Sem pediatras, Maternidade Célia Câmara deixa grávidas sem atendimento

O Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC), em Goiânia, não está recebendo novas demandas espontâneas nesta segunda-feira, 10. Pacientes que procuram atendimento estão sendo orientados a buscar outras unidades de saúde. A equipe do Jornal Opção esteve no hospital para apurar a situação, mas não conseguiu falar com a diretoria da unidade.

O mecânico Gustavo Oliveira Borges, que aguarda a chegada de gêmeos, relatou à reportagem a dificuldade em conseguir atendimento para sua esposa, que está com uma gravidez de risco e realizou todo o acompanhamento no HMMCC. Segundo ele, se o parto precisasse ser realizado hoje, teria que procurar outra unidade.

“Minha esposa já está de oito meses e vai precisar de cesárea, porque é uma gravidez de risco. Fizemos todo o acompanhamento aqui e agora me falaram que, se precisar do parto hoje, não pode ser feito. Eu teria que sair procurando outra maternidade. Eles nem sabem dizer qual está atendendo. Isso é uma irresponsabilidade”, afirmou Gustavo.

Em nota, a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundach) afirmou que os repasses realizados em janeiro foram suficientes para pagamento da folha salarial do mês de dezembro, segunda parcela do 13º, vale-alimentação e férias dos colaboradores das maternidades públicas de Goiânia. “Os salários e os encargos trabalhistas do mês de janeiro somam cerca de R$ 7 milhões”, afirmou a fundação.

Outra família que esteve na unidade também enfrentou dificuldades. Uma mãe, com o filho recém-nascido nos braços, foi até o hospital para registrar a criança, mas foi informada de que deveria procurar um cartório. O HMMCC possui um serviço de registro civil de recém-nascidos, mas ele não está funcionando no momento.

Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A direção do hospital divulgou um comunicado informando que o fechamento para novas internações ocorre devido à interrupção do serviço oferecido pela empresa de pediatria. A nota afirma que ainda não foram encontrados médicos pediatras para manter a assistência.

A Secretaria Municipal de Saúde divulgou através de nota que o repasse de R$11,7 milhões foi feito a Fundach neste mês de Janeiro. Confira a nota na íntegra.

Nota na íntegra saúde

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) informa que realizou o repasse de R$ 11,7 milhões à Fundach no dia 21/01 e que trabalha em conjunto com a fundação para o restabelecimento integral dos serviços das maternidades, a definição de cronograma de pagamento das dívidas deixadas pela gestão anterior e a efetivação do reequilíbrio financeiro dos contratos firmados com a organização.

A SMS ressalta que a atual gestão recebeu a rede de saúde em estado de calamidade estrutural, financeira e operacional. A pasta tem realizado força-tarefa para reavaliação de contratos e convênios, redução de custos e reestruturação de serviços para assegurar assistência de qualidade, de forma ágil e digna aos pacientes de todas as unidades da rede.

O que diz a Fundach

A Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas , responsável pela gestão das 3 maternidades em Goiânia, considerou que o atendimento de porta ficou restrito pela insuficiência do quadro de plantonistas da pediatria de sábado para domingo, mas retornou às 19h do próprio domingo.

O Jornal Opção também questionou como foi feita esse mapeamento de escolha do prestador de serviço e qual seria a previsão de encontrar os profissionais pediatras para suprir as demandas de trabalho de parto.

“A empresa prestadora do serviço de neonatologia é responsável por encaminhar os profissionais à unidade. Com a suspensão temporária do serviço no último domingo, a segunda empresa colocada no processo de contratação foi chamada, mas não conseguiu assumir de imediato. Após reunião entre a empresa que já prestava o serviço e a Fundahc/UFG, o serviço foi restabelecido”, ressaltou em nota.

Histórico de crise

A Prefeitura de Goiânia estuda reduzir o número de maternidades para melhorar a eficiência da rede de saúde. Em um recente acordo entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), o valor do contrato mensal será reduzido em 40%, passando de R$ 20,5 milhões para R$ 12,3 milhões. No entanto, ainda não há uma decisão clara sobre o fechamento ou reconfiguração de uma das três maternidades existentes.

Profissionais da saúde, incluindo técnicos da SMS, apontam que seria possível operar a rede com duas maternidades. A Célia Câmara, a mais cara, tem um custo de R$ 10 milhões por mês, que será reduzido para R$ 4,1 milhões. Além disso, recebe R$ 77,8 milhões anuais do governo federal. Embora a SMS não considere o fechamento da unidade, a possibilidade de ampliar os serviços para outras especialidades está sendo discutida.

A Maternidade Dona Iris, que também realiza atendimentos de alto risco, terá o repasse reduzido de R$ 7,6 milhões para R$ 6,2 milhões, tornando-se a segunda mais impactada. A Maternidade Nascer Cidadão, com o custo mais baixo, verá uma diminuição de R$ 2,9 milhões para R$ 1,9 milhão. Mudanças nesta unidade podem gerar resistência devido à sua importância para a comunidade local.

As alterações mais significativas incluem a suspensão dos atendimentos eletivos nas maternidades Célia Câmara e Dona Iris, que continuarão a atender urgências e emergências. O corte nos gastos é uma medida necessária devido à dívida de cerca de R$ 200 milhões acumulada pela SMS.

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