Documentos da CIA revelam preocupação com crise política no Brasil dos anos 1960

Após assumir o cargo em 2024, o ex-presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva determinando a desclassificação de milhares de documentos relacionados às mortes de John F. Kennedy (JFK), Robert F. Kennedy e Martin Luther King Jr. Entre os registros liberados, alguns destacam a influência e preocupação de países como China e Cuba com as crises políticas no Brasil nos anos 1960.

Brasil citado: oferta de ajuda de Mao e Fidel a Leonel Brizola

Um dos documentos da CIA, datado de agosto de 1961, relata que Mao Tsé-Tung, então líder do Partido Comunista da China, e Fidel Castro, primeiro-ministro de Cuba, ofereceram suporte ao então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Na época, Brizola liderava esforços para garantir a sucessão de João Goulart na presidência após a renúncia de Jânio Quadros.

Segundo o arquivo, a oferta incluía materiais, voluntários e apoio financeiro. No entanto, Brizola recusou a proposta, temendo retaliações dos Estados Unidos. A CIA destacou que o governador “obviamente estava com medo de que, se aceitasse as ofertas, os EUA pudessem intervir”.

O documento também aponta que apenas a oferta de Fidel foi noticiada pela imprensa brasileira na época, enquanto a de Mao passou despercebida.

Cuba e a “operação de propaganda” no Brasil

Outro registro, de julho de 1964, detalha supostas atividades subversivas conduzidas por Cuba na América Latina, com foco especial no Brasil. O arquivo afirma que Havana via o país como um possível local para criar uma “segunda Cuba” e financiava grupos pró-comunistas antes do golpe militar de 1964.

De acordo com o documento, a embaixada cubana no Rio de Janeiro serviu como base para essas operações. Além de fornecer fundos e treinamento guerrilheiro, Cuba teria mantido uma robusta “operação de propaganda”, liderada pelo escritório local da agência Prensa Latina. O embaixador cubano teria declarado reservadamente que Brizola era visto como uma figura promissora para iniciar uma revolução no Brasil.

A queda de João Goulart é descrita no documento como uma “derrota severa” para os interesses cubanos na região.


Conselheiros de Kennedy planejavam intervenção no Brasil

Um memorando confidencial revela que conselheiros do presidente John F. Kennedy discutiram a possibilidade de apoiar um golpe militar no Brasil antes mesmo da instauração da ditadura em 1964. O consultor de inteligência estrangeira Robert Murphy expressou preocupação com a postura de João Goulart, acusado de manter ligações com comunistas.

Murphy questionou por que o Departamento de Estado continuava a fornecer assistência econômica ao Brasil, dado o contexto político. Ele e outros membros do governo americano acreditavam que um golpe poderia ser preferível a permitir que um país tão grande quanto o Brasil caísse sob influência comunista.

Richard Helms, então vice-diretor da CIA, registrou que a agência estava em contato com lideranças militares oposicionistas a Jango, sugerindo que já havia articulações em andamento.

Investimentos da CIA no Brasil durante a Guerra Fria

Os registros também mostram que, em 1961, o Brasil foi o segundo maior receptor de recursos da CIA, ficando atrás apenas de Cuba. Quase US$ 1,5 milhão foram investidos em operações no país — uma cifra significativa para a época.

Esse financiamento fazia parte dos esforços americanos para conter o avanço do comunismo na América Latina durante a Guerra Fria. A prioridade era evitar que movimentos alinhados a Havana ou Pequim ganhassem força em países estratégicos como o Brasil.

Golpe de 1964 e legado da Ditadura Militar

João Goulart foi deposto em 31 de março de 1964, dando início a um regime militar que duraria mais de duas décadas. Historiadores destacam que a instabilidade política do período atraiu a atenção de potências globais, incluindo EUA, China e Cuba, cada qual com seus próprios interesses ideológicos.

Os documentos recentemente divulgados lançam nova luz sobre essa fase turbulenta da história brasileira, evidenciando como o Brasil esteve no centro de disputas internacionais durante a Guerra Fria. Para pesquisadores, o material reforça a importância de analisar o contexto global ao estudar eventos nacionais.

Com a divulgação desses arquivos, fica evidente o papel ativo de países como EUA, China e Cuba em momentos cruciais da política brasileira. Embora muitas questões permaneçam sem respostas definitivas, os documentos ajudam a compreender melhor as complexas redes de influência que moldaram o Brasil nas décadas de 1960 e 1970.

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