Augusto Melo não pretende renunciar à presidência do Corinthians depois de ser indiciado por lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado pelo abuso de confiança, no caso Vai de Bet. Também não há intenção de entrar com uma nova ação judicial para barrar a votação de impeachment, marcada para segunda-feira, dia 26, mas já correm, desde janeiro, dois processos, um no Tribunal de Justiça (TJ) e outro no Supremo Tribunal Federal (STF). Se algum deles avançar, pode ocorrer o adiamento.Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 23, um dia após o indiciamento, ao lado do advogado Ricardo Cury, o mandatário corintiano mostrou que sua defesa está pautada em questionar o momento do conclusão do inquérito, três dias antes da votação de impeachment, marcada para dia 26,, e o próprio conteúdo do relatório.“Nós dividimos em algumas frentes. A primeira é a frente política. Nos surpreendeu muito a divulgação do relatório final na quinta-feira, antevéspera do julgamento de segunda. Nós informamos no dia 13 de maio, ao delegado Tiago que o presidente Tuma (Romeu, do Conselho Deliberativo) tinha renconvocado a reunião para o dia 26?, afirmou Cury.Augusto, por sua vez, rechaçou qualquer chance de pedir a renúncia. “Durmo muito tranquilo. Porque levo uma vida transparente e honesta. Não tenho vícios. Desde o dia que cheguei ao Corinthians. Eu sou corintiano. Mais corintiano que eu dentro do Corinthians não tem. Isso não passa pela minha cabeça em hipótese nenhuma, renunciar. Foi um grande contrato. Se teve algo errado, a Justiça vai tratar disso.”Ao longo da coletiva, o advogado citou muitas vezes, porém sem citá-lo nominalmente, o ex-diretor jurídico corintiano Yun Kin Lee. No relatório do inquérito, o delegado Tiago Fernando Correia explica que não responsabilizou Lee penalmente, de forma momentânea, porque sua defesa pediu habilitação nos autos e o pedido ainda não foi apreciado.“O próprio delegado diz que, com relação a uma específica pessoal, não se manifestaria em relação a um pedido de seu advogado. Se ele aguarda a habilitação desse colega, nos surpreendeu a divulgação abrupta do relatório”, diz Cury.“Tecnicamente, o delegado deixou o inquérito com um rabicho. Essa pessoa, que pode ser indiciada ou não, não apreciaria a questão dela porque o advogado peticionou tardiamente nos autos. É uma pessoa que tem uma relevância nesse episódio da Vai de Bet.”O ex-diretor jurídico voltou a ser mencionado na coletiva quando o advogado de Augusto falava sobre a assinatura do contrato com a Vai de Bet e qual o nível de conhecimento que o presidente possuía sobre o intermediário no negócio.“Ele foi comunicado por auxiliares que havia um intermediário. Não é papel dele conhecer tudo e examinar tudo. Ele encaminhou, inclusive, para diretoria jurídica e compliance. O diretor jurídico disse: ‘pode assinar’. O diretor jurídico disse na época para suspender o contrato com a Ernst&Young”, afirmou. Outro questionamento de Cury é a respeito da ausência de informações que ele considera importante para a tomada de decisões. Ele fala dirtamenente sobre a UJ Football, empresa associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e que foi o último destino do dinheiro originado da intermediação do contrato com a Vai de Bet“Nos surpreendeu é que o delegado optou por não ouvir as pessoas novas que apareceram. Não escutou a UJ, por exemplo. Ele faz uma ilação que no nosso entender é muito séria. Ele diz que o dinheiro que está parado na UJ teria relação com dívida de empresário de jogador. Mas, no inquérito policial, do começo até o final não há absolutamente nada sobre a UJ até agora.”No inquérito, o delegado cita a empresa para dizer que ela foi a beneficiada final após valores repassados por outras “laranjas” após a transferência inicial feita pela Rede Social Media. Mais de uma vez, Cury afirmou que o relatório final do inquérito “não tem nada” contra Augusto Melo. “A insinuação mais delicada é que ninguém fala do Augusto ao citar a intermediação. Mas, diz o delegado, que no depoimento do presidente Augusto, ele teria dito que no final de dezembro de 2022, logo após a eleição e antes da posse, ele teve um encontro com o Marcelo Mariano no parque São Jorge e o Marcelo alou sobre essa provável interessada, a tal da Vai de Bet. O delegado diz que ele teria se colocado na cena do crime. Ninguém falou do presidente, mas o presidente disse que teve uma reunião com o Marcelo Mariano.”
