Em cena: ‘Vale Tudo’ pode expor ideologia política da TV Globo  

A novela “Vale Tudo”, sucesso nos anos 1980, retorna à televisão em um Brasil muito diferente daquele em que foi originalmente exibida. Agora, o principal produto de dramaturgia da TV Globo será transmitido em novo horário, por volta das 21h20, e também estará disponível na plataforma de streaming Globoplay. Com a estreia marcada para esta segunda-feira, 31, a nova versão da trama adaptada por Manuela Dias promete revisitar a crítica social que marcou a produção original.

A obra original, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, foi um marco da teledramaturgia ao expor a corrupção e os privilégios da elite brasileira. Em entrevista à Veja, Ana Paula Gonçalves, pesquisadora da PUC-Rio e autora do livro “O Brasil mostra a sua cara: Vale Tudo, a telenovela que escancarou a elite e a corrupção brasileira”, e Lucas Martins Neia, roteirista e pesquisador da USP, analisaram os desafios da TV Globo ao reviver um enredo tão emblemático.

Para Ana Paula, a maior dificuldade será atrair tanto os espectadores que assistiram à novela na época e esperam rever os personagens quanto um novo público, acostumado a narrativas e formatos distintos. “O grande desafio da nova versão vai ser conquistar o público, seja o público novo ou o público que está saudoso para rever os personagens. Essa novela que escancarou a elite e a corrupção. Isso já estava escancarado no jornal, mas é diferente levar para a TV. Vale Tudo tirou um pouco das notícias de corrupção empresarial e política do jornal e levou para as telas. De uma maneira, que para a época, não tinha metáfora. Misturava muito a ficção com a realidade”, avalia a pesquisadora.

O retorno da novela ocorre em um momento no qual a televisão busca se reinventar e se consolidar em meio à forte concorrência das plataformas de streaming. Para Lucas Martins Neia, a decisão da emissora de apostar na nostalgia é uma estratégia para reconquistar a audiência e rejuvenescer a trama sem perder sua essência. “É um resgate em um momento que a televisão tenta se firmar por meio da nostalgia, pensando nessas produções que fizeram sucesso no passado. Existe essa busca por um público que acompanhou essa trama, tem isso no imaginário; e um novo público, pensando nas adaptações que vão ser feitas”, explica o pesquisador.

A adaptação da novela para os dias atuais exigiu algumas mudanças na narrativa. Um dos exemplos mais evidentes está no cenário profissional da protagonista, que, na versão original, era editora de uma revista impressa e, agora, estará à frente de uma agência de conteúdo digital. Segundo Neia, essa atualização reflete as transformações do mercado da comunicação, mas há outra questão que pode se tornar um desafio maior: a forma como a política será abordada.

“Foram feitas algumas adaptações para o novo contexto que a gente vive. O fato da revista agora ser uma agência de conteúdo digital, são estratégias interessantes… Mas fico me perguntando sobre como a política vai ser tratada. Principalmente com notícias de que a própria Globo está pensando em como tratar, justamente porque ela tem que lidar com esse público que é muito mais amplo, em um país que está dividido no aspecto político”, pondera o pesquisador.

A novela original, exibida entre 1988 e 1989, destacou-se por sua abordagem direta sobre corrupção, ética e justiça social, temas que continuam relevantes no Brasil atual. No entanto, o cenário político mudou desde então. Na época, a trama era uma crítica contundente à sociedade brasileira, mas sem o grau de polarização ideológica que marca o país hoje. Diante disso, a TV Globo precisará equilibrar o tom da novela para evitar controvérsias e, ao mesmo tempo, manter a essência da história que conquistou o público.

Outro fator que pode impactar a recepção da nova versão de Vale Tudo é o comportamento do público. Com o avanço das redes sociais e das plataformas de streaming, os espectadores passaram a consumir conteúdos de maneira diferente, muitas vezes em maratonas e sem a mesma fidelidade à grade televisiva tradicional. Esse novo hábito de consumo representa um desafio adicional para a Globo, que aposta na força do Globoplay para ampliar o alcance da produção.

Para os fãs da versão original, a novela pode despertar a nostalgia e reacender debates sobre a sociedade brasileira. Já para os mais jovens, a trama pode servir como uma introdução à teledramaturgia clássica, agora adaptada a um contexto mais contemporâneo.

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