A mineira Yasmim Becker, de 17 anos, contou a um portal de notícias ter sido alvo de uma onda de haters após um vídeo seu viralizar na internet. No vídeo, a jovem narra o que chamou de “um dos dias mais corridos e assustadores” de sua vida, quando precisou, segundo ela, levar seu filho, Bento, “às pressas” para o hospital porque ele não estava se sentindo bem. Acontece que Bento não era uma criança — tampouco um pet —, mas sim um boneco inanimado: um modelo hiper-realista conhecido como bebê reborn, com aparência idêntica à de um recém-nascido.
É claro que tudo não passou de uma encenação — sem graça, inútil, mas ainda assim uma brincadeira. Yasmim é colecionadora desses bonecos e revelou que costuma gravar vídeos fictícios voltados ao público infantil. Ao site Terra de Notícias, explicou que a ida ao hospital realmente aconteceu, mas por outro motivo. “Entrei lá como visita, fui conhecer um bebezinho que havia nascido e acabei colocando o boneco no bercinho do bebê real, com o consentimento da mãe. Coloquei só para gravar rapidinho. Muita gente achou que eu estava atrapalhando o atendimento. Mas eu estava apenas ajudando uma mãe, como visita”, relatou.
Coleções exóticas não são novidade — há quem junte desde objetos banais até os mais extravagantes. Certa vez, soube de um rapaz que colecionava fotos 3×4 de estranhos. Curioso, no mínimo. Eu mesmo, na infância, juntava cartões telefônicos (alô, geração millennial!). Nunca consegui completar a bendita foto de um gato, que só ficava completo com quatro cartões, cada um com pedaço da carinha do bichano. O problema surge quando o hobby começa a interferir na saúde mental ou no cotidiano de quem está ao redor.
A história de Yasmim, como dito, foi apenas um teatrinho de mau gosto para gerar engajamento nas redes sociais. No entanto, o episódio serve de pano de fundo para situações reais e tão, ou mais, absurdas envolvendo os famigerados bebês reborn. Em entrevista ao g1 Goiás, a advogada Suzana Ferreira contou ter sido procurada para defender o direito à guarda de uma dessas bonecas após o fim de um relacionamento. “A mãe ficou muito nervosa e me acusou de ‘intolerância materna’ por eu ter recusado o caso”, relatou a advogada.
Esse é apenas um dos diversos relatos que têm surgido na internet envolvendo os bebês de mentirinha e fundindo invenção com realidade, trazendo com eles o furor de indignação e descrença da maioria das pessoas.
Como era de se esperar, políticos também começaram a se manifestar, surfando na repercussão do tema. Algumas propostas de lei já surgiram, sugerindo punições para quem procurar atendimento hospitalar com um bebê reborn — muitas delas baseadas em versões distorcidas do caso de Yasmim.
No fim das contas, toda essa polêmica — seja pelas situações bizarras envolvendo bonecos hiper-realistas, seja pelas reações exageradas e oportunistas de figuras públicas — parece mais um roteiro de pegadinha do Silvio Santos. Um teatro de absurdos.
Os riscos de se tratar os bebês de mentira como reais já são detalhados por profissionais de psiquiatria – isso mesmo: se apegar a um bebê reborn é literalmente um caso para psiquiatra. E o interesse desproporcional de políticos no tema revela mais sobre a busca por holofotes do que sobre qualquer preocupação real com o bem-estar coletivo. O que ninguém parece conseguir explicar, no entanto, é o nível de insensatez que tudo isso está alcançando — tanto por parte daqueles que tratam um objeto inanimado como um ser humano, quanto daqueles que despejam sua raiva sobre eles.
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