Contramedidas mostram que a China vai lutar

A reação da China às medidas protecionistas de Trump, que aplicou uma nova tarifa de 10% às importações da China sobre os 10% que já haviam sido aplicados no mês passado sobre as já elevadas tarifas que as exportações chinesas pagam para entrar no mercado americano mostra que os chineses não vão aceitar passivamente as medidas protecionistas dos Estados Unidos contra sua economia.

Em reação ao anúncio de novas tarifas contra as exportações chinesas, a China reagiu impondo tarifas extras de 15% sobre carne de frango, trigo, milho e algodão e 10% sobre sorgo, soja, carne de porco, carne bovina, frutos do mar, vegetais e laticínios importados dos Estados Unidos. Essas medidas entraram em vigor no dia 10 de março.

Além disso, o governo chinês colocou 15 empresas americanas na lista de controle de exportação, o que na prática impede que empresas chinesas exportem para essas empresas produtos de uso dual (militar e civil).  Entre elas está a Skydio, fabricante de drones e a star-up de Inteligência Artificial Shield AI, que fabrica sistemas de IA para drones. Além disso, a China incluiu 10 empresas americanas na lista de “empresas não-confiáveis”, o que as proíbe de importar ou exportar na China e fazer novos investimentos no país. Também proibiu a empresa de biotecnologia americana Ilumina de exportar sequenciamento de genes para a China. No total, 25 empresas norte-americanas, todas na área de alta tecnologia, foram afetadas.

Diferentemente de 2018, quando a China foi pega de surpresa pela guerra comercial de Trump, hoje a China está muito melhor preparada para enfrentar o protecionismo americano. Postagem na mídia social da Embaixada Chinesa nos EUA de que a China afirma estar pronta para uma guerra tarifária, uma guerra comercial ou qualquer outro tipo de guerra com os EUA.

Desde que Trump iniciou a guerra comercial contra a China em 2018, durante o seu primeiro mandato, a China tomou inúmeras medidas para reforçar e proteger sua economia, tanto reforçando seu mercado interno, quanto diversificando sua rede de parceiros comerciais em todo o mundo e reorientando seus investimentos diretos no exterior para países e regiões com disposição de reforçar seus laços de cooperação.

A própria investida generalizada dos Estados Unidos, tanto contra países que considera inimigos dos EUA, como a China, quanto contra velhos aliados, como o México, Canadá, Brasil, Coreia do Sul, Índia e União Europeia, dentre outros, acaba por criar um ambiente internacional no qual a China com seu imenso mercado de 1,4 bilhão de habitantes surge como alternativa natural aos Estados Unidos como destino de suas exportações.  Ao mesmo tempo, para a China, esses mesmos países alienados pelos Estados Unidos surgem como alternativa para as exportações e o investimento direto chinês.

Inicialmente prejudicada pelas medidas tomadas nos governos Trump-Biden-Trump visando cortar o acesso da China aos semicondutores de última geração e aos equipamentos para produzi-los a China conseguiu, como é da sua tradição, transformar ameaças em oportunidades, dando um enorme salto tecnológico na área. O lançamento do software de inteligência artificial DeepSeek, rivalizando com seus congêneres muito mais caros dos Estados Unidos, é um exemplo, mas não o único, de como os chineses, por meio de um esforço descomunal, conseguem superar barreiras aparentemente intransponíveis.

Matéria recente do Wall Street Journal (11/2/20225) destaca os recentes avanços da China na área de alta tecnologia. De acordo com o WSJ, “Um dia na China poderia facilmente começar assim: saia da cama e deslize as mensagens do WeChat em seu smartphone Huawei. Entre em um carro elétrico BYD e dirija até a estação ferroviária, onde um trem de alta velocidade de uma fábrica estatal leva você ao seu destino. Usinas nucleares, fazendas solares e turbinas eólicas projetadas pela China alimentam as luzes da cidade. A China está correndo para se tornar menos dependente dos produtos e tecnologia do mundo exterior – parte de um esforço de um ano do líder Xi Jinping para tornar a China mais autossuficiente e impermeável à pressão ocidental à medida em que as tensões com os EUA aumentam. Pequim despejou centenas de bilhões de dólares em indústrias favorecidas especialmente na manufatura de ponta, enquanto exorta os líderes empresariais a se alinharem com as prioridades do governo. De muitas maneiras, o esforço está sendo bem-sucedido. Em vez de depender de empresas estrangeiras para robôs e dispositivos médicos, a China agora está fazendo mais por conta própria. Os painéis solares fabricados na China estão substituindo parte da necessidade do país de energia importada. O sucesso dos fabricantes de veículos elétricos da China e da DeepSeek, iniciante em inteligência artificial, gerou temores de que a China possa até eclipsar o Ocidente em alguns setores de ponta.” Como se observa no gráfico abaixo, o saldo comercial da China em áreas de tecnologia de ponta cresce a cada ano.

Fonte: Wall Street Journal (11/2/2025).

Como destacou matéria do Estadão (16/02/2025), “A China construiu uma rede de portos ao redor do mundo nos últimos 20 anos que a preparou para uma competição comercial com os EUA, que ganha cada vez mais tração em meio à guerra tarifária iniciada pelo presidente americano Donald Trump. A infraestrutura está espalhada em cinco continentes e se tornou pilar do comércio mundial. Enquanto a Casa Branca adota uma política cada vez mais protecionista com as tarifas”. Ainda segundo a matéria, “Em 2020, a China se tornou a maior parceira comercial de 120 países, incluindo o Brasil, e no ano passado o superávit comercial atingiu o recorde de US$ 990 bilhões (cerca de R$ 5,7 trilhões). Cerca de 95% desse comércio foi feito por rotas marítimas. Em diversos discursos nos últimos cinco anos, o líder chinês, Xi Jinping, falou sobre a expansão do comércio exterior como necessária para o crescimento econômico – na visão dele, tanto da China quanto de outros países Pequim vai na contra mão e busca expandir mercados.”

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