Com problemas estruturais, ponte Affonso Penna preocupa moradores e deve ser reformada

Construída entre 1908 e 1909, a ponte Affonso Penna, que liga Itumbiara, em Goiás, a Araporã, em Minas Gerais, sofre com problemas estruturais e preocupa moradores e usuários. A estrutura de mais de 115 anos foi essencial para o desenvolvimento econômico de Itumbiara, além de ser um ponto estratégico para o transporte de gado e produtos agrícolas por décadas.

A deterioração da ponte, que é tombada Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foi agravada em 2017, quando um caminhão com carga superior à capacidade máxima tentou cruzar a ponte, abalando a estrutura. A ponte pênsil, de 140 metros de comprimento e 35 metros altura, tem capacidade de 12 toneladas, fazendo com que apenas veículos de pequeno e médio possam cruzá-la.

A travessia irregular do caminhão e o embocamento na ponte, danificando a grade lateral do local, causou a interdição momentânea da estrutura. Porém, a liberação sem grandes reformas e o uso constante da estrutura preocupa autoridades. No início de março, o deputado estadual Gugu Nader (Avante) afirmou que a ponte poderia voltar a ser interditada.

“O MPF queria interditar a ponte de imediato, dado o risco de algum acidente grave. Pedi a união de todos para restaurar a ponte, que, além de ser um patrimônio histórico, interliga a população de duas cidades, que, mesmo pertencendo a Estados diferentes, são ‘irmãs’ e mantêm contato. Fui atrás do senador Vanderlan Cardoso (PSD) e ele me disse que a Codevasf tem recursos para modernizar e reformar a ponte”, relatou Gugu Nader.

Além da grade lateral e dos pilares de sustentação, a massa asfáltica da ponte também apresenta rachaduras em diversos pontos, causando insegurança a motoristas que cruzam a estrutura diariamente.

Asfalto da Ponte Affonso Penna, em Itumbiara. | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ao Jornal Opção, o mototaxista Cleibe Sales, que utiliza a ponte diariamente, revelou sua preocupação com a estrutura do local. “Transitamos diariamente por aqui e vemos o perigo que é. Caminhonetes cruzam e prejudicam ainda mais a estrutura, então ficamos preocupados com a segurança. Precisamos de uma reforma urgente por conta desse perigo de desabamento”, afirmou.

Cleibe Sales | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Reforma

A necessidade de reforma ficou mais evidente após o incidente de 2017. Com isso, o IPHAN, que tombou a ponte em 2012, entrou em ação para garantir a manutenção da Ponte Affonso Penna. Porém, as gestões de Itumbiara e Araporã, que compartilham a administração da ponte, não tomaram providências imediatas.

Para o engenheiro João Mariano Valadares Neto, especialista do IPHAN, a situação atual da ponte preocupa e uma reforma é necessária para evitar uma tragédia maior. “Observamos problemas de corrosão, gradio estragado, vemos algumas peças da pista de rolamento quebradas e deficiências no concreto. Então a ponte acaba perdendo sua capacidade de carga e, no momento, só podem atravessar carros pequenos, e a situação continua, causando preocupação já que esses fatores podem se juntar e acabar causando uma tragédia”, disse.

O IPHAN chegou a enviar uma denúncia à Procuradoria-Federal para que exista uma ação na Justiça obrigando as prefeituras de Itumbiara e Araporã a reformarem a ponte. “Nesta quinta tivemos uma reunião com o prefeito de Itumbiara que nos apresentou o processo licitatório, que iremos analisar. Precisamos ter certeza que esse processo cumpra todos os quesitos necessários para a manutenção completa da ponte”, diz João.

Outro ponto que preocupa é o atual controle de tráfego da estrutura, que é feito de forma manual em ambos os lados, com conexão por rádio entre os trabalhadores. “Isso é até um fator de risco, já que essas pessoas podem sofrer alguma coisa e ali fica sem um controle de tráfego, fazendo com que algum veículo irregular cruze e acabe causando mais danos a ponte. Seria necessário um controle mais rígido”, afirma.

