Rafael, um ano de ausência

Por Ricardo Essinger*

O falecimento do empresário pernambucano Rafael Coelho, há um ano, ainda impacta sobre nós que fazemos a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco – FIEPE, entidade da qual ele era vice-presidente e colaborador. Quando o convidamos para ocupar o cargo, ele aceitou, apesar das muitas dificuldades que sua nova agenda certamente impunha. Teria que se deslocar de Petrolina, base dos seus negócios, ao menos uma vez por mês, e conviver ainda menos com a família e com sua indústria.

Como em outras oportunidades, Rafael aceitou o desafio. Faria tudo o que estivesse ao seu alcance para colaborar com o desenvolvimento de sua região e do nosso Estado. Determinação, trabalho e conhecimento – valores que aprendeu cedo – não lhe faltavam. Rafael estava no auge de sua produtividade, no apogeu da vida.

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Quando Rafael nasceu, Petrolina – e todo o imenso Sertão nordestino – ainda mantinha a imagem que corria o mundo, mostrando as terras secas, o gado faminto, pele e osso. Caveiras não sepultadas retratavam a face mais cruel da região. Ele sabia que precisaria ampliar seus horizontes, estudar, trabalhar, desenvolver seu talento e colher os frutos do esforço das gerações anteriores, para que sua Petrolina, seu Sertão, jamais revivesse aquelas cenas de pobreza absoluta, refletidas no gado.

Buscou o novo, a modernização, ampliando a empresa familiar de curtimento e outras preparações de couro – o Curtume Moderno. Sob sua gestão, a indústria se tornou uma das principais exportadoras do País. Melhorias nos processos produtivos levaram a sua empresa a conquistar a principal certificação ambiental para fabricantes de couro – o LWG (Leather Working Group), que reconhece as melhores práticas de produção no setor.

Quando, em 2022, foi homenageado na FIEPE com a entrega da Medalha da Ordem do Mérito Industrial – a mais alta comenda da indústria brasileira, concedida pela Confederação Nacional da Indústria – estávamos também reconhecendo o papel que desempenhava na formação de novas lideranças e na renovação dos quadros dirigentes da nossa entidade. Rafael Coelho era a pessoa certa: antenado com as preocupações ambientais, com o consumo responsável e com a biodiversidade da sua região, ele também integrou o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco – guardiã do desenvolvimento sustentável, do setor produtivo aliado ao consumo responsável dos recursos oferecidos pelo Rio São Francisco.

Líder nato, herdeiro de uma família que serviu ao país por meio de nomes como Nilo Coelho, Oswaldo, Augusto (seu pai), dona Josefa (a icônica avó sempre lembrada), Fernando e outros descendentes. A mesma visão empresarial e bom relacionamento com empresários do setor levaram Rafael à presidência do Sindicato das Indústrias do Curtimento de Couros e Peles e de Malas e Artigos de Viagem do Estado de Pernambuco – o Sindicouro-PE.

A oportunidade de levar a experiência adquirida para todo o segmento foi determinante. Dedicou-se à capacitação do empresariado local e à defesa da indústria do setor, conseguindo a sanção do Programa de Incentivo Fiscal para a Indústria Calçadista e Coureira. Voz ativa do Sertão pernambucano, Rafael passou a integrar a diretoria da FIEPE em 2008, como diretor adjunto por dois mandatos e, depois, como vice-presidente por mais oito anos. Foi um dos responsáveis pela implantação da sede da Federação na unidade de Petrolina, em 2014. Em 2020, assumiu a 1ª vice-presidência da FIEPE, exercendo por algumas vezes o cargo de presidente em exercício.

Ao lembrar de toda essa trajetória do sertanejo Rafael Coelho, vemos hoje a imensidão dessa perda. A ausência do companheiro proativo, sensato, ético, preparado, sempre pronto a colaborar com a FIEPE – nosso primeiro vice-presidente, presente e atuante – é sentida por todos. Vamos guardar sua memória entre os melhores dirigentes da FIEPE. E, para homenageá-lo, iremos inaugurar a Escola de Referência do Sesi em Petrolina com o seu nome, sugestão que obteve a aprovação unânime do nosso Conselho.

De Rafael Coelho, além da bem-sucedida trajetória, da dedicação à família e das preocupações com a educação, fica o exemplo. Nesta Petrolina de tantos bons exemplos, Rafael não é apenas mais um. É exemplo dos melhores pernambucanos.

*Ex-presidente da FIEPE e vice-presidente da CNI

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