Conheça o mercado de inteligência artificial: startup goiana quer lançar 200 robôs autônomos em 2025

Capital do sertanejo e dono de uma economia intimamente ligada ao agronegócio, Goiás tenta estimular a formação de um polo de tecnologia, mais precisamente de inteligência artificial (IA). Entre as empresas “na luta” para mudar esse cenário está a startup goiana Synkar.

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Responsável por criar o SD02 – um robô de entrega -, a empresa busca se expandir internacionalmente a partir da “brecha” da guerra comercial entre China e Estados Unidos, as maiores potências tecnológicas e econômicas do mundo, mudando o cenário brasileiro ao começar a exportar tecnologia, especialmente o veículo. 

O “funcionário” inusitado, inclusive, já tem circulado por shoppings e prédios comerciais do país. Conforme o CEO da Synkar, Lucas Assis, trata-se de um carrinho autônomo, sem qualquer controle humano, que ajuda na entrega de comida e outras encomendas. Uma “mão da roda” para empresas alimentícias e indústrias farmacêuticas.

Apenas em shoppings de Iguatemi de Ribeirão Preto (SP) e São José do Rio Preto (SP) foram 5 mil entregas no ano passado, onde o robô leva pedidos dos restaurantes até um terminal do iFood para que os entregadores retirem ali os pacotes. Ou seja, o trabalhador de carne e osso faz apenas metade do trajeto até as mãos do cliente.

Em Goiás, os trabalhos com o robô se destacam nas 670 salas comerciais do Órion Complex, onde 60 mil pessoas circualam por mês. Equipado com IA, o robô da startup goiana Synkar tem 20 unidades em funcionamento pelo país distribuídos em Goiás, São Paulo, Canadá e Irlanda. Mas os carrinhos devem ser trocados por um modelo mais tecnológico ao longo dos próximos meses, o SD03. Existem quase 300 unidades reservadas do modelo e a empresa estima entregar até 200 delas ainda em 2025.

“A gente percebeu que existe uma necessidade muito grande de melhorar os processos logísticos que temos não só aqui no Brasil. Temos uma indústria logística extremamente manual, ineficiente, que consome 13% do PIB. Esse ano a gente começa a abordar o mercado de condomínios também com esse tipo de solução, para aliviar essa logística interna dentro dos condomínios. Além de ser um problema logístico, também é um problema muito grande de segurança”, reforça Lucas.

Ao contrário do SD02, o novo modelo consegue transitar em áreas externas, como as de condomínios empresariais ou residenciais em formato horizontal. Além disso, tem o dobro de autonomia e áudio e iluminação melhores. A ideia ainda não é ir para as ruas. Há também um caçula em desenvolvimento, o SDX, que terá como foco exclusivamente operações logísticas.

Atualmente, o SD02 é usado principalmente em centros comerciais, transportando encomendas de estabelecimentos locais para clientes e empresas, e em shoppings, onde entrega pedidos de restaurantes até pontos de coleta do iFood.

“Sempre vai ter um humano interagindo. O robô vai estar economizando passos desse humano, deixando ele mais eficiente em um trabalho menos exaustivo e mais qualificado. A nossa aplicação e o valor que ela oferece para o mercado”, conta o CEO.

iFood e novos investimentos 

Fundada em 2018, a Synkar recebeu um aporte financeiro do próprio iFood em 2021. O valor, no entanto, não foi revelado. Na sede do iFood, em Osasco (SP), os robôs participam da rotina de trabalho: os funcionários podem pedir algo da cafeteria, e a entrega chega em qualquer sala de reunião ou estação de trabalho no prédio.

Em shoppings, a empresa estima reduzir até 40% do tempo de entrega de pedidos, justamente porque os entregadores não precisam mais tirar a bag (mochila carregada por esses trabalhadores) e tentar encontrar o restaurante, por exemplo. E o custo cai pela metade.

Agora, a startup trabalha para arrecadar verba de fundos de investimentos para se lançar de vez no mercado global de forma capitaneada. O projeto ousado deve ser concluído ainda neste ano, segundo Lucas.

