Mortes em corridas de rua acendem alerta sobre cuidados com saúde de atletas amadores

Duas mortes ocorridas durante provas de corrida de rua no último sábado, 7, acenderam um alerta sobre a necessidade de avaliação médica e acompanhamento profissional por parte de atletas amadores. Os casos aconteceram em Goiânia e Porto Alegre (RS), envolvendo jovens aparentemente saudáveis e habituados à prática esportiva.

Momento da largada l Foto: Célio Galdino

Em Goiânia, Carolina Lemes de Oliveira, de 30 anos, passou mal enquanto participava do Circuito Junino, prova organizada pelo Grupo Jaime Câmara que reuniu cerca de 1,5 mil atletas. A jovem, que já havia competido em outras corridas e chegou a conquistar pódios, foi socorrida após desmaiar por volta do quarto quilômetro do percurso de 10 km, mas não resistiu. A corrida teve início às 18h e o trajeto apresentava várias subidas, segundo atletas que também participaram do evento.

Já em Porto Alegre, o estudante João Gabriel Hofstatter De Lamare, de 20 anos, morreu após sofrer um mal súbito durante a 40ª Maratona Internacional da cidade. O jovem, que completava aniversário no dia da prova, fazia parte de grupos de corrida e participava de sua primeira meia maratona. Ele passou mal no quilômetro 20, a apenas um da linha de chegada do percurso de 21 km.

Os casos reacendem o debate sobre os riscos associados à prática de esportes de resistência sem a devida preparação física e acompanhamento médico. Embora sejam considerados eventos raros, mortes em provas de corrida podem estar relacionadas a fatores como sobrecarga cardíaca, desidratação, esforço excessivo ou condições pré-existentes não diagnosticadas.

A popularidade da corrida de rua no Brasil tem crescido de forma expressiva. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor, em parceria com a agência Esporte & Negócio, mais de 2,8 mil eventos desse tipo foram realizados em 2024 — um aumento de 29% em relação ao ano anterior.

Dados da plataforma Strava, divulgados no Relatório Anual de Tendências Esportivas, apontam que o Brasil é o segundo país com o maior número de atletas registrados, com mais de 19 milhões de usuários. A corrida foi o esporte mais praticado no país em 2024, ultrapassando outras modalidades.

A pesquisa “Perfil do Atleta Brasileiro 2024”, divulgada pela Ticket Sports, indica que as corridas de rua foram responsáveis por 87,3% das 1,8 milhão de inscrições feitas em eventos esportivos no último ano — um crescimento de 75% em relação a 2023. A divisão por gênero é equilibrada, com 50,1% de homens e 49,9% de mulheres. Entre os jovens de 15 a 25 anos, a participação subiu de 7,9% para 10,9%. Já entre os corredores de 26 a 35 anos, a alta foi de 17,9% para 24,8%.

Apesar dos benefícios para a saúde e bem-estar, especialistas reforçam que a prática da corrida deve ser acompanhada por profissionais de educação física e médicos. O monitoramento constante, principalmente para quem participa de provas longas ou intensas, é essencial para evitar riscos, lesões ou ocorrências mais graves.

Circuito Junino l Foto: Célio Galdino

Atleta Célio Galdino alerta para importância de avaliação médica

Atleta amador e diagramador do Jornal Opção, Célio Galdino, de 45 anos, reforça a importância de cuidados com a saúde antes de começar a praticar corridas de rua. Com experiência em provas de até 10 quilômetros, ele defende que o primeiro passo para quem deseja entrar no universo das corridas é buscar orientação médica.

“Antes de começar a correr, é fundamental fazer uma avaliação médica. É importante saber qual o seu nível de preparo físico, mesmo para as menores distâncias”, afirma. “Um check-up ajuda a garantir que não há nenhum impedimento de saúde, especialmente relacionado ao coração”, completa.

