Conservadores e esquerdistas precisam de coalização para barrar avanço da extrema direita na Alemanha

Apesar da vitória dos conservadores da CDU/CSU, bloco formado pela União Democrata-Cristã e pela União Social-Cristã, ainda será necessário um governo de coalizão na Alemanha. Direitistas e esquerdistas precisarão se unir para barrar o avanço da extrema-direita do AfD (Alternativa para a Alemanha). Existe a expectativa de que sete partidos façam parte da coligação para formar um governo.

Com 10,3 milhões de votos, o AfD ficou em segundo lugar nas eleições e conquistou 152 cadeiras no Bundestag. Enquanto o bloco conservador obteve 28% dos votos, com pouco mais de 14,1 milhões, além de 208 cadeiras. Os esquerdistas do SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha), sigla do atual chanceler Olaf Scholz, ficaram em terceiro lugar, com 120 cadeiras e cerca de 8,1 milhões de votos, enquanto o Die Grünen (Partido Verde Alemão) obteve 85 cadeiras e mais de 5,5 milhões de votos.

Ou seja, para que Friedrich Merz, líder conservador que deve ser o próximo chanceler da Alemanha, possa governar, ele precisa de 50% do parlamento ou 369 das 736 cadeiras. Portanto, conservadores e esquerdistas precisarão se unir diante da ameaça crescente da extrema-direita. Caso o bloco de Merz, o partido de Scholz e o Partido Verde se juntem, a composição formaria a maioria no Bundestag.

No noticiário estrangeiro, Mertz espera conseguir construir a composição de governo até o feriado da Páscoa, em abril.

O inimigo do meu inimigo é…

Qualquer composição contra o avanço de extremistas precisa levar em conta a famosa frase “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Conservadores e esquerdistas precisam deixar as diferenças de lado para combater o crescimento da extrema-direita. Por exemplo, caso o AfD chegue ao poder, isso poderia significar que a Alemanha abandone a Ucrânia na guerra contra a Rússia, já que o partido é contra o envio de armas, se opõe às sanções e adota um posicionamento pró-Rússia.

Independente das ideias de esquerda ou direita, abandonar a Ucrânia é autorizar o projeto expansionista russo em direção a Europa. Se um dia era a Ucrânia, no próximo pode ser a Polônia e um dia os russos chegam na Alemanha.

Basicamente, abandonar os ucranianos entra no poema “No caminho, com Maiakosvki”, de Eduardo Alves da Costa, em referência ao poeta russo Vladimir Maiakosvki. Se você deixa a Rússia invadir a Ucrânia sem se posicionar, eles vão fazer o mesmo com a Polônia e outros países até chegar nas casas das famílias alemãs.

“Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho e nossa casa,

rouba-nos a luz e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.”

Futuro polarizado

Apesar de a AfD ter obtido menos votos do que o esperado, alguns dados ainda são preocupantes no país. Por exemplo, em mapas de resultados, a extrema-direita teve mais sucesso na região que antes era a Alemanha Oriental, dominada pela União Soviética até a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989.

A região leste da Alemanha é mais resistente a políticas liberais e progressistas devido ao seu passado soviético, ao contrário do oeste, a Alemanha Ocidental, mais alinhada à democracia pluralista e ao liberalismo. Por isso, partidos com discursos mais nacionalistas tendem a ter maior sucesso na região, lembrando que muitos moradores ainda possuem resistência ao “Ocidentalismo” devido ao legado socialista e à propaganda soviética.

Outro dado alarmante é que mais de 50% dos jovens da Alemanha votaram em partidos mais extremistas, como o AfD, pela extrema direita (21%), além do Die Linke (A Esquerda) e da Aliança Sahra Wagenknecht, pela extrema esquerda, com 33% somados. A expectativa na Alemanha é um cenário cada vez mais polarizado nos próximos anos.

Ascenção da extrema direita

Como citado anteriormente, o AfD ficou em segundo lugar nas eleições deste ano, alcançando seu maior desempenho eleitoral da história. Fundado em 2013, o partido subiu de 810 mil votos para mais de 10 milhões em pouco mais de uma década. 

A situação na Alemanha segue um padrão observado mundialmente desde a nova eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Semelhante aos alemães, os franceses precisaram de uma coalizão de moderados para barrar o partido Rassemblement National, de Marine Le Pen, no ano passado. Da mesma forma, a vitória de Giorgia Meloni como primeira-ministra da Itália em 2022, pelo Fratelli d’Italia, partido de extrema direita, reflete essa tendência global.

Em 2026, o Brasil também enfrentará o mesmo desafio das nações citadas durante as eleições presidenciais. A ascensão da extrema direita no Brasil tem gerado preocupações sobre a saúde democrática e a estabilidade política do país. Isso não se aplica apenas aos pleitos para presidente e governadores, mas, principalmente, a todas as esferas do Legislativo.

O post Conservadores e esquerdistas precisam de coalização para barrar avanço da extrema direita na Alemanha apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.