Um líder forjado na adversidade

O mundo perdeu, recentemente, uma de suas figuras políticas mais singulares e admiradas: José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai. Sua morte não representa apenas o fim de uma trajetória pessoal marcante, mas o encerramento simbólico de uma era em que a política ainda podia ser feita com simplicidade, honestidade e profundo compromisso com a justiça social.

Mujica deixa um legado que transcende fronteiras ideológicas, sendo respeitado inclusive por seus adversários políticos — um feito raro em tempos de polarização extrema. Mujica iniciou sua trajetória política como membro do movimento guerrilheiro Tupamaros nos anos 1960.

Capturado durante a ditadura militar uruguaia, passou 14 anos preso, muitos deles em solitária. Em vez de se tornar um homem amargo, saiu da prisão disposto a dialogar, construir pontes e lutar por um Uruguai mais justo dentro da democracia.

Após sua libertação em 1985, ingressou na política institucional, sendo eleito deputado, senador e, posteriormente, presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, com um estilo que desafiava todos os protocolos tradicionais: morava numa chácara modesta, dirigia seu próprio Fusca e doava a maior parte do salário presidencial para instituições de caridade. Mas não se tratava de marketing político: Mujica era, de fato, coerente com seus princípios.

Durante seu mandato, Mujica implementou políticas progressistas que posicionaram o Uruguai como referência regional. Legalizou o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a maconha, além de promover avanços em energias renováveis.

Mesmo medidas polêmicas foram tomadas com coragem, sempre justificadas com argumentos públicos claros e um compromisso ético que buscava o bem coletivo. Mujica fazia política olhando nos olhos das pessoas, falando com palavras simples, mas carregadas de sabedoria. Não era populista: era popular por ser verdadeiro.

O que torna Mujica ainda mais admirável é a reverência que recebia mesmo de quem não compartilhava de suas ideias. Seus opositores o respeitavam pela integridade, pela capacidade de escutar, pela humildade em admitir erros e, acima de tudo, pela coerência entre discurso e prática.

Num tempo em que a política é muitas vezes um palco de vaidades e cinismo, Mujica parecia pertencer a outra era — ou talvez a um futuro que ainda precisamos construir, em que a liderança não se mede pela ostentação, mas pela generosidade.

Pepe Mujica deixa um legado de humildade, coragem e dedicação ao bem comum. Sua vida é um testemunho de que é possível fazer política com ética e empatia. Sua morte deixa um vazio difícil de preencher, mas também uma inspiração profunda.

Que é possível, enfim, sonhar com um mundo mais justo — e trabalhar todos os dias para torná-lo realidade. Que sua memória inspire futuras gerações a construir sociedades mais justas e solidárias.

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