Galdino conta que adotou essa conduta antes de se dedicar com mais seriedade ao esporte. “Antes de entrar de vez na corrida, em 2022, passei por uma bateria de exames. E, desde então, repito esses exames ao menos uma vez por ano.”

Segundo ele, é comum encontrar iniciantes em corridas de rua. “Em todas as provas que participo, geralmente há um número grande de corredores iniciantes. Não vejo problema nisso. O importante é ter certeza de que está com a saúde em dia e saber respeitar os limites do próprio corpo.”

Chegada de Fábio Jesus Correia, vencedor dos 21 km em Porto Alegre l Foto: Geraldo Protta

Em três anos de participação em corridas, Célio relata ter presenciado dois episódios graves de saúde envolvendo atletas. “Um foi em Caldas Novas, quando uma moça precisou de massagem cardíaca. E o outro foi no dia 7 de junho de 2025, quando, infelizmente, uma atleta faleceu durante a prova”, relata.

Corridas de rua exigem responsabilidade e acompanhamento médico, alerta cardiologista

O cardiologista intervencionista Arthur Pipolo chama atenção para a importância da prática responsável e do acompanhamento médico, especialmente antes de iniciar treinos mais intensos.

“As corridas de rua são uma forma acessível e barata de exercício, com muitos benefícios para a saúde. Elas ajudam a melhorar a função do coração, reduzem o estresse e aumentam a disposição”, afirma o especialista. “É muito bom ver tantos jovens se interessando por esse esporte. Quanto mais cedo se adquire o hábito de se exercitar, melhor para a saúde no futuro — desde que seja feito com responsabilidade.”

Pipolo destaca que, mesmo entre os mais jovens, é essencial passar por uma avaliação médica antes de começar a correr. “Às vezes, a pessoa tem alguma alteração no coração que não apresenta sintomas, e o check-up ajuda a prevenir problemas durante a prática esportiva”, explica.

De acordo com o cardiologista, a maioria das pessoas pode correr com segurança, mas ele alerta para os riscos em casos de doenças cardíacas não diagnosticadas. “Os riscos mais preocupantes são desidratação, problemas musculares e, em casos raros, arritmias graves que podem causar morte súbita.”

Cardiologista intervencionista Arthur Pipolo l Foto: Acervo pessoal

O exame mais básico, segundo ele, é o eletrocardiograma (ECG). “Dependendo do histórico da pessoa ou da família, o médico pode pedir exames complementares, como ecocardiograma ou teste de esforço, para garantir que está tudo bem com o coração.”

Doenças cardíacas silenciosas, como cardiomiopatia hipertrófica ou arritmias hereditárias, podem não apresentar sintomas e só se manifestar durante o esforço físico. “Infelizmente, isso pode acontecer, mesmo em jovens sem sintomas. Por isso, é importante ficar atento a sinais como desmaios, tonturas, palpitações ou histórico de morte súbita na família”, alerta Pipolo.

O médico reforça que o acompanhamento profissional ajuda não apenas na prevenção, mas também no planejamento do treino. “É importante respeitar o próprio ritmo, alternar dias de treino e descanso e não exagerar na intensidade para evitar sobrecarregar o coração.”

Entre os sinais de alerta durante a corrida, Pipolo cita dor no peito, falta de ar intensa, tontura, palpitações ou desmaio. “Se sentir qualquer um desses sintomas, é importante parar de correr e procurar ajuda médica.”

Ele também reforça a importância de cuidados complementares, como alimentação e hidratação. “Uma alimentação saudável, rica em frutas, verduras e proteínas magras, é fundamental para o coração. Hidratar-se antes, durante e depois da corrida ajuda a evitar problemas de pressão e desidratação.”

Por fim, o cardiologista defende o acompanhamento médico contínuo, independentemente do nível de experiência. “Para quem está começando, ele ajuda a detectar problemas que poderiam passar despercebidos. Para quem já corre há mais tempo, o acompanhamento serve para ajustar o treino, monitorar a saúde e prevenir problemas com o passar do tempo”, conclui.

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