Jornalismo não deve se limitar às métricas digitais, e sim educar em alguma medida o seu leitor 

Com o advento da crescente digitalização mundo afora, o jornalismo, assim como tantos outros setores da vida pessoal e profissional, migrou para o ambiente virtual. Nessa transição, os leitores pagantes dos jornais puderam acessar as informações produzidas pelos veículos, muitas vezes, de forma gratuita e essa mudança no paradigma jornalista-leitor apresentou desafios que os profissionais da comunicação ainda lutam para vencer: os limites na busca por audiência. 

Nos últimos anos, o sensacionalismo alçou proporções inéditas e o resultado em audiência faz parecer que a exploração da miséria, do inusitado, do fanatismo e da desgraça alheia é um recurso válido para sustentar empresas de jornalismo. Sem apego à ingenuidade, é preciso entender que veículos de comunicação que dependem de audiência para se sustentar precisam se render em alguma medida ao que dá acessos. Ao mesmo tempo, entretanto, é vital definir um limite para esse tipo de conteúdo e começar, em algum ponto, enquanto profissionais formados em comunicação, a propor novos conteúdos, limitar outros e educar nosso leitor. 

Na última sexta-feira, 7, o motorista de um ônibus conseguiu salvar o veículo que dirigia e os passageiros de uma colisão com um avião em São Paulo. Na ocasião, o homem, visivelmente abalado, tinha dificuldades em responder a repórter que insistia, apesar da condição do motorista após o trauma. Nos comentários da publicação, diversos internautas se chocaram com a falta de empatia e tato, que gerou desrespeito evidente ao homem, que também era uma vítima da situação. O furo jornalístico vale o desrespeito ao estado de choque das fontes? 

A cantora Lexa realizou publicação em seu perfil do Instagram anunciando a morte de sua filha recém-nascida. O que era para ser uma homenagem à menina e um desabafo para os fãs, tomou uma proporção fora do controle da artista quando o assunto caiu na mídia. Imediatamente jornais em todo o país repercutiram a morte da filha de Lexa, e pessoas que nunca acompanharam o trabalho da cantora estão comentando tudo o que querem sobre um dos momentos mais dolorosos da vida da cantora. Quais consequências essa exposição fora do controle poderão trazer? 

Um outro assunto que foi excessivamente midiatizado e que, pouco tempo depois, trouxe problemas para as pessoas envolvidas, foi a separação da cantora Iza de seu companheiro, o jogador de futebol Yuri Lima. Na época em que descobriu a traição, a artista publicou desabafo em seu perfil e jornais de todo o Brasil aproveitaram o engajamento e repercutiram. As acusações que caíram sobre o casal impactaram diretamente a gravidez de Iza e a posterior reconciliação de Iza e Yuri. 

Exemplos não faltam: vídeos sanguinolentos, exposição de vítimas, repetição de conteúdos que viralizaram, publicação de conteúdos menos investigativos, entre outros. Os reflexos da mudança na estrutura produtiva do jornalismo que surgiram graças ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação é algo ainda a ser estudado, seus impactos diversos e ainda não são todos conhecidos.

A partir do ponto em que se identifica, o maior trabalho é a proposição de alternativas. Os veículos não têm muita escolha imediata a não ser produzir algo que sabe que gerará repercussão e visualizações. A partir do momento em que a métrica das redes digitais deixa de ser uma ferramenta e o jornalista passa a ser refém dela, algo precisa ser mudado. O questionamento final é: quais recursos os comunicadores formados possuem para, em alguma medida, educar seus leitores e, consequentemente, mudar os rumos do jornalismo?  

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