Por Raphael Guerra
Do JC
O delegado Luiz Alberto Braga que foi filmado atirando em um morador da ilha de Fernando de Noronha, durante discussão em uma festa na madrugada desta segunda-feira (5), prestou depoimento, entregou a arma de fogo e foi liberado pela Polícia Civil de Pernambuco.
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), que se limitou a divulgar uma nota, a Corregedoria instaurou um procedimento preliminar e acompanha as investigações conduzidas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Recife.
“Um inquérito foi instaurado por portaria. O acusado já foi ouvido, e a arma, recolhida. Testemunhas estão sendo ouvidas na Ilha, e imagens de câmeras de videomonitoramento foram solicitadas para análise”, afirmou a SDS. O texto alega ainda que outras informações não serão repassadas.
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Testemunhas relataram que o delegado teria discutido com a esposa, durante uma festa no Forte dos Remédios. Pouco depois, ele teria visto a mulher conversando com um rapaz identificado como Emmanuel Pedro Gonçalves Apory, de 25 anos, e teria ficado com ciúmes.
Pouco antes de 1h, uma câmera de segurança registrou o momento em que o delegado abordou Emmanuel na saída de um banheiro. Luiz chegou a empurrar e, em tom agressivo, apontou o dedo para o rosto da vítima. Depois de outro tapa, Emmanuel reagiu, iniciando uma luta corporal. Na sequência, o delegado sacou a arma do bolso, atingindo uma perna da vítima, que saiu do local para pedir socorro.
Luiz apresentava sinais de embriaguez, de acordo com testemunhas.
Houve protestos, gritos e xingamentos de moradores durante o embarque do delegado no aeroporto, na manhã desta segunda-feira (5), rumo ao Recife. O grupo também bloqueou a BR-363, queimando pneus e madeira para cobrar justiça.
A Administração de Fernando de Noronha afirmou, também em nota, que o estado de saúde de Emmanuel é considerado estável, “com exames laboratoriais dentro dos parâmetros de normalidade”.
Somente à tarde, ele foi transferido em UTI aérea para o Recife. Está internado no Hospital da Restauração, sem previsão de alta. Familiares estão na unidade de saúde acompanhando a vítima e cobrando justiça.
Luiz Alberto cumpria plantão na Delegacia de Fernando de Noronha, cobrindo férias do delegado titular. Ele é lotado na Delegacia de Repressão ao Roubo e Furto de Cargas, no Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), no bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife.
ASSOCIAÇÃO SAI EM DEFESA DO DELEGADO
A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe) decidiu sair em defesa de Luiz Alberto Braga.
A entidade argumentou que, na ação, o delegado “identificou-se como policial ao agressor, recolhendo sua arma ao coldre logo em seguida — gesto que evidencia sua intenção de evitar qualquer confronto”.
Segundo a Adeppe, a abordagem a Emmanuel ocorreu em razão do “comportamento reiterado de perseguição/importunação contra sua companheira”.
“Mesmo ciente da condição funcional do delegado e do fato de ele portar arma de fogo, o agressor deu início a violentas agressões físicas, demonstrando a intenção de desarmá-lo — o que configurava grave risco à integridade física do agente e de outras pessoas presentes”, alegou a Adeppe.
A entidade afirmou que, “diante da agressão injusta e atual, o delegado reagiu com um único disparo, atingindo a perna do agressor, com o objetivo de cessar a agressão e preservar vidas”.
“A escolha do local do disparo demonstra o preparo técnico e o equilíbrio emocional do policial, que agiu para neutralizar a ameaça com o menor dano possível, impedindo que sua arma fosse subtraída”, disse a Adeppe.
Por fim, a entidade declarou que o delegado não havia consumido bebida alcoólica e que ele se apresentou espontaneamente ao delegado da Polícia Federal.
“O próprio delegado sugeriu e foi encaminhado via ofício ao IML, onde realizará: exame de sangue, para comprovar a ausência de ingestão alcoólica, e exame de corpo de delito, a fim de atestar as lesões sofridas durante a agressão que motivou a reação legítima”, completou.
DIREÇÃO DO FORTE NORONHA SE PRONUNCIA
Em nota, a direção do Forte Noronha, onde a festa estava sendo realizada, declarou que “lamenta profundamente o ocorrido”. E destacou que o tiro foi realizado por um policial civil “com autorização legal para porte de arma, conforme previsto em lei”.
A direção também disse que a equipe do Forte prestou imediato socorro à vítima e colaborou com os procedimentos de emergência necessários.
“Desde então, a Direção tem mantido contato com os familiares da vítima, oferecendo todo o suporte possível para garantir seu pleno atendimento e recuperação”, pontuou a nota.
Confirmou ainda que repassou as imagens de câmeras de segurança à polícia e que está cooperando com as autoridades competentes para o esclarecimento do caso.
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