PF prende envolvidos em fraude de R$ 2 bilhões no Caixa Tem

Desde o lançamento do Caixa Tem, em 2020, o aplicativo do governo federal, projetado para pagar o auxílio emergencial e outros benefícios sociais, se tornou alvo de um dos maiores golpes financeiros registrados nos últimos anos.

A Polícia Federal está investigando uma organização criminosa que, entre 2020 e 2025, conseguiu desviar R$ 2 bilhões utilizando dados de beneficiários de programas sociais. Os criminosos agem com a colaboração de funcionários da Caixa Econômica Federal e de lotéricas, acessando ilegalmente contas no aplicativo e realizando saques fraudulentos.

A mecânica do golpe é a seguinte: os criminosos obtêm dados pessoais dos beneficiários, como CPF, informações bancárias e dados dos programas sociais, para então contatar funcionários da Caixa e de lotéricas, oferecendo propinas em troca de acesso a essas informações confidenciais. Uma vez com os dados em mãos, os golpistas invadem as contas no Caixa Tem, se passando pelos próprios beneficiários, e desviam os valores.

Essa fraude ocorre de forma silenciosa e muitas vezes as vítimas só percebem o que aconteceu quando tentam acessar o aplicativo ou realizar transações. A recuperação do dinheiro roubado não é simples: as vítimas precisam iniciar um processo de contestação na Caixa Econômica Federal, o que pode levar meses.

O Caso de Keny Alcalde

Keny Alcalde, 39, foi uma das pessoas afetadas por esse esquema. Ela conta que teve seu auxílio emergencial roubado em junho de 2020, antes mesmo de criar sua conta no Caixa Tem. “Quando tentei acessar pela primeira vez o aplicativo, o sistema disse que o meu CPF já estava cadastrado. Fiquei completamente perdida, nunca havia usado o app”, relata Keny à Folha de São Paulo.

Após isso, ela procurou a Caixa e iniciou um processo de contestação, mas a resposta foi demorada. “Fui em várias agências e vi que a fila estava cheia de pessoas com o mesmo problema. O processo foi longo e, até a segunda contestação, fiquei meses sem o auxílio, atrasando contas e sofrendo com o estresse da situação”, lembra

Em 15 de abril deste ano, a Polícia Federal deflagrou uma operação contra a organização criminosa responsável pelo golpe. Com 23 mandados de busca e apreensão cumpridos em cidades do Rio de Janeiro, a PF apreendeu celulares, notebooks e documentos que podem ser fundamentais para esclarecer a dimensão do crime.

Foram identificados 16 investigados, que podem ser acusados de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, furto qualificado e inserção de dados falsos em sistemas. As penas para esses crimes podem ultrapassar 40 anos de prisão, caso os acusados sejam condenados.

De acordo com a PF, a investigação está em andamento, com a coleta de provas e a análise de dados técnicos para identificar todos os envolvidos no esquema. Este é um passo importante para desmantelar o golpe, que afeta não apenas as finanças públicas, mas também a confiança dos cidadãos nos sistemas digitais de pagamento de benefícios sociais.

A Caixa Econômica Federal e as medidas de segurança

A Caixa Econômica Federal se manifestou sobre as investigações, reiterando que vem tomando medidas para reforçar a segurança de seus produtos e serviços. Em uma nota, o banco afirmou que monitora constantemente o uso de suas plataformas, como o Caixa Tem, e que coopera com os órgãos de segurança pública para combater fraudes. Além disso, a Caixa garantiu que, quando um cliente identifica uma movimentação suspeita, ele pode abrir um processo de contestação diretamente nas agências do banco, sendo que as solicitações são analisadas individualmente. Caso a fraude seja confirmada, o banco realiza o ressarcimento dos valores.

A Caixa também aproveitou para reforçar as orientações de segurança, indicando que os usuários devem estar atentos a qualquer atividade suspeita em suas contas e denunciar rapidamente à instituição.

O Golpe do Caixa Tem revela uma falha no sistema de segurança digital do banco e levanta questões sobre a vulnerabilidade dos dados dos cidadãos brasileiros. No entanto, também expõe como as redes de corrupção podem se infiltrar em setores públicos essenciais, prejudicando aqueles que mais precisam de apoio. O impacto do golpe é devastador para as vítimas, que enfrentam não apenas o roubo dos seus benefícios, mas também a lentidão na resolução de seus problemas.

Apesar das ações da Polícia Federal e das medidas adotadas pela Caixa para prevenir fraudes, a situação levanta uma discussão mais ampla sobre a necessidade de aprimorar a proteção dos dados de beneficiários de programas sociais. A rapidez na implementação de sistemas de segurança mais robustos é crucial para evitar que novos golpes como o do Caixa Tem prejudiquem ainda mais os cidadãos.

Nota da Caixa Econômica Federal

Em relação às investigações e ao combate às fraudes, a Caixa Econômica Federal enviou a seguinte nota:

Sobre a homologação do Pregão Eletrônico para a contratação de serviços de secretariado para atendimento aos órgãos do ColaboraGov, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) reitera que conduz seus processos licitatórios em total conformidade com a legislação vigente. Toda a documentação apresentada pela empresa Esplanada Serviços Terceirizados LTDA foi analisada rigorosamente, com base nos requisitos previstos no edital e na legislação aplicável. Além disso, a Administração adotou todas as cautelas necessárias previamente à homologação, tendo sido verificado cuidadosamente que não há processo administrativo sancionador ou quaisquer outras penalidades ou medidas que impeçam a homologação da licitação em favor da referida empresa. Assim, tendo sido cumpridas pela licitante todas as exigências previstas no Edital, o MGI não poderia adotar decisão contrária ao ritual da contratação, nos termos previstos na lei. A restrição à participação de uma empresa em licitações só pode ser imposta nos casos previstos em lei, tais como quando há sanções administrativas ou penalidades em vigor, nos termos da Lei nº 14.133/2021. Não é este o caso em questão. Ressalte-se que o MGI seguirá acompanhando com a atenção devida, e de forma articulada com os órgãos de controle, a execução contratual em questão, a fim de que seja garantida a eficiência, economicidade e eficácia na prestação dos serviços à administração.

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