Por Gabriel Garcia*
Millôr Fernandes escreveu: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.” Incauta, a governadora de Pernambuco, Raquel Lira, flerta com o autoritarismo, sonha com uma imprensa controlada pela máquina pública. Talvez não tenha aprendido nada com notórios políticos pernambucanos, como os ex-governadores Joaquim Francisco, Miguel Arraes e Eduardo Campos.
Vi com certa incredulidade a informação de que a governadora batizou um cãozinho vira-lata com o nome Magno. Primeiro, não seria um demérito ser um cachorro de rua. Pelo contrário, esses animais fazem parte do povo, da imaginação popular. São carismáticos, característica que vossa excelência desconhece.
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No livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, a cadela Baleia, uma vira-lata, simboliza a resistência e a esperança em meio à miséria da seca do sertão nordestino. Magno, meu amigo há duas décadas, resiste à mão impiedosa do estado totalitário, que tenta silenciar o jornalismo com verba publicitária.
“Vira-lata”, Magno não usa coleira, não tem dono, não é domesticado pelo político de plantão. Sim, tem uma pena pesada, mas ancorada no critério básico que aprendemos ainda na universidade: a informação, com o cuidado de escutar os dois lados.
Neste mundo de autoridade TikTok, que administra apenas para as redes sociais, Magno é a Baleia, um sonhador, uma resistência. Faz jornalismo como antigamente, uma oposição. Quem defende governos é a assessoria de comunicação.
Ácido, crítico e zeloso com a notícia, Magno desfila tranquilamente pelo meu querido Pernambuco, que eu carinhosamente batizei como meu segundo Estado.
Já a governadora tem pedigree, tem a coleira de um animal domesticado, fica presa no Palácio do Campo das Princesas. A impopularidade dela não a permite caminhar no meio do povo.
*Jornalista em Brasília
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