Presidente do Corinthians, Augusto Melo foi indiciado por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
O caso Vai de BetA Polícia Civil concluiu na quinta-feira, 22, o o inquérito do caso Vai de Bet e indiciou Augusto Melo, presidente do Corinthians, por associação criminosa, furto qualificado pelo abuso de confiança e lavagem de dinheiro.Além dele, foram indiciados o empresário Alex Cassundé, cuja empresa teria recebido R$ 1,4 milhão por supostamente intermediar o negócio com a casa de apostas, e os ex-dirigentes corintianos Marcelo Mariano e Sérgio Moura. Todos respondem pelos mesmos delitos que o mandatário alvinegro.Ao longo dos últimos meses, o Corinthians teve o nome associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), em razão de valores desviados do contrato entre o clube e a antiga patrocinadora Vai de Bet.Após quase um ano de investigações, a polícia concluiu que a Rede Social Media, apontada como intermediadora do acordo de patrocínio, usou uma empresa fantasma para fazer R$ 1.074.150,00 chegar à conta bancária da UJ Football Talent Intermediação, empresa apontada como braço do PCC.O Corinthians anunciou, em janeiro de 2024, um acordo de patrocínio com a Vai de Bet no valor R$ 360 milhões.Então superintendente de marketing do clube, Sérgio Moura teria autorizado Alex Cassundé – que havia trabalhado na campanha presidencial de Augusto, por meio de sua empresa Rede Social Media -, a buscar um patrocínio para o Corinthians, conforme versão contado pelo próprio Cassundé em depoimento.O empresário disse que deu sequência ao assunto com Marcelo Mariano, diretor administrativo e braço direito de Augusto, porque Moura estava de férias.As versões dadas por cada um dos envolvidos sobre como se deu o acordo são conflitantes. Augusto Melo não foi mencionado por nenhum dos outros três acusados como presente no encontro que ocorreu no clube para falar sobre o patrocínio. O próprio presidente corintiano, contudo, se colocou no episódio ao depor.Em junho, após as notícias de repasses a “laranjas”, a Vai de Bet rescindiu o contrato de forma unilateral.Na conclusão do inquérito, o delegado Tiago Fernando Correia atesta que Cassundé não foi o intermediário e não exerceu qualquer tipo de participação na negociação. O relatório conclui que a inclusão das cláusulas contratuais relativas à suposta intermediação do empresário caracterizam um “negócio jurídico simulado” e afirma que “houve uma ação deliberada destinada a desviar dolosamente valores da agremiação, frutos de uma farsa inescrupulosamente engendrada”.Por isso, o indiciamento por furto qualificado. A combinação ao abuso de confiança diz respeito à relação dos dirigentes com os sócios do clube e com a própria agremiação. “A confiança neles depositada não só por aqueles que ‘os elegeram”’, mas especialmente pelo Clube, de quem se aproveitaram. E se aproveitaram fazendo uso de um artifício que, consideravelmente, facilitou a subtração”O indiciamento por associação criminosa se deu porque a Polícia Civil entende que o quarto se aliou “de maneira estável, formando entre si um liame subjetivo e mirando a consecução de um fim comum/ no caso, a perpetração de uma série de crimes. Afinal, como consequência da tal reunião duradoura, seriam pagas ao suposto intermediário (subtraídos do Clube, na realidade) 36 (trinta e seis) prestações de 700 mil reais”.O texto também pontua que o dinheiro subtraído passou por “empresas fantasmas e foi fracionado” de forma a dificultar o rastreio, o que caracteriza a lavagem de dinheiro. “Todos tinham ciência que, uma vez não sendo Alex o verdadeiro intermediário, os recursos transitariam de forma irregular até alcançar o destino final, fossem terceiros ou não.”