Elias Antunes
O romance “Expedição Abissal”, do escritor “bagoiano” Hélverton Baiano, narra a história de uma expedição de alguns professores e cientistas por grutas no interior do Estado de Goiás. A despeito de ser baseado em fato real, ocorrido na década de 1970, a história está trabalhada de maneira ficcional, acrescentando o poder da invenção aos fatos.
Essa proximidade com a realidade dá à narrativa o aspecto da verossimilhança, quando não fica claro onde começa e onde termina a realidade.
Detalhe fundamental deste romance está na questão da linguagem impregnada com palavras regionalistas, mas sem interferir na inteligência da história.
O incidente basilar da narrativa é a perdição dos expedicionários, na jornada caverna adentro. O grupo se perde e há uma certa mobilização para encontrá-lo, antes que seja tarde.
“De difícil entendimento é cabeça de cachorro. Sentimento é mais aprumado. Deságua ou não. Num é que Duíno se mandou pro rumo da gruta de novo, caçar o povo que entrou?” (Hélverton Baiano, página 90).
Hélverton Baiano traz uma atmosfera onde o homem enfrenta seus limites, levando o leitor a participar da trama, entregue ao mergulho abissal dentro de si mesmo.
Não se sai impune do outro lado da caverna. Será que existe um fim, uma luz no fim do túnel para as mazelas humanas?
Para esclarecimentos quanto ao entendimento das frases e palavras regionalistas, o livro traz um glossário em seu final, muito enriquecedor.
Perpassa, também, a questão dos relacionamentos humanos, do amor e do encontrar-se perdido, bem como da interação com os animais.
O romance tem um desfecho inesperado, mais ainda para aqueles que conhecem a história do caso.
Sem fazer alusões, lembra o célebre livro “Os Exploradores de Caverna”, uma ficção proposta, lida e relida pelos estudantes do curso de Direito em que está em jogo não só as leis, mas algo bem mais profundo: a ética, a moral e Deus.
Hélverton Baiano já figurava entre os bons poetas goianos e brasileiros, agora, com esse “Expedição Abissal”, surge com relevância dentro da criação romanesca.
Elias Antunes é escritor e crítico literário.
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