Com a base governista fragilizada, o Palácio do Planalto tem enfrentado dificuldades crescentes para manter o controle político, inclusive entre partidos que compõem o próprio núcleo de apoio. PSD e União Brasil, dois expoentes do Centrão, vivem um embate que se estende da disputa por ministérios à construção de candidaturas para 2026. O governo, atento aos riscos de novos rompimentos — como o do PDT —, tem sinalizado preferência por privilegiar o PSD, numa tentativa de conter o desgaste.
A instabilidade, no entanto, é alimentada por uma mudança nas forças do Legislativo. A federação entre PP e União Brasil, liderada por Davi Alcolumbre, aumentou a influência do bloco no Congresso, ao mesmo tempo em que acentuou as tensões com o PSD. Apesar de Alcolumbre manter uma relação próxima com o governo Lula, ele tem travado a votação de nomes indicados para agências reguladoras e segurado a pauta do Senado, em retaliação a Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia e integrante da cúpula do PSD. As informações são do jornal O Globo.
Na Câmara, os atritos ganham corpo na disputa pelo Ministério do Turismo, atualmente sob o comando do União Brasil. Deputados do PSD apostavam que assumiriam o posto e, inclusive, direcionaram emendas para a pasta. A reforma ministerial prometida não avançou, frustrando expectativas. Ainda assim, lideranças das duas legendas tratam o confronto como pontual. O senador Angelo Coronel (PSD-BA) e o líder do União no Senado, Efraim Filho (PB), minimizam o conflito e sustentam que ele se restringe a figuras específicas.
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Nos bastidores, porém, as reclamações se espalham até entre membros da mesma legenda. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem sido criticado por manter boa relação com Alcolumbre, visto com desconfiança por parte da ala oposicionista do PSD. O Planalto tenta fortalecer sua relação com o partido de Gilberto Kassab, de olho nas articulações para 2025. A entrada de nomes com potencial presidencial, como Eduardo Leite e Ratinho Jr., aumenta o peso do PSD nas negociações.
No campo eleitoral, as tensões entre as duas siglas também se projetam nos estados. No Rio de Janeiro, o União Brasil tenta emplacar o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, enquanto o PSD conta com o apoio de Lula para lançar Eduardo Paes. Em Alagoas, os dois partidos se enfrentam por meio de alianças com rivais históricos: de um lado, Arthur Lira (União-PP); do outro, Renan Calheiros (MDB-AL). No Paraná, Sergio Moro (União) e Ratinho Jr. (PSD) também podem se enfrentar.
Além da disputa no Centrão, o Planalto enfrenta fissuras em outros flancos. O PDT deixou formalmente a base do governo, após a saída de Carlos Lupi da Previdência em meio a investigações. A crescente adesão à CPI mista das aposentadorias, com apoio até de partidos com cargos na Esplanada, mostra o quanto o governo está com pouca margem para evitar novos desgastes no Congresso. Em meio a um Legislativo conflagrado, Lula tenta equilibrar os interesses de aliados cada vez mais impacientes.
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