Entre Ditadores: o impacto da escolha de Lula no cenário global

A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento em Moscou que celebrou os 80 anos do “Dia da Vitória” – data que marca a rendição da Alemanha nazista à então União Soviética – é, no mínimo, preocupante. Em um cenário geopolítico tenso, marcado pela invasão da Ucrânia e pela escalada autoritária de Vladimir Putin, a decisão de participar de uma comemoração com tons militares e ideológicos levanta sérios questionamentos sobre os rumos da política externa brasileira e os valores que ela pretende defender no cenário global.

Vale destacar que, durante a campanha presidencial de 2022, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou que plataformas digitais retirassem do ar 11 publicações de apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL), nas quais o ex-presidente Lula (PT) era associado ao ditador da Nicarágua, Daniel Ortega.

O evento reuniu 29 chefes de Estado, muitos dos quais lideram regimes autoritários, com histórico conhecido de violações de direitos humanos, repressão à imprensa e perseguição política. A maioria dos presentes representa nações onde a democracia está ausente ou fragilizada.

Putin também estendeu convites a nações ocidentais ou próximas do ocidente, como a Coreia do Sul, mas todos recusaram. Muitos desses países optaram por participar da celebração promovida pela União Europeia na quinta-feira, 8, que contou com a presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Ao aceitar o convite e dividir espaço com figuras desse perfil, Lula envia um sinal ao mundo. Revela aos países democráticos e aliados comerciais do Brasil, como os Estados Unidos, qual o tipo de companhia que considera aceitável.

O simbolismo do ato não pode ser ignorado. Em tempos de guerra, quando a Rússia é alvo de sanções e condenações por parte da comunidade internacional devido à agressão contra a Ucrânia, a participação de um líder do maior país da América Latina em uma celebração pró-Putin representa mais que um gesto diplomático: é uma forma de legitimação tácita do regime russo.

É verdade que o Brasil tradicionalmente busca uma política externa multilateral e independente. Mas independência não é sinônimo de neutralidade diante de agressões bélicas, ameaças nucleares contra, nem de conivência com regimes opressivos.

A política externa de um país democrático deve refletir valores claros de respeito aos direitos humanos, à soberania das nações e à ordem internacional baseada em regras. Lula, ao comparecer ao evento, colocou essa tradição em xeque.

Ainda mais grave é o contraste entre o discurso e a prática. O presidente Lula se apresentou nas eleições de 2022 como defensor da democracia e da normalidade institucional. No entanto, sua presença em uma cerimônia marcada por desfiles militares e nacionalismo belicista, promovida por um governo que atualmente ocupa território estrangeiro à força, soa dissonante.

A política externa não é apenas um campo técnico, mas um espelho das convicções morais de um governo. Participar de celebrações ao lado de ditadores é uma escolha política e simbólica. E escolhas têm consequências.

Para um país que deseja protagonismo global, esse tipo de associação enfraquece a credibilidade internacional e afasta o Brasil dos blocos democráticos que priorizam valores civilizatórios fundamentais.

Lula pode ter buscado com esse gesto reforçar alianças estratégicas ou econômicas, mas o preço simbólico foi alto. Aproximar-se de regimes autoritários enfraquece nossa posição como liderança regional e mina o discurso de que o Brasil atua como agente da paz no cenário internacional. Em um mundo cada vez mais dividido entre democracia e autoritarismo, é lamentável que o presidente tenha escolhido o lado errado da história – ainda que por cortesia diplomática.

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