“Nós temos pobres, mas temos orgulho”: Lula diz que não vai “maquiar” Belém para COP30

O presidente Lula afirmou, nesta quinta-feira, 13, em Belém, que não pretende “enfeitar” a cidade nem “tirar o pobre da rua” para a realização da COP30, que ocorrerá em novembro de 2025. Segundo ele, os visitantes estrangeiros devem ver a realidade da capital paraense como ela é. “Eu quero que eles vejam a nossa Belém do jeito que ela é”, disse Lula. Caso faltem acomodações adequadas, ele sugeriu que os visitantes se adaptem. “Se não tiver hotel cinco estrelas, durma num de quatro. Se não tiver de quatro, durma num de três. Se não tiver de três, durma sob a estrela do céu”, afirmou.

A cidade enfrenta dificuldades para garantir hospedagem aos cerca de 40 mil participantes esperados para o evento. A especulação imobiliária tem elevado os preços dos aluguéis, e muitos imóveis estão sendo retidos para maximizar os lucros durante o evento. Apesar das promessas do governo federal, ainda não há uma plataforma centralizada para regular a oferta de hospedagem e conter a especulação. Lula reforçou que a conferência ocorrerá na cidade independentemente das dificuldades. “Não tem problema que Belém seja do jeito que for. É aqui”, enfatizou.

Antes disso, Lula havia se confundido na quarta-feira, 12, ao dizer que a COP30, evento que reúne líderes mundiais para discutir as mudanças climáticas, será realizada no Amapá. O evento, na realidade, será em Belém, no Pará, em novembro de 2025. “Quando nós decidimos fazer a COP no Amapá, era porque gente queria: parem de falar da Amazônia e venham conhecer”, afirmou Lula. O presidente deu a declaração em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá (AP).

Durante o evento, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o prefeito de Belém, Igor Normando, foram vaiados por parte do público. Houve protestos contra a COP30 e contra a tentativa de extinção de uma fundação escolar, iniciativa do prefeito. A manifestação refletiu a insatisfação de parte da população com a gestão local e com a realização do evento, que muitos temem que não traga benefícios diretos para a cidade.

Lula também destacou o compromisso do Brasil com o meio ambiente, reafirmando a meta de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030. Ele defendeu a redução do uso de combustíveis fósseis, apesar da pressão para explorar petróleo na costa amazônica. “O Brasil é o país com mais energia limpa no mundo”, disse. O presidente ainda criticou a interferência de países estrangeiros nas políticas ambientais brasileiras. “Como um francês, um inglês, um alemão pode dar palpite na nossa floresta? Ela é nossa”, afirmou. Lula argumentou que a preservação da Amazônia é uma responsabilidade do Brasil, mas ressaltou que embaixo de cada árvore há trabalhadores que precisam sobreviver, como indígenas, seringueiros e pescadores.

Para melhorar a infraestrutura da cidade até a COP30, o governo federal anunciou um investimento de R$ 250 milhões do BNDES para obras de macrodrenagem e mais R$ 45 milhões do Fundo Amazônia para combate às queimadas. Além disso, serão estruturados projetos para concessões de parques amazônicos. Lula visitará o Parque da Cidade, que será o espaço central da conferência, e pode sobrevoar outras obras de urbanização em andamento. Belém enfrenta desafios estruturais graves, sendo que cerca de 80% dos moradores não têm acesso à coleta de esgoto, um problema que o governo pretende minimizar até a realização do evento.

COP30

A COP30 será um dos maiores eventos climáticos do mundo e colocará o Brasil no centro das discussões sobre mudanças climáticas. A realização em Belém destaca a importância da Amazônia no debate global, mas também evidencia desafios de infraestrutura e organização que precisarão ser superados até novembro de 2025.

Lula representa uma tentativa de resistência ao negacionismo climático e ao avanço de regimes autoritários, mas sua postura em relação ao meio ambiente revela contradições. Enquanto o governo reforça compromissos internacionais, como o Acordo de Paris e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), também defende a exploração de petróleo na costa amazônica. Esse paradoxo coloca o Brasil em uma posição ambígua: por um lado, busca liderar a transição energética global; por outro, mantém uma dependência de combustíveis fósseis que compromete suas metas ambientais.

A crise climática exige mais do que discursos alinhados com a agenda ambientalista. O planeta não responde a promessas ou declarações políticas, mas a medidas concretas de redução de emissões e preservação de ecossistemas. Países que buscam protagonismo na luta contra as mudanças climáticas precisam avançar em políticas sustentáveis, como o incentivo a energias renováveis, a proteção efetiva de biomas e a regulamentação de setores econômicos poluentes. Manter uma retórica “verde” enquanto se investe na expansão de combustíveis fósseis enfraquece a credibilidade brasileira e mina a confiança internacional no compromisso real do país com o desenvolvimento sustentável.

O Brasil tem um papel crucial na geopolítica ambiental e precisa agir com coerência para consolidar sua liderança climática. Superar disputas narrativas entre progressistas e conservadores não basta se as políticas públicas não forem traduzidas em impactos positivos reais. A COP30 será uma oportunidade para o governo mostrar se há uma estratégia concreta para a sustentabilidade ou se o evento servirá apenas como vitrine política. O tempo para tomar decisões estruturais está se esgotando, e a prioridade deve ser a implementação de ações que garantam a preservação ambiental e a sobrevivência das futuras gerações.

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