“A gente está conversando com várias empresas, mas principalmente fundos de investimento, que é um dos objetivos dessa rodada. Ela tem um componente estratégico muito importante de conexões que a gente precisa, além do dinheiro em si para capitalizar. O mais importante agora são essas conexões”, afirma.

Os carrinhos

Há também algumas unidades empregadas em processos industriais, ajudando a separar e abastecer linhas de montagem, por exemplo. Os valores para adquirir variam entre R$ 4 e R$ 7 mil.

“Um separador de armazém chega a andar 25 km diariamente e conseguimos diminuir em 80% a quantidade de passos. É um trabalho exaustivo, com uma rotatividade grande. Com o uso do robô na separação, conseguimos aumentar a eficiência”.

A empresa não vende os carrinhos, apenas aluga no modelo ‘Robot as a Service’. O modelo SD02 pode carregar entre 30 e 45 quilos e conta com compartimentos internos, além de cerca de 10 câmeras e sensores pré-programados. 

Caso o percurso inclua rampas ou pavimentos irregulares, o ideal é colocar menos peso. O carrinho conta com IA e consegue conversar com clientes e andar por elevadores, usando os sensores para levá-los automaticamente ao andar certo.

“Oferecemos, além do veículo em si, manutenção, treinamento e suporte, tanto de forma presencial, quanto remota. A nossa intenção é deixar mais simples possível a adoção desse cubo autônomo”, ressalta. 

Disputa por cérebros

O CEO da Synkar diz que Goiás se tornou um polo de estudos de IA. O Estado, inclusive, também tem ganhado investimentos para se fortalecer no ramo. Porém, vem enfrentando um obstáculo: a dificuldade de reter talentos no Estado, que vive uma espécie de “fuga de cérebros”. 

A Hub Goiás, que integra empresas, centros de pesquisas e universidades em um projeto que conta com incentivos do governo estadual e a parceria com o Porto Digital do Recife, por exemplo, já impulsionou 160 startups de tecnologia desde 2023, que estão investindo pesado em IA, mas têm perdido profissionais qualificados. 

Muitos têm sido atraídos para oportunidades no exterior ou em outros Estados, ainda que não deixem fisicamente Goiás. Um dos exemplos são os alunos da primeira turma de Inteligência Artificial (IA) do Brasil, que se formaram pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2024 – ponto crucial para o reconhecimento de Goiás no mercado tecnológico.

Já na reta final do curso, os furtados 14 profissionais já eram assediados por empresas internacionais. Mesmo com essa limitação, o hub goiano já têm casos bem-sucedidos de aplicação da IA na vitrine. A Cilia, que recebeu apoio do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) da UFG em 2018, desenvolveu uma tecnologia que faz orçamentos para seguradoras com base apenas em imagens de veículos avariados.

Sua plataforma envia quase 25 mil orçamentos diariamente e conta com colaboradores em sete Estados. Entre os clientes, a Tokio Marine, por exemplo, passou a responder em cinco minutos fotos enviadas por seus segurados. Nas enchentes do Rio Grande do Sul, no ano passado, esse sistema permitiu a liberação de indenizações em apenas um dia. O processo costumava levar uma semana.

Outro negócio que cresce no ecossistema local de IA é a Superbox, rede de pequenos mercados premium de autoatendimento desenvolvida para condomínios horizontais de classes A e B. A empresa surgiu em 2020 ao perceber que, mesmo com o crescimento econômico do Estado, os goianienses ainda preservam costumes interioranos e preferem morar em casas.

Goiânia tem um dos mercados imobiliários mais aquecidos do país. Dados do Índice FipeZAP mostram que o preço dos imóveis no município avançou 9,45% em 12 meses, até fevereiro deste ano, acima da inflação oficial no país no período (5,06%).

As 40 unidades da Superbox variam de 15 a 40 metros quadrados e vão de produtos básicos a carnes de primeira linha e vinhos selecionados por sommeliers. Há pontos pequenos, como geladeiras com bebidas saudáveis próximo às academias ou alcoólicas ao lado da piscina. 

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