Guerra tarifária de Trump abala economia dos EUA e gera revolta em 12 Estados

O impacto da guerra comercial iniciada por Donald Trump começa a aparecer com mais nitidez nos indicadores econômicos dos Estados Unidos. Dados divulgados pela S&P Global mostram que o PMI Composto – um dos principais termômetros da atividade econômica – caiu de 53,5 para 51,2 pontos entre março e abril, o menor nível em 16 meses. Embora ainda acima do ponto de inflexão dos 50 pontos, o índice sinaliza para um crescimento cada vez mais tímido da economia americana.

“O PMI ainda não aponta contração, mas sim uma desaceleração preocupante”, explica Felipe Uchida, sócio da Equus Capital. Ele destaca que a escalada tarifária promovida pela Casa Branca gerou um ciclo de alta de custos, retração nas exportações e deterioração da confiança do empresariado – especialmente no setor de serviços, responsável por cerca de 70% do PIB dos EUA.

Serviços em alerta e confiança em queda

O PMI de Serviços caiu de 54,4 para 51,4 no mesmo período, com destaque para o recuo na confiança dos empresários. Segundo a S&P Global, o otimismo em relação aos próximos 12 meses atingiu o menor nível desde o início da pandemia de covid-19. Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, “o protecionismo pretendia fortalecer a indústria, mas acabou gerando incerteza, encarecendo a produção e afugentando investidores”.

Esse ambiente volátil se reflete também nos preços: bens e serviços subiram no maior ritmo em mais de um ano, com destaque para os produtos manufaturados – diretamente impactados pelas tarifas impostas a países como China, México e Canadá.

Estados se rebelam: processo na Justiça contra Trump

A resposta política ao cenário econômico veio nesta quarta-feira (23), quando 12 Estados norte-americanos protocolaram uma ação conjunta contra o governo Trump no Tribunal de Comércio Internacional, em Nova York. A acusação: abuso da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional para impor tarifas sem a devida autorização do Congresso.

Liderados por procuradores-gerais de Estados como Arizona, Nova York e Connecticut, os autores do processo alegam que as tarifas causaram “instabilidade econômica sem precedentes”, afetando empresas, empregos e famílias. “O esquema tarifário de Trump é insano, economicamente irresponsável e ilegal”, disparou Kris Mayes, do Arizona. William Tong, de Connecticut, chamou as tarifas de “um imposto disfarçado sobre os americanos”.

Varejo em suspense: consumo antecipado e negócios paralisados

As tensões tarifárias também bagunçaram o consumo e o planejamento no setor varejista. As vendas subiram 1,4% em março, mas, segundo o Departamento de Comércio, o motivo seria a antecipação das compras para evitar os aumentos de preços. “O setor está operando no escuro. Os fornecedores estão perdidos com tanta instabilidade”, diz Lee Peterson, vice-presidente da WD Partners.

Grandes redes como Walmart, Target e Home Depot se reuniram com Trump no início da semana para discutir a situação. A Target, uma das mais afetadas, acumula queda de 32% em suas ações em 2025. “Os investidores estão receosos. Todos estão adiando planos de expansão ou novos investimentos”, relata Peterson.

Reações internacionais e tendências de adaptação

Além da pressão interna, o governo Trump enfrenta críticas externas. O Ministério do Comércio da China voltou a pedir a suspensão das tarifas, classificando-as como “ameaças e coerção”.

Enquanto isso, o setor varejista tenta se adaptar. Algumas redes estão apostando na rotatividade rápida de estoques e na economia circular, com foco em produtos usados. “Esse mercado vai explodir, principalmente se os problemas nas cadeias de suprimentos persistirem”, aposta Peterson.

Caminho incerto para a economia americana

À medida que o cenário se desenrola, uma coisa parece cada vez mais evidente: as tarifas que deveriam proteger a economia americana podem estar se tornando seu calcanhar de aquiles. O risco de estagflação – crescimento fraco com inflação alta – volta ao radar dos analistas. E a contestação judicial de uma dúzia de Estados revela um país cada vez mais dividido quanto à condução de sua política econômica.

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