é favorita nos dois cenários apresentados pela Paraná Pesquisas.
É relevante que Celina Leão lidera a pesquisa de intenção de voto, com 31,1% e 34,4%. Era o esperado. Porém, o fato de o deputado Fred Linhares aparecer em segundo lugar, com 21,5% e 26% é a informação mais substantiva. Digamos que seja a “surpresa”.
Fred Linhares pode ser o Ibaneis Rocha de 2026? Não se sabe. A pesquisa o apresenta com índices significativos. Quem esperava que aparecesse tão bem? Ninguém, nem o deputado, por certo.
Um historiador de Brasília costuma se referir ao ex-governador José Roberto Arruda, do PL, como o rei d. Sebastião I, de Portugal, que desapareceu na batalha de Alcácer Quibir. Como não foi encontrado, durante anos, os portugueses esperavam o retorno, o que, evidentemente, nunca ocorreu.
Em toda eleição, Arruda aparece até bem nas pesquisas, mas é barrado pela Justiça Eleitoral. Em 2026, finalmente, poderá disputar? É provável. A pesquisa o aponta bem, em terceiro lugar, com 15,3% das intenções de voto. Se acreditarem que vai mesmo ser candidato, os eleitores poderão apoiá-lo? Talvez.
Há três pedras no caminho. Primeiro, Celina Leão, que será candidata e com o controle da poderosa máquina do Distrito Federal. Segundo, surgiu o fato novo, Fred Linhares (resta saber se realmente será candidato ou se optará pelo conforto da reeleição para deputado). Terceiro, Arruda é filiado ao PL, mas não tem sido apresentado como seu candidato.
Na verdade, o PL tem dois nomes para a disputa: Arruda e o senador Izalci Lucas (aparece com 7,2% e 9,9% na pesquisa do instituto Paraná). Porém, ao menos no momento, o PL — cuja direção é externa, quem manda é Jair Bolsonaro, e não interna — tende a apoiar a candidatura de Celina Leão.
A chapa majoritária — da direita bolsonarista — que se desenha conta com Celina Leão para governadora e Michelle Bolsonaro e Ibaneis Rocha para o Senado. É uma chapa, sem dúvida, forte. Sobretudo devido à força do bolsonarismo no Distrito Federal.
Mas a chapa está realmente definida? Se estiver, as chances de Fred Linhares caem. Frise-se que o deputado pertence ao Republicanos, o partido da senadora bolsonarista Damares Alves. Isto sugere que, dependendo dos números do parlamentar, o bolsonarismo poderá apoiá-lo para governador? Ainda não dá para saber.
O bolsonarismo — leia-se Jair Bolsonaro — certamente vai esperar um pouco mais o desenvolvimento das pesquisas. Porque apenas uma pesquisa não é tão representativa. É preciso também comparar pesquisas de institutos diferentes, com o objetivo de se apurar um quadro mais definido (crível) ou de um quadro em movimento.
A pesquisa mostra que, no momento, a esquerda não está bem no Distrito Federal. Leandro Grass (PV) aparece, em três cenários, com 8,4%, 8,9% e 9,8%.
No espectro da esquerda, Leandro Grass é o mais bem avaliado. Os dados de Ricardo Capelli (PSB), por ser um fato novo na política do DF, 4,1%, 5,1%, 5,5%, não são inteiramente ruins. Com um discurso afiado, duro e direto, pode surpreender na campanha. Como candidato a governador ou senador.
Ibaneis está sob ameaça na disputa para senador
O instituto Paraná Pesquisas fez levantamentos para senador, com dois cenários. Ambos mostram que, ainda que seja um candidato forte, Ibaneis Rocha corre risco.
No primeiro cenário, Michelle Bolsonaro aparece em primeiro lugar, com 42,8%. Em segundo está Ibaneis Rocha, com 36,5%. A pesquisa enuncia que são consistentes e um pode puxar o outro para cima.
Depois, aparecem Leila do Vôlei: 29,7%; Érika Kokay (PT): 24%; Bia Kicis: 18,3%; e Rosilane Corrêa (PT): 6,5%. Ibaneis Rocha pode ter em Leila do Vôlei uma concorrente forte, considerando que a senadora pode obter o apoio de toda a esquerda.
O segundo cenário, com a retirada do nome de Michelle Bolsonaro, contém a surpresa: Fred Linhares lidera, com 36%, seguido por Ibaneis Rocha, com 35,3%. Tecnicamente, estão empatados. Mas a surpresa é o deputado aparecer em primeiro.
Leila do Vôlei (26,7%), Bia Kicis (17,1%) e Izalci Lucas (16%) pontuam relativamente bem, notadamente a senadora do PDT. Rosilene Corrêa aparece com 5,3%.
O que a pesquisa prova é que o jogo pré-eleitoral do Distrito Federal passa, neste momento, pelos players Celina Leão, Michelle Bolsonaro, Fred Linhares e Ibaneis Rocha. Fica patente também que Leila do Vôlei está no jogo.
Como a partida mal começou — mas já há uma “campanha”, e nada discreta —, seu resultado pode não ser o sugerido pela pesquisa de intenção de voto do instituto Paraná. Mas, se os dados estiverem corretos — com a precisão possível —, Fred Linhares chegou para bagunçar o coro dos contentes. Celina Leão e Ibaneis Rocha, se não quiserem começar 2027 sem mandato, terão de abrir diálogo com o deputado. Para convencê-lo de que, não se sabe.
O instituto Paraná Pesquisas ouviu, entre 31 de maio e 4 de junho, 1.522 eleitores no Distrito Federal. A margem de erro é de 2,6 pontos percentuais. (Euler de França Belém)
[Leia mais sobre o levantamento do instituto Paraná Pesquisas (https://tinyurl.com/ye283ctx).]
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