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A cineasta pernambucana Mariana Brennand recebeu o prêmio Women in Motion Emerging Talent, do Festival de Cinema de Cannes. A premiação é dedicada a talentos femininos promissores na indústria cinematográfica e marcou os dez anos da iniciativa. Na mesma noite, a atriz Nicole Kidman foi homenageada pelo conjunto da carreira.
Brennand é diretora do premiado longa-metragem “Manas”, que retrata a exploração sexual de crianças na Ilha do Marajó, no Pará. O filme, que foi exibido em Pernambuco durante o Janela de Cinema do Recife de 2024, chegou aos cinemas brasileiros no último final de semana.
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“Este prêmio que recebo é fruto de uma história que eu ousei contar -uma história que, depois que ouvi, nunca mais consegui tirar da cabeça. Fui para a floresta amazônica no Brasil e conheci mulheres e crianças vivendo ciclos intermináveis de violência sexual e abuso. Nunca poderia esquecê-las. Nunca poderia deixá-las para trás”, disse Marianna.
“A coragem delas em resistir se tornou a minha bússola na realização deste filme. Mas MANAS não é apenas um filme. É o eco do feminino, feroz, ancestral, urgente e corajoso. Ele fala pelas mulheres que vieram antes de nós e por aquelas que ainda lutam para serem ouvidas”, diz.
Em sua primeira exibição, no Festival de Cinema de Veneza, em setembro de 2024, Marianna saiu com o prêmio GDA Director’s Award. Ela também dirigiu um documentário sobre o seu tio-avô, o artista plástico Francisco Brennand, falecido em 2019.
O filme narra a história de Marcielle/Tielle (interpretada pela estreante Jamilli Corrêa), uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA) junto ao pai, Marcílio (Rômulo Braga), à mãe, Danielle (Fátima Macedo), e a três irmãos.
Marcielle cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após “arrumar um homem bom” nas balsas que passam pela região.
Conforme amadurece, ela vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, a personagem decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.
De início, o seu impulso era de realizar outro documentário. Mas ela percebeu que isso não funcionaria: “Eu precisaria colocar essas mulheres e crianças, que haviam sofrido essas violências tão terríveis, na frente das câmeras. E isso seria fazê-las viverem uma nova violência.”
“Quando escuto uma pessoa agradecer pela delicadeza e sensibilidade de não mostrar a violência, sinto que é o maior reconhecimento”, diz a diretora.
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