Ministro das Relações Exteriores disse que governo brasileiro concedeu asilo à ex-primeira dama do Peru por questões humanitárias


Nadine Heredia foi condenada a quinze anos de prisão pela Justiça peruana por lavagem de dinheiro em um caso envolvendo a construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor). O processo é um desdobramento da Operação Lava Jato. Ela e o filho menor de idade chegaram ao Brasil em voo da FAB na quarta (16). Ex-primeira dama do Peru está asilada no Brasil
Reprodução/TV Globo
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse nesta sexta-feira (18) que o governo brasileiro concedeu asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, motivado por questões humanitárias.
Nadine foi condenada a quinze anos de prisão pela Justiça peruana por lavagem de dinheiro. Mauro Vieira afirmou em entrevista ao “Estúdio I”, da GloboNews, que a concessão do asilo seguiu a lei e questões humanitárias. Nadine Heredia, segundo o chanceler, estaria com problemas de saúde e acompanhada de um filho de catorze anos que ficaria desprotegido, já que o pai, o ex-presidente Ollanta Humala, está preso.
Nadine e o filho chegaram a Brasília na quarta-feira (16), em um voo da FAB, depois de uma solicitação ao governo Lula a um salvo-conduto à ex-primeira-dama.
“Foi a única forma em que havia de retirá-la com segurança e rapidez do país com a concordância do governo peruano. Isso tem que ficar muito claro. E não havia possibilidade que ela viajasse por terra, por mar ou mesmo por avião comercial. E o interesse era de retirar de lá o mais curto passo possível. Por isso foi feito por um avião da Força Aérea Brasileira”, disse Mauro Vieira.
Mauro Vieira explicou o motivo do Brasil receber a ex-primeira dama do Peru
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Nadine e o marido foram condenados pela justiça peruana a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, em um caso envolvendo a construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor). O processo é um desdobramento da Operação Lava Jato. O casal alega perseguição política e pode recorrer da decisão.
No “Estúdio i”, a jornalista Andréia Sadi perguntou a Mauro Vieira: “O senhor falou questões humanitárias, questões de saúde, foi isso que o governo brasileiro avaliou. Mas todo condenado por corrupção que tiver questões de saúde e pedir asilo a gente vai conceder?”
Mauro Vieira: “Não. Olha, são especulações, especulações a gente tem que examinar casos concretos. Esse caso concreto foi com base nisso, o marido, ex-presidente Humala, se entregou. Ele, aliás, estava no momento do encerramento, pelas notícias que eu recebi, do processo e foi imediatamente encaminhado à reclusão. E a questão específica, volto a repetir, foi com base em questões humanitárias não só da saúde dela e da recente cirurgia de caráter sério, grave, mas também do filho menor de idade.”
Questionado sobre a rapidez no caso, Mauro Vieira disse que se trata de uma “figura política”.

“É uma ex-primeira-dama, uma figura política, porque foi, inclusive, fundadora do Partido Nacional Peruano. E é totalmente diferente. Tem que ser examinado caso a caso.”
O ministro disse também que comunicou o presidente Lula da concessão do asilo diplomático. O governo brasileiro ainda precisa reconhecer ou não a condição de refugiados da ex-primeira-dama e do filho.
O vice-líder da oposição na Câmara, Ubiratan Sanderson, do PL, pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar a legalidade do asilo.
A colunista de “O Globo” Malu Gaspar, autora do livro sobre a Odebrecht e a Lava Jato chamado “A Organização”, lembrou que, em 2011, investigações apontaram que Ollanta Humala e Nadine Heredia receberam dinheiro da Odebretch como apoio na campanha à presidência.
Malu Gaspar: “Lula, então pede para os Odebrecht darem dinheiro para a campanha do Humala. O Jorge Barata, que era esse chefe da Odebrecht no local, negocia isso e começa a passar dinheiro para eles primeiro pelo departamento de operações estruturadas via depósitos mesmo na conta dela. Mas chega uma hora em que ela diz para ele que precisa do dinheiro lá mesmo no local, precisa do dinheiro em espécie.”
Malu Gaspar apurou também que o ex-diretor da Odebrecht passou a entregar dinheiro de propina a Nadine em um apartamento da campanha de Humala na capital peruana.
Malu Gaspar: “Ele recebia o dinheiro do Brasil, botava na mochila e ia com o dinheiro até um apartamento que não era bem a cada deles. Era um apartamento usado para realizar encontros de campanha em um bairro de classe média. Muito simples, sem muita mobília. Ele chegava lá, ela o recebia, pegava o dinheiro e colocava no armário. E segundo o que eu apurei, foram algumas visitas desse tipo em que ele levava coisa de US$ 200 mil, US$ 300 mil para entregar para ela.”
A Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou que “não procede a informação de que o presidente Lula teria pedido a Odebrecht para repassar dinheiro para a campanha de Humala conforme se pode depreender dos debates estabelecidos do assunto no STF. E não pode o governo brasileiro, evidentemente, reinaugurar um tema que já correta e superado pelo nosso sistema de Justiça”.
A defesa da ex-primeira dama disse que “as condenações do ex-presidente peruano e da esposa, lastreadas numa única delação, carecem de provas, e que como foram em primeira instância, são passíveis de reversão”. A defesa disse ainda que o casal não foi condenado por corrupção, mas por um suposto ilícito eleitoral. E que todos para o asilo foram preenchidos após a expedição regular de salvo conduto expedido pelo governo do Peru, e que a prisão, além de arbitrária, ignora a condição de saúde frágil de Nadine e a necessidade dela de cuidar de um filho menor de idade.

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