Diretor do Quaest diz esquerda e direita vão disputar 10% dos eleitores que decidem o jogo

Felipe Nunes, do instituto Quaest, concedeu entrevista ao repórter Thiago Prado, de “O Globo” (quarta-feira, 23), que merece ser repercutida, tal a qualidade das ideias expostas. Pode-se discordar do que diz, mas seus argumentos precisam ser debatidos, e da maneira o mais aberta possível.

Governo apostam na “gratidão” do eleitor. Pois, de acordo com Felipe Nunes, o eleitor patropi, agora na adolescência, “está mais crítico, mais exigente, mais aborrecido. O que o governo precisa entender é: tudo que ele faz não é mais do que uma simples obrigação para o eleitor”. Um recado direto para o presidente Lula da Silva, do PT.

Lula da Silva: falta esperança em seu governo | Foto: Agência Brasil

As pesquisas da Quaest “mostram”, assinala Felipe Nunes, “que 70% dos eleitores não têm medo de perder qualquer benefício social independentemente do governo que estiver em curso”.

O desafio maior, neste momento, é outro: “Convencer as pessoas de que o Brasil está no caminho certo. Hoje, a nossa pesquisa mostra que 56% acham que estamos na direção errada”. O brasileiro não está conseguindo comer nem ovo quanto mais picanha, anota o pesquisador.

Um dos equívocos do governo de Lula da Silva é que, a despeito de se pensar que gere o país com o Centrão, é dirigido, nas pastas chaves, pelo PT. Felipe Nunes sugere que um governo mais aberto, incorporando forças novas, como a deputada Tabata Amaral, pode soar, para os eleitores, como um sopro de renovação. No momento, é mais do mesmo.

Tabata Amaral: seria um sopro de renovação no governo Lula da Silva | Foto: Reprodução

Bolsonarismo contra petismo: polarização

Para a disputa de 2026, Felipe Nunes aposta que será o bolsonarismo, direita, contra o petismo, esquerda. Sem terceira via.

“Vai vencer quem tiver menos rejeição em um grupo de pessoas específico: aqueles que votaram em Lula em 2022 e estão descontentes com o governo. São os liberais sociais, pessoas que antes votavam no PSDB e foram com o PT apenas naquele ano. Estamos falando de apenas 10% do eleitorado em disputa”, sublinha Felipe Nunes.

Aí está o ponto forte da entrevista: 10% dos eleitores podem decidir a disputa presidencial de 2026.

Frise-se que, em 2022, Jair Bolsonaro (PL) perdeu por muito menos de 10%. A eleição foi disputadíssima, com o Nordeste fazendo a diferença pró-Lula.

Felipe Nunes não nota este diferencial, que, possivelmente, não era composto de eleitores que votavam no tucanato. Talvez seja o eleitorado flutuante de quase todas as eleições, que, em cima da hora, muda de lado, às vezes surpreendendo cientistas políticos e pesquisadores.

Ronaldo Caiado: o governador que fortaleceu a segurança em Goiás | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A disputa de 2026 se dará em torno de Lula da Silva e, mesmo que não seja candidato, Bolsonaro. “O desenho será o mesmo: os mais pobres e os de esquerda votarão no candidato petista, os mais ricos e de direita, no antipetista.”

Lula da Silva está tentando se aproximar dos evangélicos, a partir dos laços com alguns deputados. Mas Felipe Nunes avalia que o presidente pode fazer “o que fizer”, mas “o PT vai perder entre os evangélicos. Esse público não está em disputa”.

Felipe Nunes sustenta que “o jogo estará nos chamados swing woters de quatro lugares: eleitores das cidades de São Paulo, Salvador e Rio e do Estado de Minas Gerais. Basicamente, aí estão os tais 10%. Quem conseguir esse desiludido vencerá”.

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, permanece indeciso | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O dirigente da Quaest ressalta, porém, que as pesquisas mostram “o eleitor dizendo que não vai votar em ninguém”. Lula da Silva não vai bem, mas não há, do ponto de vista do eleitorado, outra alternativa. Por quê? Os eleitores ainda não conhecem os pré-candidatos. Por isso todos estão nas redes sociais para se exibiram. Quem não fizer isto pode acabar ficando fora do jogo. Porque a campanha, a dos possíveis presidenciáveis, já começou.

