
Estudo inédito divulgado nesta terça-feira (20) explicita o alto grau de racismo presente no Brasil, a partir da visão de quem o vive cotidianamente: ao todo, 84% das pessoas pretas relataram já terem sofrido discriminação. Trata-se, portanto, de mais um elemento a desmontar o discurso capitaneado pela direita de que essa forma de preconceito não existe no país e a reforçar a necessidade de mais políticas públicas voltadas à superação dessa chaga social histórica.
Além disso, 51% da população preta afirma ser tratada com menos gentileza no seu cotidiano; entre os pardos, o percentual é de 45% e de 14% entre os brancos.
O estudo é parte da série de pesquisas “Mais Dados Mais Saúde”, programa de inovação no levantamento de dados em saúde, desenvolvido por Vital Strategies e a Umane. O trabalho conta com a parceria técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel),o apoio do Instituto Devive e parceria governamental do Ministério da Igualdade Racial (MIR).
A apresentação do levantamento ocorreu na manhã desta terça (20), quando também foi lançada a nova plataforma Equidade Racial e Saúde, desenvolvida em parceria entre o MIR, a Vital Strategies e o Instituto Ibirapitanga.
Para chegar a esses dados, o levantamento usou a Escala de Discriminação Cotidiana, ferramenta desenvolvida para medir a percepção de preconceito vivenciada por indivíduos no dia a dia. A pesquisa ouviu 2.458 pessoas no país entre agosto e setembro de 2024, por meio de questionário aplicado via internet. Os pesos amostrais têm como base o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019.
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De acordo com os resultados aferidos, as pessoas pretas relatam mais razões concomitantes para a percepção de preconceito, com 71% dos pretos atribuindo duas ou mais razões para a discriminação vivida. As mulheres pretas são o grupo que mais reportou duas ou mais razões (72%) para suas experiências de discriminação, seguidas pelos homens pretos (62%).
Na avaliação de Layla Pedreira Carvalho, diretora de Políticas de Ações Afirmativas do MIR, “os processos de discriminação e racismo, que estruturam a sociedade brasileira, têm impactos profundos, sobretudo no dia a dia da população negra. Temos uma literatura farta sobre isso, mas é sempre importante que a gente produza novos dados.”
Desrespeito
O estudo também mostrou que 49,5% dos pretos relatam ser tratados com menos respeito, percepção compartilhada por 32,1% dos pardos e 9,7% dos brancos.
Segundo os dados, a discriminação também impacta o atendimento recebido no dia a dia: 57% dos pretos afirmam ser mais mal atendidos, enquanto isso é relatado por 28,6% dos pardos e apenas 7,7% dos brancos.
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Outro ponto evidenciado pela pesquisa é que entre os pardos, o segundo comportamento percebido mais frequentemente é o de pessoas que agem “como se fossem melhores do que eu”, reportado por 37%. Essa também foi a situação de discriminação mais relatada por pessoas brancas, com 22% dizendo se sentir assim
frequentemente ou sempre.
Outro dado da pesquisa diz respeito à percepção de que outras pessoas têm medo delas. Essa sensação foi relatada majoritariamente pelos identificados como pardos, 20%; por quase 17% dos pretos e por apenas 5% dos brancos.
Da mesma forma, 20% dos pardos e quase 17% dos pretos afirmam ser vistos como desonestos, situação reportada por menos de 6% da população branca. Além disso, 21,3% dos pretos relatam ser seguidos em lojas, enquanto 8,5% dos pardos e 8,5% dos brancos relatam essa situação.
“Os achados reforçam que não há solução única para enfrentar o racismo institucional e depende de esforços conjuntos entre governo, profissionais de saúde, sociedade civil e instituições privadas para promover mudanças significativas no atendimento da
população negra”, argumenta Layla.
Ela salienta que a pesquisa evidencia “a importância de fortalecer o monitoramento de práticas discriminatórias em diferentes dimensões da sociedade — inclusive no acesso e na qualidade das políticas públicas de saúde —, mapeando suas desigualdades e entendendo como elas são produzidas e reproduzidas na sociedade e no acesso às
políticas públicas”.
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