“Esperamos que a estrutura seja recuperada não apenas por se tratar de um patrimônio histórico, mas também pois caso haja uma tragédia, vidas humanas seriam perdidas, o que precisa ser evitado. Por ora, acredito que seja necessário medidas para limitar quais veículos podem cruzar a ponte, além da automatização do processo de cruzamento, já que a pista só tem uma faixa”, completa.

Carro cruzando a ponte Affonso Penna. | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

De acordo com o secretário de Finanças de Itumbiara, Gilson Almeida Teixeira, uma licitação para a reforma da ponte pênsil já está em tramitação e que, no início de maio, empresas interessadas já poderão apresentar suas propostas.

“Empresas contactadas demonstraram interesse em participar da concorrência. A licitação para a reforma da ponte já estava previsto no orçamento deste ano, além de termos o convênio intermunicipal, onde Itumbiara e Araporã dividirão o valor da reforma de igualmente”, afirmou Gilson em entrevista ao Jornal Opção.

O secretário explica que empresas interessadas poderão apresentar seus lances no dia 8 de maio deste ano. “Após essa data a licitação seguirá o trâmite normal, com prazos para possíveis impugnações e recursos judiciais, o que pode demorar até 60 dias e, após isso, a reforma deve começar. O fato da ponte ser tombada pelo IPHAN atrasa um pouco o processo pela necessidade de autorizações para fazer a reforma conseguindo manter a estrutura reconhecida historicamente”, continuou.

O processo licitatório começou em agosto de 2023, quando especialista da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) fizeram um estudo técnico da ponte. Desde a data, segundo o secretário, a prefeitura de Itumbiara, que ficou responsável pelo processo licitatório no convênio intermunicipal, vem cuidando dos trâmites necessários para a reforma da ponte. Esse convênio chegou a vencer em 2024, sendo renovado até 2026, que é quando a prefeitura acredita que a reforma da ponte seja finalizada.

“A empresa vencedora da licitação será aquela que atingir os critérios necessários para fazer a reforma da ponte. Quando a UFU fez a consultoria da estrutura, a universidade nos passou um relatório que constava a estimativa de valor para a reforma, mas esse valor pode ser maior com a licitação. Itumbiara está se preparando para suportar os investimentos e, além disso, buscar recursos do Estado e da União para ajudar na reforma que é importante para essa ponte histórica”, completou.

História da ponte

Ao Jornal Opção o historiador Sidney Pereira de Almeira Neto, especialista na história de Itumbiara, explicou que a ponte marcou o início da história do município, sendo inaugurada na emancipação do município, que antes era distrito de Morrinhos, causando uma grande festa em sua inauguração.

Sidney Pereira de Almeira Neto. | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“A ponte pênsil veio da Alemanha de navio em 200 caixotes, indo até Uberlândia de trem e depois finalmente chegando em Itumbiara em 50 carros de boi. A ponte trouxe o progresso a Itumbiara e foi de suma importância para o desenvolvimento do Sul de Goiás e do estado como um todo. Ela foi o ponto de entrada para o desenvolvimento de nosso estado”, disse.

A ponte, construída entre 1908 e 1909 já passou por algumas reformas. A mais importante delas foi feita pela administração de Furnas, que a moveu dois quilômetros acima do Rio Paranaíba, tanto que ainda existem as bases de concreto no estreito da cidade.

“A estrutura mudou de local para se tornar travessia para obras de construção da barragem e, em 1992, ela passou a ser mantida pela prefeitura de Itumbiara, que fez a primeira iluminação da ponte. Em 1992 ela passou a ser cartão postal da cidade e, em 2005, um promotor de Justiça pediu o tombamento da ponte e, em 29 de novembro de 2012, foi aceito pelo IPHAN”, afirma o historiador.

“O tombamento foi algo histórico pois permitiu uma fiscalização mais intensa das condições da ponte que é a mais importante para o desenvolvimento de Itumbiara. Se Itumbiara é o que é hoje é por conta da ponte Affonso Penna”, completou.

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