Segurança pública: grande tema da eleição de 2026

Talvez, de todos os pré-candidatos, Romeu Zema, do Novo, seja o menos “presente”, ao lado de Ratinho Júnior, do PSD. Os governadores Ronaldo Caiado, do União Brasil, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos, são os mais ativos nas redes sociais.

O gestor de São Paulo conta com o empenho direto do bolsonarismo, onipresente em todas as redes. O discurso do gestor goiano, notadamente sobre segurança pública, começa a atrair o interesse dos brasileiros.

As pesquisas da Quaest indicam que “a violência” é “a maior preocupação dos brasileiros”. “O problema é a sensação geral de que a polícia prende e a Justiça solta.”

Romeu Zema, governador de Minas Gerais: provinciano | Foto: Divulgação

De acordo com Felipe Nunes, “o eleitor entende cada vez mais que a violência se profissionalizou e que, agora, estamos tratando de uma questão nacional. Que se resolve na elaboração de leis mais rígidas em Brasília. Segurança será um grande tema da eleição de 2026, e os candidatos serão cobrados por uma agenda mais dura”.

Felipe Nunes postula que Ronaldo Caiado “é um bom nome” para presidente da República. Mas não faz a observação crucial: o governador ganhou a aprovação de 86% dos goianos por causa de sua política de segurança rigorosa. Portanto, ao ser declarado candidato, com abertura para expor o que fez para combater o crime organizado, sua musculatura eleitoral tende a crescer em todo o país.

A política de segurança, baseada em rigor e Inteligência, que está dando mais certo no Brasil é a de Goiás. Por isso, com a divulgação maciça do que tem sido feito, há a possibilidade de Ronaldo Caiado crescer nas pesquisas de intenção de voto.

O fato de o União Brasil e o pP terem se federalizado, criando uma força substancial, pode ser fundamental para alavancar a candidatura de Ronaldo Caiado a presidente.

Ratinho Júnior: circunscrito ao Paraná | Foto: Marcelo Andrade

Desconexão do PIB com a economia real

Felipe Nunes faz um comentário pertinente. O Brasil está crescendo, o PIB vai relativamente bem. Porém, há uma sensação de que as coisas não vão bem, sobretudo depois de uma visita ao supermercado.

Há, aponta o pesquisador, uma “desconexão da economia do PIB com a economia real. Cada vez mais ganham importância as pesquisas que captam o sentimento das pessoas sobre a economia do que propriamente os índices como IPCA, Caged, e outros em que o governo comemora bons resultados. Vivemos em um mundo em que a percepção é afetada não só pelo preço das coisas e pela renda das pessoas”.

Há uma tendência de se atribuir um peso muito forte às fake News, que seriam capazes de influenciar os indivíduos em larga escala. Não é o que pensa Felipe Nunes.

“Fake News hoje em dia não mudam a opinião de ninguém. Elas só confirmam a informação de quem já pensa de determinada forma. Depois disso, a pessoa vai para o embate público com mais vontade ainda de dizer que está certa. É um instrumento muito maior de mobilização do que de convencimento”, pontua Felipe Nunes.

Eduardo Bolsonaro: o deputado não é agregador | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil

“O Globo” colheu também as análises de dois outros pesquisadores, Renato Meirelles, do Locomotiva, e Maurício Moura, do Ideia. O primeiro aposta que “Lula da Silva é favorito para vencer” o pleito em 2026, daqui a um ano e cinco meses. O segundo aposta que o petista-chefe é “favorito para perder”.

Noutras palavras, o jogo está aberto tanto para Lula da Silva quanto para Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior (precisa ser mais brasileiro e menos paranaense), Romeu Zema (precisa ser menos provinciano) e Eduardo Bolsonaro (seu principal problema: não é agregador).

Campanhas eleitorais são permanentes

A esquerda está perdendo terreno no campo da visibilidade nos períodos não eleitorais.

Fora do tempo eleitoral, a direita continua com alta visibilidade, mas a esquerda não. A conclusão é de Paulo Nicolli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em entrevista as repórteres Matheus de Souza e Samuel Lima, de “O Globo”.

“Hoje, com as redes sociais, as campanhas não se dão apenas no período das eleições, são permanentes. Os políticos de direita conseguem expor mais a sua imagem e seu discurso apelativo e carismático para os eleitores”, assinala Paulo Nicolli Ramirez.

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