Versões de Braga Netto desmoronam diante de provas e delações sobre trama golpista

O general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-vice na chapa de Jair Bolsonaro e um dos principais alvos da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, fracassou ao ser interrogado nesta terça-feira (10) pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. Da prisão no Rio de Janeiro, onde está detido desde dezembro por obstrução à Justiça, Braga Netto negou envolvimento na articulação golpista, em ataques aos comandantes das Forças Armadas e em operações secretas para financiar ações violentas contra autoridades da República.

Suas negativas, porém, contrastam com um conjunto robusto de provas documentais, delações, mensagens de WhatsApp e contradições já mapeadas pela Procuradoria-Geral da República. O general é acusado de ter atuado ativamente para pressionar os então comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, ambos resistentes à tentativa de ruptura institucional liderada por Bolsonaro e seus aliados.

A mensagem que Braga Netto diz “não lembrar”

Durante o interrogatório, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, confrontou o general com uma mensagem obtida nas investigações: “Para sentar o pau nele, preservar o almirante Garnier, mas também criticar o brigadeiro Baptista Júnior”. A frase, atribuída a Braga Netto, sugere articulação direta para direcionar ataques virtuais a integrantes das Forças Armadas que se recusaram a apoiar a conspiração.

O general afirmou não lembrar da mensagem e disse que, se de fato a escreveu, ela foi “descontextualizada”. A estratégia de desqualificar os elementos do inquérito como “fora de contexto” repete-se entre os réus, mas tem sido confrontada com o volume de mensagens, registros de reuniões e colaborações premiadas, como a de Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordens de Bolsonaro.

Dinheiro em caixa de vinho: uma explicação frágil

Outro ponto crítico do interrogatório envolveu a entrega de dinheiro vivo dentro de uma caixa de vinho a militares do grupo chamado “kids-pretos”, apontados como executores do plano violento contra o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes. Braga Netto admitiu ter encaminhado o tenente-coronel Mauro Cid ao tesoureiro do PL, mas alegou acreditar que se tratava apenas de recursos remanescentes de campanha.

Essa alegação contrasta com o depoimento de Cid, que afirmou ter recebido ordens do próprio Braga Netto para a entrega dos valores — e com o contexto da movimentação financeira identificada como parte de um financiamento do plano golpista. A justificativa do general desconsidera ainda o fato de que os recursos circulavam em espécie, sem qualquer registro oficial de despesas eleitorais.

Plano de assassinato: “nunca ouvi falar”

Braga Netto também tentou se desvincular do núcleo mais extremo da conspiração. Disse jamais ter ouvido falar nas operações Punhal Verde e Amarelo e Copa 2022, que previam o assassinato de autoridades caso o golpe avançasse. As investigações apontam que esses planos seriam executados por uma elite militar infiltrada, com apoio logístico e político — e que Braga Netto, à época figura central no círculo de confiança de Bolsonaro, não apenas sabia como ajudou a viabilizá-los.

Ao negar até mesmo o conhecimento sobre esses codinomes, o general adotou uma linha de defesa já desmontada por outras provas do inquérito e por depoimentos de réus colaboradores. A narrativa da ignorância deliberada vai na contramão de sua posição de liderança dentro da estrutura conspiratória.

O silêncio que busca proteger o todo

Braga Netto também rejeitou a versão de que teria buscado informações sobre o acordo de colaboração premiada firmado por Mauro Cid. Disse que apenas atendeu a um pedido do pai de Cid, o general Lourena Cid, que lhe pediu apoio político. Ainda assim, interceptações mostram tentativas de acesso indevido a trechos da delação — justamente o motivo pelo qual Braga Netto foi preso preventivamente.

O interrogatório desta terça-feira encerra a fase de oitivas dos réus do chamado Núcleo 1 da ação penal sobre a trama golpista. Além de Braga Netto, já prestaram depoimento o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-ministro do GSI Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Almir Garnier — este último apontado como o único comandante militar que teria aderido à tentativa de golpe.

O julgamento à vista

Com a conclusão dos interrogatórios, o Supremo se prepara para o julgamento do caso, previsto para o segundo semestre. A Corte deverá decidir se condena ou absolve os envolvidos na tentativa de ruptura da ordem democrática — uma decisão que terá impacto profundo não só sobre os réus, mas sobre a solidez das instituições diante de ameaças golpistas.

As negativas evasivas de Braga Netto, somadas à evidência de que ele ocupava posição estratégica e de comando na conspiração, parecem fazer parte de uma engrenagem de silenciamento e blindagem do grupo político-militar que tentou levar o País à ruptura. O julgamento promete pôr à prova não apenas os fatos, mas também a capacidade da Justiça de enfrentar as sombras ainda presentes nas estruturas do poder.

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