Com uma bancada composta por jornalistas da Folha de S.Paulo, CBN, UOL e O Estado de S. Paulo, o programa Roda Viva, da TV Cultura, entrevistou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, nessa segunda-feira, 9. A sabatina ocorreu em um cenário de pré-campanha eleitoral para 2026, no qual o chefe do Executivo estadual já se coloca como possível candidato à Presidência da República, e foi marcada por críticas ao governo federal e acenos à direita bolsonarista.
No programa, Caiado reafirmou que anistiar “ampla e irrestritamente” todos os condenados pelos atos de 8 de janeiro será seu primeiro ato como presidente, caso eleito, inclusive aqueles que ainda estão sob o escrutínio da Justiça, como o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Isso é uma proposta de candidato à Presidência da República. Quem votar em mim não vai ter nenhuma surpresa”, declarou Caiado, acrescentando que o ato serviria para pôr um ponto final na questão. “Esse assunto já cansou, estafou.”
Para o goiano, que tem feito oposição ferrenha ao governo federal (Caiado gosta de lembrar, inclusive, que é adversário do PT e da esquerda desde a década de 80), a gestão Lula está “se desintegrando”. “Ele perdeu a paixão por governar”, criticou. Na entrevista, Caiado avaliou que o sistema presidencialista no Brasil “acabou”, com uma pulverização do poder sobretudo por conta da suposta falta de pulso de quem ocupa a cadeira presidencial — no caso, o petista Lula.
“O que destrói o presidencialismo? A ausência de presidente. Na ausência de presidente, os outros Poderes tomam conta do governo […]. Depois de Juscelino Kubitschek, muitos deixaram a desejar”, disse.
“Você vai ser um presidente banana? Um presidente amorfo, que não tem nem sal, nem doce, dieta de cardíaco? Como presidente, você tem que chamar o presidente do Supremo, do Congresso Nacional, do Tribunal de Contas da União e ter a maturidade de discutir os problemas nacionais. Não é ficar mandando recadinho pra um e pra outro”, acrescentou.
“Venezuelização”
Questionado sobre a corrida eleitoral de 2026, da qual pretende participar, Ronaldo Caiado afirmou que, “se a direita perder o governo”, o Brasil entrará em um processo que chamou de “venezuelização”. “E se um de centro-direita ganhar, ele tem que mostrar a que veio. Ele não pode, em hora nenhuma, pensar na possibilidade de reeleição. As medidas dele precisam ser para resgatar um país punido pela corrupção, incompetência e violência.”
Durante a sabatina, um dos entrevistadores destacou que Caiado ainda não conta com a garantia de apoio de seu partido — agora o União Progressista, fruto da federação entre União Brasil e Progressistas — e questionou o que ele fará caso o apoio não venha.
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“Tenho que fazer minha parte, e estou fazendo. Estou andando o Brasil, debatendo”, respondeu, ao lembrar que a decisão sobre quem será o candidato da legenda será tomada apenas na convenção, em julho do ano que vem.
Vale lembrar que, desde a formalização da federação UB-PP, ficou acordado entre os presidentes das duas siglas que Caiado poderia ser o provável candidato à corrida presidencial. A condição imposta foi: ele precisa se consolidar, romper as barreiras do seu estado e se tornar conhecido nacionalmente.
Bolsonaro à vista?
A entrevista foi marcada por acenos de Caiado à direita bolsonarista — da promessa de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos até a abstenção de críticas ao ex-presidente, mesmo com Bolsonaro insistindo em se posicionar como pré-candidato para 2026, apesar de estar inelegível. O governador, inclusive, afirmou que não fará campanha contra nenhum candidato da família Bolsonaro, e que seu verdadeiro adversário é Lula.
Ainda assim, Caiado também sinalizou independência e afirmou que não esperará a “bênção” bolsonarista para seguir com sua articulação política.
“Vou me colocar como candidato, eu tenho as credenciais […]. Nunca fui candidato de barra de saia”, disse.
Segurança e Poderes
Questionado sobre alguns de seus posicionamentos recentes, como o vídeo em que afirma que, se o funkeiro MC Poze do Rodo tivesse sido preso em Goiás, não aceitaria uma decisão judicial que o soltasse, Caiado declarou: “Juiz não é Deus”, e que a população não deve aceitar tudo passivamente.
“Eu teria pedido ao presidente do Tribunal de Justiça que prendesse esse juiz”, conjecturou, caso o episódio tivesse ocorrido em território goiano.
O chefe do Executivo estadual também reiterou que não vai colocar câmeras nas fardas dos policiais em Goiás, e destacou os dados da segurança pública. “Instalei a melhor polícia do Brasil. Tenho mil homens na Inteligência; temos batalhões preparados para todas as situações: roubo de carro, roubo de banco. Não tem roubo de carro, roubo de banco, novo cangaço, não tem nada disso em Goiás […]. Ou você tem um Estado cuja força de segurança é capaz de proteger a população, ou vai ver esse país ser venezuelado.”
O tema segurança pública é um dos – senão O – principais motes da pré-campanha de Caiado. Em suas andanças pelo país, o chefe do Executivo estadual tem feito questão de enfatizar o crescimento do poder de facções em algumas partes do Brasil, atribuindo o fenômeno a uma suposta inércia e ineficiência do governo federal.
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