Alta dos juros já estava “contratada” pela gestão Campos Neto, diz Haddad

Ao programa “Bom Dia, Ministro” da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou nesta quinta-feira (20) que o aumento da taxa básica de juros, a Taxa Selic, para 14,25% ao ano já estava “contratada” pela gestão do antigo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Com isso, o novo presidente do banco, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, não poderia dar um “cavalo de pau” nos juros, ou seja, fazer uma mudança brusca que comprometa a economia. Da mesma maneira ainda afirmou ter herdado uma herança complicada do ex-ministro de Bolsonaro para a Economia, Paulo Guedes.

“Este aumento estava contratado pela última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do ano passado. Na última reunião de dezembro, sob a presidência do antigo presidente do Banco Central, que vou lembrar, foi nomeado pelo Bolsonaro e ficou dois anos além do mandato dele, se contratou, como dizem, três aumentos bastante pesados na Selic. Você não pode, na presidência do Banco Central, dar um cavalo de pau depois que assumiu. Isso é uma coisa muito delicada. O novo presidente, com os novos diretores têm uma herança a administrar mais ou menos como eu tive uma herança a administrar em relação ao Paulo Guedes”, criticou Haddad.

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“Não foi fácil manter o país funcionando depois de 2022, em que foi feito um estrago nas contas públicas brasileiras para garantir o resultado eleitoral. Imagine, os estados estão reclamando de um governo [Lula] que só repassa recurso e chegaram a ter 40 bilhões de reais tomados dos seus cofres para baixar, durante o período da eleição, o preço da gasolina, que chegava a 10 reais o litro em algumas localidades do Brasil. O Bolsonaro, no desespero, pegou o dinheiro dos governadores e repassou para a bomba para diminuir o preço. Você imagina o que foi administrar essa loucura? Aqueles auxílios todos que eram dados na véspera de eleição, para taxista, caminhoneiro, que também era um dinheiro que foi pago ali na boca de urna praticamente. Como é que administra isso? O consignado da Caixa Econômica Federal, para quem recebia auxílio emergencial, foram 11 bilhões de reais de rombo. Tudo isso teve que ser administrado”, revelou o ministro da Fazenda.

Mesmo com as dificuldades, Haddad revela ter colocado ordem no que disse ser um período de quase dois anos de “transição” e que a sua pasta tem um marco fiscal a cumprir, assim como o Banco Central deve alcançar as suas metas.

“Aprovamos no final do ano passado um ajuste fiscal importante, temos um marco fiscal que está sendo cumprido contra as projeções feitas por vários analistas. Vamos esse ano cumprir os nossos compromissos de meta e o Banco Central tem a meta de inflação para cumprir também. Assim como eu tenho a meta fiscal para cumprir, que é aprovada pelo Congresso Nacional, o Banco Central tem a meta de inflação para cumprir, que é estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional”, disse.

Consignado

Sobre a nova proposta, em forma de Medida Provisória, que amplia a concessão de crédito no país com juros mais baixos para 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada, Haddad diz que é justamente porque os juros estão altos, fixados pelo Banco Central independente, é que o Executivo federal tem “que tomar medidas para proteger o trabalhador”.

Dessa forma, o chamado “Crédito do Trabalhador”, segundo o ministro, permite que os celetistas consigam aquilo que já é direito do aposentado e do servidor público.

“O juro subiu para 14,25% ao ano, o que eu considero uma taxa elevada, todos consideram. Só que o trabalhador, que vai a um banco hoje sem garantia e pede um crédito pessoal, está pagando entre 5% e 6% ao mês. O banco capta um pouquinho mais do que 14,25% ao ano, porque tem que pagar um pouco a mais para captar, vamos supor que pague 15% ao ano, 16% ao ano, e empresta para o trabalhador no crédito pessoal a 6% ao mês. Então em três meses o trabalhador pagou todo o juro que o banco está pagando para captar e, no entanto, o banco tem os outros nove meses para receber o juro do trabalhador”, observa.

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Ao detalhar os benefícios do programa, Haddad pede que as pessoas que já possuem crédito pessoal falem com o gerente de sua conta, assim como o de outros bancos (existe a possibilidade de portabilidade da dívida), para comparar com a nova taxa reduzida propiciada pela ação do governo federal com o programa de crédito consignado: “Você pode se surpreender positivamente com a resposta. Essa taxa de juros pode cair muito a depender de por quanto tempo você está empregado, em que setor da economia está empregado. Você pode eventualmente ter uma redução muito expressiva da taxa de juros, o que vai impactar na prestação paga para quitar esse empréstimo. Então, apesar do aumento da Selic, nós estamos abrindo um caminho para permitir a renegociação de dívidas a taxas mais civilizadas”, finaliza o ministro.

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