Elias Jabbour diz que Trump busca administrar pelo caos a decadência dos EUA

No programa Entrelinhas Vermelhas desta quinta-feira (20), apresentado por Guiomar Prates e Inácio Carvalho, o economista Elias Jabbour foi o convidado para discutir os primeiros meses do governo Donald Trump e o contraponto que a China poderia representar no xadrez global. Jabbour, especialista em China e ex-assessor da presidenta do Banco dos BRICS, Dilma Rousseff, apresentou uma análise crítica sobre o impacto das primeiras medidas de Trump e suas implicações na geopolítica mundial.

Assista a íntegra da entrevista:

Trump e o “caos sistêmico”

Questionado sobre os primeiros trinta dias do mandato de Trump, Jabbour afirmou que o ex-presidente norte-americano representa a personificação do que o sociólogo Giovanni Arrighi denominou de “caos sistêmico”. Para ele, a estratégia de Trump estava centrada na administração da decadência do império americano, adotando uma política de choque para consolidar a supremacia dos EUA, ainda que por meios turbulentos e imprevisíveis.

“O mundo vive o caos sistêmico, e Trump o aprofunda com medidas sucessivas que desestabilizam a economia internacional. Ele sabe que os EUA estão em declínio e busca administrar essa decadência, espalhando terror e promovendo uma nova onda contra-revolucionária, como fez Reagan nos anos 1980”, destacou Jabbour.

O economista também traçou um paralelo entre Trump e o período pós-Guerra Civil dos EUA, argumentando que o governo do republicano repetia padrões históricos de violência política e exclusão social.

Medidas tarifárias e impacto global

Sobre as primeiras medidas econômicas de Trump, Jabbour destacou a imposição de tarifas sobre produtos chineses como uma estratégia previsível, mas com desdobramentos significativos. “Os chineses já estavam preparados para isso”, afirmou. No entanto, chamou atenção para a questão do aço, que impactava diretamente regiões do Brasil cujos governadores demonstravam apoio a Trump, como Romeu Zema (MG) e Tarcísio de Freitas (SP).

Outro ponto de destaque foi o tratamento dispensado à Europa. Segundo Jabbour, Trump “colocou a Europa debaixo do ônibus”, ao buscar um acordo direto com Vladimir Putin, excluindo os europeus das negociações sobre a Ucrânia. Para ele, essa postura levou a Alemanha a uma “terceira humilhação nacional”, após o Tratado de Versalhes e a Segunda Guerra Mundial, contribuindo para a desindustrialização do país.

A resposta da China

Diante do vácuo de liderança internacional deixado por Trump, a China desponta como uma força estabilizadora na construção de uma nova ordem mundial. “A China está jogando junto com a Europa para estruturar um mundo multipolar”, afirmou Jabbour, enfatizando o papel estratégico do país asiático na busca por equilíbrio e previsibilidade no sistema internacional.

Para o economista, o momento histórico é complexo e desafiador, mas também oferece oportunidades para novas reflexões sobre o posicionamento do Brasil no tabuleiro global. “Não é um momento divertido, mas é muito interessante para quem quer analisar, fazer teses e sair da caixinha”, concluiu Jabbour.

Com vasta experiência no estudo da economia chinesa, Jabbour destacou a evolução do país asiático e as consequências da política isolacionista norte-americana.

A nova China e o embate geopolítico

Jabbour ressaltou que a China que Trump enfrenta já é muito diferente da de 2017, quando foram impostas as primeiras tarifas comerciais. Segundo ele, as pressões externas aceleraram processos que os chineses esperavam concretizar apenas por volta de 2049. “A China assumiu o perfil low profile após as reformas e queria manter isso até 2050. Mas a decadência acelerada do capitalismo financeirizado encurtou a distância entre China e os países centrais, levando a uma resposta mais rápida do que o previsto”, explicou.

Para Jabbour, Trump não é um líder sem estratégia, mas alguém que percebeu esse cenário e iniciou uma guerra tecnológica contra a China. No entanto, ele considera que Washington não previu a capacidade de resposta do gigante asiático. “Os chineses foram obrigados a se reinventar. A China perdeu metade de seus bilionários nos últimos cinco anos porque Xi Jinping usa essa tensão externa para disciplinar a burguesia nacional e fortalecer o Partido Comunista”, afirmou.

Outro ponto crucial citado pelo economista é o fortalecimento institucional chinês. “A China se preparou com bancos de desenvolvimento de longo prazo, conglomerados públicos e um ecossistema tecnológico imenso. Hoje, depende muito menos das importações de tecnologia dos EUA. As medidas de Trump saíram pela culatra”, acrescentou.

A entrevista revelou um panorama profundo sobre a ascensão da China e a decadência dos EUA, além das disputas estratégicas que moldam o futuro da ordem global. Jabbour destacou que o Brasil poderia se beneficiar desse novo cenário, mas alertou para a falta de um projeto de desenvolvimento nacional que aproveitar essa oportunidade histórica. O debate reforçou a importância de uma análise histórica para compreender as diferenças entre os modelos de potência dos EUA e da China, e como essas dinâmicas afetam diretamente o futuro da política internacional.

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